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1ª edição, Aveiro, Edição do Clube dos Galitos, 1960, páginas 57 a 61.


Hóquei em Patins

 

Como quase não podia deixar de ser, foi à mesa de um café que nasceu a Secção de Hóquei em Patins.

Com efeito, é hábito antigo dos aveirenses, hoje mesmo tradição enraizada na maioria, a formação de «tertúlias» que se reúnem em horas e locais certos dos cafés preferidos para, em amena cavaqueira, se falar de tudo e de todos, ou de nada, se discutirem e «resolverem» desde os altos problemas da política internacional aos «escandalozinhos» da cidade, se lançarem ideias e concretizarem realizações.


Em 1950, já lá vão dez anos, estava na moda o Hóquei em Patins, modalidade em que os portugueses davam cartas, conquistando títulos sobre títulos; estes eram festejados com um entusiasmo delirante, talvez porque no campo desportivo internacional não tivéssemos outros motivos para desfraldar bandeiras, talvez porque se encontrasse uma certa afinidade entre “stik” e a pá de Aljubarrota...

O certo é que numa dessas características «tertúlias» era assunto obrigatório o hóquei, apreciavam-se êxitos a que ninguém assistira, criticavam-se tácticas que todos ignoravam, recordava-se e engrandecia-se a actividade do extinto Hóquei Clube de Aveiro.

Neste ambiente extremamente propício, até pela circunstância de serem jovens na idade ou no espírito os «parceiros» dessa mesa do Arcada, era fatal a pergunta de alguém — «...e por que não fazemos nós ressurgir em Aveiro o hóquei em patins?» — como fatal era a resposta — «vamos a isso!»

/ 58 / Mais depressa do que é possível contar-se, organizou-se um encontro entre «solteiros» e «casados», em que os vencidos se obrigavam a pagar um jantar aos triunfadores. A Académica de Espinho emprestou o material necessário e no ringue do parque, num dos dias das férias da Páscoa desse remoto ano de 1950, as equipas alinharam, saudaram-se e... «bateram-se» como leões! Os «casados», pensando no orçamento e nas responsabilidades familiares, «sonhavam» com o jantar «de borla», e por ele tudo fizeram — «converteram» o árbitro à sua causa, apresentaram um «regimento» de jogadores, «abusaram» do físico, etc., etc.. Os «solteiros» resistiram heroicamente, e depois de pensados os ferimentos recebidos na «batalha», comeram com o maior apetite as iguarias que os «outros» haviam mandado preparar, convencidos que não lhes saia da bolsa...

E foi assim que surgiu a Secção de Hóquei em Patins do Clube dos Galitos, pois os trabalhos subsequentes mais não foram que a consolidação da ideia em marcha.

Os «velhos» tinham cumprido o seu dever, agora aos «novos» competia «arregaçar as mangas» e caminhar, e foi o que fizeram.

Silvério Borges de Sousa, Augusto Vieira Decrook, Joaquim Félix, António Ferreira, Mário Gaioso Henriques, João Carlos Aleluia, Artur Batista Beirão, Jorge e Fernando Corte-Real e Luís Alberto Casimiro lançaram-se ao trabalho com decidida vontade e nenhum obstáculo houve que os fizesse parar, porque sabiam o que queriam e para onde iam. A eles e à colaboração prestada pelo Coronel Amílcar Gamelas, José Mortágua, Manuel Félix, António Cunha, Primo Pacheco, José Maria Monteiro, Manuel Sarmento Morais, Dr. Francisco Lourenço, João Melo Freitas, Eng.º António Gaioso, José Luís Soares, Américo Teixeira, Dr. João Gaioso, Dr. Mário de Melo Freitas e José Laranjeira, deve a Secção de Hóquei a sua existência e inestimáveis serviços.

Não cabe no âmbito deste bosquejo a história detalhada da actividade de dez anos de esforços e canseiras, de êxitos e desilusões, de vitórias — algumas — e derrotas — bastantes.

/ 59 / Limitemo-nos, pois, a assinalar os principais factos destes dois lustros da Secção:

Em 1 de Outubro de 1950 realizou-se o primeiro jogo formal, com a Académica de Espinho, que venceu por 12-1. A equipa do Clube dos Galitos alinhou com: Dr. F. Lourenço, J. Mortágua, Dr. Mário Gaioso, Cap. A. Osório, Fernando Corte-Real e Cap. S. Mano.

Em 1952, a Secção, contra toda a expectativa mas com o maior brilho, venceu a Taça de Honra do Centro, com um grupo formado por Silvério, Guimarães, Gaioso, Martins, Corte-Real; Almeida e Ferreira.

Durante algumas épocas, foi esta a equipa-base, que alcançou classificações honrosas, como segundos lugares nos campeonatos regionais e vencedores da taça de honra de 1953, chegando a participar na fase preliminar do Campeonato Nacional desse ano.

Começou entretanto a funcionar uma Escola de jogadores, em que algumas dezenas de miúdos fizeram a sua aprendizagem na modalidade, chegando a constituir-se uma equipa de juniores de relativa categoria, mais tarde desfeita com a saída da cidade dos seus elementos, todos estudantes. Neste trabalho de ensinamento, tão difícil como proveitoso, merece ser posta em relevo a paciência e dedicação de M. Gaioso, M. Martins, Nuno Greno, A. Lobo e J. Pratas sobre quem recaíram ou recaem as responsabilidades da Escola.

Em organizações de certo modo arrojadas, dada a diminuta capacidade para público do ringue que se utiliza, apresentaram-se ao público aveirense equipas nacionais de grande valor, como as do Benfica, S. N. E. C. I., Infante de Sagres, Académico, Belenenses, etc....

Num desporto que exige uma longa e permanente preparação, instalações e material à altura, e porque tudo isto sempre tem faltado, nunca a Secção alcançou triunfos memoráveis, embora nunca tivesse tido também comportamento desprestigiante para o Clube em que se integra. Sem soluções de continuidade ou quebras de vulto, a Secção de Hóquei vai cumprindo, modesta mas dignamente.

/ 60 / A Cidade e os Clubes de Aveiro devem-lhe um serviço pouco conhecido, mas de real interesse — o arranjo do Ringue do Parque e a possibilidade da sua utilização na prática do desporto, até aí vedada, pelo estado de abandono a que se encontrava votado aquele recinto.

Quanto ao Clube dos Galitos, não poderá esquecer que o movimento de renovação operado em 1954 foi iniciativa e obra exclusiva da sua Secção de Hóquei em Patins. Se mais não houvesse, esta seria urna razão bastante para a existência da Secção, um motivo de legítimo orgulho para aqueles que um dia, já recuado no tempo, e à mesa de um café, quiseram que Aveiro voltasse a praticar o hóquei em patins.

M. G.


Uma movimentada fase do jogo Galitos-Torres Novas, de Hóquei em Patins, após a marcação dum dos golos dos aveirenses.


 

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