Encontro fugaz

 

Em cada despertar há surpresas
De céus cinzentos escondendo o sol
De supremos encontros aprazados
Plenos de singulares cumplicidades
Com rugidos surdos de desconfiança
Residentes na profundeza dos tempos,
De intenções convertidos em ganhos
E adocicados por palavras enfáticas
Numa acústica de sino sem badalo,
De vibrantes ressonâncias subliminares
Entre calorosos sentimentos evasivos,
E do flácido e dúbio aperto de mão
Acorrentado pela serpente mitológica
Nele enroscada como catecismo de fé
Da nova cabala profética e apocalíptica.

Tenta o mundo livre adivinhar
O que este secreto enredo lhe trará
A partir da sagaz sanha imperialista
Liderada por neuróticos ou psicopatas
Acobertados por um recíproco cinismo
Vigente no cerne de visões sinistras
Alumiadas pela trágica luz do engodo
E vendidas em oratórias a uma paz
Assente em princípios não perfilhados
E nela vão tecendo ocultos acordos
Misturando oportunismo e interesses
Para gáudio da sua grandiosa pequenez
E deixando a liberdade na contingência
De poder vir a ser devorada num ápice
Pela avidez desta disputa hegemónica
Cantada à glória de um Deus sem lei.

Março 2023

 

 

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