A UM DEUS AUSENTE

 

A madrugada apareceu com o inverno
Transida de frio e com vento variável
A desfiar receios e medos urbanos
Voando nas folhas mirradas dos choupos
Com os rios a vomitarem procelas
As abelhas no recato do cortiço
E os pássaros acoutados nos beirais.


Avizinham-se horizontes pálidos
Incertezas levedadas na perfídia
De poderes virulentos e satânicos
Redes sinistras, misteriosas, inumanas
Onde a imploração no oráculo abraâmico
– Arco celeste da providência intemporal –
Encontrará a solução transcendental
Capaz de gerar entendimentos sublimes
Mas, eivada de forte pendor profano
Foi convertida em mensagens herméticas
Cheias de vinganças e ódios seculares
Que foram invocadas ao Deus comum
Ausente ou ferido por tanta insensatez
Tardando em despertar da sua letargia
E projectar a luz que alumia o sal da vida
Para então cantarmos como rouxinóis
No ciciar harmonioso das acácias em flor.

Novembro de 2023

 

 

08-11-2023