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1ª edição, Aveiro, Edição do Clube dos Galitos, 1960, página 19 a 22.


O monumento aos aveirenses
que sofreram pela liberdade

é obra do Clube dos Galitos e foi entregue à Câmara Municipal

 
 

EM 6 de Dezembro de 1909, o Clube dos Galitos por deliberação da sua Directoria, resolveu erigir um obelisco à memória dos aveirenses que morreram, sofreram e combateram pela Liberdade, associando-se de tal modo às festas comemorativas do primeiro centenário do nascimento de José Estêvão.

O local escolhido foi a então Praça do Comércio, exactamente onde, em 16 de Maio de 1828, numerosos cidadãos, unindo-se às forças de Caçadores 10, se rebelaram contra o regime absoluto.

A colocação da primeira pedra efectuou-se logo a 19 do mesmo mês, pelas 14 horas, lavrando-se da solenidade o respectivo auto, que foi assinado por muitas dezenas de personalidades, entre as quais os Srs. Dr. Joaquim Simões Peixinho, Governador Civil substituto; José Inácio de Melo Pereira de Vasconcelos, Comandante da Brigada; Gustavo Ferreira Pinto Basto, Presidente da Câmara; Francisco Augusto da Fonseca Regala, Reitor do Liceu; Jaime de Magalhães Lima, Provedor da Santa Casa; Manuel Ferreira Pinto de Sousa, Prior da Vera-Cruz; Padre José Marques de Castilho, Director da Escola de Ensino Normal de Aveiro; Francisco Augusto da Silva Rocha, Director da Escola Industrial; José Francisco Antunes Cabrita, Presidente da Academia; Elisiário Dias Moreira, Presidente da Associação dos Bateleiros; Dr. António Fernandes Duarte Silva, Presidente do Clube Mário Duarte; Manuel Lopes da Silva Guimarães, Presidente do Centro Escolar Republicano; Dr. José Maria Soares, Vice-presidente da Câmara; João Pinto Rachão, Prior da Glória; João Augusto Marques Gomes, da Academia Real das Ciências; Dr. Joaquim de Melo Freitas; / 20 / António Simões Cruz, Redactor do «Aveirense»; Arnaldo Ribeiro, Director do «Democrata»; António A. Duarte Silva, do Clube de Aveiro; Dr. Jaime Duarte Silva, Presidente da Associação Comercial; e Pompeu da Costa Pereira, Presidente do Clube dos Galitos.

O notável historiador João Augusto Marques Gomes, no opúsculo «Aveirenses que sofreram e combateram pela Liberdade — Monumento levantado à sua memória pelo Clube dos Galitos», descreve assim a inauguração do Obelisco;

«Por ocasião da passagem do grande cortejo cívico com que a cidade glorificou a memória de José Estêvão, no dia 26 de Dezembro, 1.º centenário do seu nascimento, pela Praça do Comércio, tendo-se a Câmara Municipal aproximado do monumento, o Sr. Dr. Joaquim de Melo Freitas, descendente em primeiro grau de um daqueles aveirenses a quem o mesmo é consagrado, correu a Bandeira Nacional que encobria as inscrições que nele há e que dizem:

À MEMÓRIA DOS AVEIRENSES QUE SOFRERAM PELA LIBERDADE, NO EXÍLIO, NAS PRISÕES, NA FORCA, NOS COMBATES E NAS REVOLUÇÕES
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INAUGURADO NO 1.º CENTENÁRIO DE JOSÉ ESTÊVÃO
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26 — XII — 1809
26 — XII — 1909
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LEVANTADO PELO «CLUBE DOS GALlTOS»

Uma grande girândola de foguetes anunciou o facto e uma entusiástica salva de palmas saudou a memória dos heróis e a iniciativa do Clube nos Galitos.

«Uma hora depois — escreve ainda o mesmo ilustre historiógrafo —, realizava-se a entrega solene do monumento à Câmara Municipal, que havendo desfilado perante a estátua de José Estêvão veio agora, novamente, ao local para o receber.»

Lido o auto da entrega, ante «multidão imensa», Gustavo Ferreira Pinto Basto, presidente do município, agradeceu em breves palavras a patriótica oferta do Clube dos Galitos. / 21 /

Seguiu-se o Conde de Águeda, Governador Civil e representante do Governo nos memoráveis festejos, que afirmou associar-se «do coração e como filho deste distrito à apoteose do grande tribuno, que não era só uma glória de Aveiro, mas do País inteiro, pois o seu nome era um nome europeu».

E, referindo-se ao monumento acabado de inaugurar, exclamou que «este é o mais eloquente testemunho do amor que os aveirenses desde sempre consagraram à Liberdade, a que uma agremiação já prestimosa e agora benemérita — o Clube dos Galitos — levanta mais aquele altar».

A série dos discursos foi encerrada por Dr. Joaquim de Melo Freitas que, em dado momento, afirmou:

«Entre os festejos do dia, este obelisco, devido ao lápis e ao cinzel de Ernesto Korrodi, avulta, já pelo seu pensamento generoso, já porque se ergue neste local, onde a 16 de Maio de 1828, um núcleo de cidadãos, unindo-se às forças de Caçadores 10, de guarnição nesta cidade, soltaram o grito de revolta e iniciaram esse grande movimento, que dotou o País com as instituições constitucionais!

«Nem o exílio, nem o ergástulo, nem a forca, nem os / 22 / combates, a miséria e as desgraça, detiveram esse punhado de bravos patriotas, que se propunham fundar uma pátria nova, impregnada de luz, de progresso e de amor!»

Marques Gomes, no seu referido trabalho, que, numa desvanecedora homenagem, dedica ao Clube dos Galitos, reproduz todo o discurso do inolvidável orador e polígrafo. Com naturais e lógicas fronteiras, o espaço não consente, como estava no nosso espírito, uma integral transcrição. Mesmo assim, e graças a João Augusto Marques Gomes, de quem sobretudo nos servimos, pudemos, cremo-lo bem, condensar na presente crónica, embora de descolorido jeito, uma das muitas e brilhantes páginas escritas pelo Clube dos Galitos na História de Aveiro.

S.


 

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