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O Canto Norte, 1ª ed., Pombal, Quilate, 2008, 52 págs.

FRÁGIL ABRIGO

Escondo-me por detrás de cada mágoa
Acoitando nela as outras mágoas
Como ladrão em fuga,
Como desgraça persistente
A ditar a tristeza no seio da alegria
Enchendo de medos e de cio, a mente
Conturbada, perturbada, confundida
Enovelada por mendicantes preces
Enraizadas num passado remoto
Tendo de há muito cruzado
O ponto de não retorno.

Escondo-me por detrás de cada fraga
Abrigando-me, aí, na dura rocha,
Ciente da fragilidade do meu esconderijo,
Porque, quanto mais m' escondo
Mais me exponho ao tormento e à sanha
De virtuais perseguições, aniquiladoras, e
Vou retomando o ciclo, sem qualquer pudor,
Caminho que foi, de há muito, iniciado
Mas que me parece ser infindo.

Sem essa certeza, vou indo,
Pois há a probabilidade
De poder vir a saber, de certeza certa,
Como tudo começa,
Onde e como tudo acaba.

 

 
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