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Sobe essa escada,
devagar
e tenta ver em cada degrau
a sombra da tua imagem
que vem até ti na leveza dum ai;
limpa o suor do rosto, bagas de dor,
pérolas de ti nunca esquecidas
na sombra do teu medo
projetado no alvo duma vaidade
onde escondes a mediocridade
em hábito de saudade
ou a fuga dum tempo, o teu momento
em que te deixaste morrer sem queixume
na tristeza dum abandono singular
a decrescer para o crepúsculo,
essa morte adivinhada no teu futuro
em modo de desejos inconfessáveis
que teimam em renascer em cada madrugada
dos teus sonhos de menino.
Desce a escada devagar
até veres em cada degrau
o rosto azul dum outro mundo
a sair do labirinto das coisas impostas
pelo destino, fatalidade ou sina.
Veredicto aceite e recusado como remédio
neste permanente fazer e refazer
próprio da nossa instante ambiguidade
capaz de abarcar todo o espaço curvo
dum outro tempo que nunca foi o nosso.
Junho de 2021 |