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DE todas as sinfonias de Beethoven e muito embora a 3.ª (Heróica), a 6.ª (Pastoral) e a 9.ª (Coral) ocupem lugar destacado na obra do grande compositor, é indubitável que foi a 5.ª sinfonia a que atingiu maior notoriedade, alcançando uma popularidade assinalável e pouco vulgar entre composições iminentemente clássicas, como são as de Beethoven.

Beethoven foi, desde o início da sua revelação como grande compositor, um revoltado contra tudo e todos. Deus não foi tão pródigo em dotá-lo fisicamente como foi em lhe conceder um génio extraordinário e uma alma de artista imortal. O seu desprezo pelos seus semelhantes era tão grande, que são inúmeros os episódios narrados sobre a sua intransigência em curvar cerviz perante qualquer individualidade. São dele as seguintes frases, que expressam de forma categórica o seu sentir para com o mundo: « A felicidade não foi feita para mim, ou melhor, não fui feito para a felicidade.»; « Não vim ao mundo para levar uma vida agradável, mas para realizar uma grande obra.»

Quando a certa altura os críticos caíram impiedosamente sobre ele, pela revolução que estava introduzindo nos velhos cânones da música, afirmou: «De facto, eles estão pasmados e conspiram, porque nunca encontraram o que faço em nenhum livro de baixo contínuo»; e pouco depois, quando o censuravam por em algumas passagens ultrapassar a capacidade dos instrumentos, retorquiu: «Acreditarão acaso que posso pensar num miserável violino, quando converso com o espírito?».

Porém, a época mais magnífica da vida de Beethoven é aquela em que a surdez mais se acentua, fazendo-o descrer de tudo, inclusive da sua própria arte, e levando-a até a encarar a morte de forma inquietante. É então que parece rasgar-se ante os seus olhos um caminho luminoso, cheio de esperança e de fé em Deus.

E Beethoven decide passar a viver como um eremita. A sua vida é a música. Sim, ele continuará a compor, a sua música transmitirá uma / 21 / mensagem de fraternidade aos homens, as suas composições elevar-se-ão, imortalizadas, até Deus. São dessa altura as suas afirmações de que «Só a arte me susteve... esvaziei a taça de amargo sofrimento... este transformar-se-á em beleza dentro da minha alma», «Devo-o o mim próprio, ao género humano e ao Todo Poderoso... Preciso de escrever a minha música, para a Glória Eterna de Deus.»

O génio de Beethoven começa então a atingir plena maturidade e começam a aparecer as suas célebres sinfonias: 3.ª, 4.* e 5.ª.

Nesta última, Beethoven parece estabelecer um Novo Testamento da religião da música -- a história da luta do Homem contra o Destino e da vitória do homem guiado pelo céu. E o poema épico da peregrinação do Homem, do sofrimento para a sabedoria, da sabedoria para a coragem, da coragem para a esperança e desta para a vida eterna, em resumo, a própria história de Beethoven em todas as fases que o seu espírito genial atravessou.

Alguém disse em tempos e algures: «Deus criou o mundo para que fosse possível ouvir a 5.ª sinfonia».

Bibliografia consultada: «A Vida de Grandes Compositores».

 

Dá-nos hoje a honra da sua colaboração a Ex.ma Senhora D. Maria Celeste Salgueiro, através dum soneto intitulado «PRECE AO ANO NOVO». Ao assinalarmos o facto, queremos significar os nossos agradecimentos pela atenção.

 

 

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