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COMO tínhamos anunciado, realizou-se no mês de Janeiro, mais precisamente no dia 27, o segundo jantar de confraternização do pessoal da E. P. A. que teve lugar no Salão de Festas da Fábrica Aleluia, muito gentilmente cedido para o efeito.

Cremos não estar sob a influência de qualquer saudosismo ao afirmar que este jantar não teve a alegria e a animação do que se realizou em Abril de 1961. Muito mais gente, como prevíramos, mas notando-se a falta desse entusiasmo, dessa vibração e espontaneidade que tanto brilho emprestou à reunião do ano passado.

Não queremos dizer, evidentemente, que não houve animação neste jantar. Afinal, ela estava patente aos olhos de todos os presentes. Apenas pretendemos salientar que entre os dois jantares já organizados se verificou superioridade do primeiro em relação ao aspecto que estamos focando.

Para nós, entre outras razões que não interessará aprofundar, parece-nos que um dos motivos que mais contribuiu para tal foi a falta daquela confraternização que houve no ano passado antes do jantar. A caravana de automóveis até à Curia, a permanência no seu aprazível Parque, fazendo horas para o jantar, contribuíram decisivamente, sem dúvida, para o ambiente eufórico que se registou durante e após o repasto, e que se prolongou até de madrugada, com um entusiasmo que nem a mudança de sala a que fomos forçados conseguiu arrefecer.

Agora, desta vez, a reunião fez-se praticamente à mesa do banquete, e aí residiu, estamos certos, uma das principais razões da inferior animação.

«No futuro, esperamos que este óbice poderá ser torneado, de forma a que estes jantares progridam cada vez mais, não só em número de convivas, mas também, e principalmente, no ambiente de confraternização, que é o principal objectivo dessas reuniões.

/ 13 / A exemplo do que se registou no ano transacto, esteve presente no jantar o Gerente-Delegado da E. P. A, sr. Egas da Silva Salgueiro e sua Ex.ma Esposa, dando-nos também a honra da sua presença os Membros dos Conselhos de Gerência e Fiscal, srs. Alfredo Esteves, D. Diogo Passanha, Pedro Grangeon Ribeiro Lopes e D. Luís Passanha, especialmente convidados pelo nosso Grupo, os quais se fizeram acompanhar de suas Ex.mas esposas, à excepção do sr. Alfredo Esteves, por motivos de saúde.

De salientar a amável anuência ao nosso convite dos srs. D. Diogo Passanha e D. Luís Passanha, que se deslocaram, respectivamente, de Lisboa e de Ferreira do Alentejo, para nos darem a honra e o prazer da sua companhia.

O jantar iniciou-se precisamente às 20.30 horas, tendo a sala começado a registar imediatamente grande animação, especialmente em determinado sector, onde a alegria era esfusiante e contagiante.

Escutaram-se algumas gravações de música ligeira sinfónica durante o repasto, até que o nosso Director se levantou para usar da palavra. Escutado com muito interesse e atenção, o sr. Carlos Grangeon, depois de saudar os Membros dos Conselhos de Administração e suas Ex.mas Esposas, começou por afirmar:

«Em 8 de Abril do ano findo, reuniu-se num Hotel da Curia o pessoal administrativo e técnico da E. P. A. com suas famílias e com alguns capitães da nossa frota. Foi uma festa extremamente / 14 / agradável, que decorreu num ambiente da mais franca camaradagem e a que se dignou assistir o nosso Gerente-Delegado, sr. Egas Salgueiro e sua Ex.ma Família.

A forma como decorreu deixou em todos o desejo da sua repetição, anualmente, mas em época que permitisse a presença do pessoal do Mar, o que explica o motivo da realização deste modesto jantar em tão fria quadra do ano.

No entanto, levantaram-se ultimamente dúvidas sobre a oportunidade da sua realização. Por um lado, os lamentáveis acontecimentos da Índia que enlutaram o País e, por outro, a quebra de um uso de há muitos anos, quebra esta que atingiu o pessoal de terra, tirando-lhe boa dose de disposição e disponibilidades para folgar.

Mas, encarado o problema com serenidade e desempoeiramento de espírito e na esperança de melhores dias, cá estamos todos, em fraterno convívio do qual resultará, certamente, melhor conhecimento mútuo, maior amizade e compreensão, em suma, melhor ambiente de trabalho nos vários departamentos da E. P. A.

Não tenho procuração dos meus colegas de terra para fazer / 15 / esta afirmação, mas posso assegurar que a E. P. A. pode contar sempre com o seu esforço, boa vontade e desejo de acertar, de que aliás tem dado sobejas provas.

E não será atrevimento dizer que todos esperam e anseiam que esse esforço, essa vontade de acertar, esse entusiasmo e dedicação com que servem a Empresa voltem a ser compreendidos e compensados como tem sido norma muito louvável e justa da Gerência.

O Mundo dinâmico em que vivemos não é feito para nos deixarmos abater pelo primeiro vento mau que sopra. É depois das maiores tempestades que vêm as melhores bonanças e ai de nós se se perde a esperança numa manhã de Sol.

Pelo pessoal de bordo, a quem neste momento dirijo as efusivas saudações do pessoal de terra, alguém falará oportunamente, trazendo a esta reunião a voz forte, saudável, com ares de maresia, da gente do mar.

E depois de tecer considerações sobre a actividade embrionária do nosso Grupo, o sr. Carlos Grangeon finalizou:

Antes de terminar, quero agradecer muito reconhecidamente às Fábricas Aleluia a gentilíssima cedência das suas magníficas instalações sociais, para a realização da nossa festa em ambiente acolhedor e amigo. Bem hajam.

Aos Exmos. Membros dos Conselhos de Gerência e Fiscal e a suas Ex.mas Esposas renovo os nossos agradecimentos pela sua gentilíssima presença que tanto brilho dá à nossa modesta festa de confraternização.

Ao Senhor Gerente-Delegado, sr. Egas Salgueiro, dinâmico orientador, trabalhador infatigável e esclarecido impulsionador do progresso da E. P. A., a afirmação da nossa disposição de continuarmos a dar à nossa florescente Empresa o melhor do nosso esforço.

A seguir, pediu licença para dizer algumas palavras, como representante do pessoal de mar, o sr. Capitão João Laruncho São Marcos, que, depois de saudar também os Membros dos Conselhos de Administração e de salientar a gentil presença de suas Ex.mas Esposas, se referiu à grande satisfação que ele e todo o pessoal de mar sentiam por poderem estar presentes nesta festa. E acrescentou:

A V. Ex.ª Senhor Egas Salgueiro, que eu também já incluí entre os companheiros de trabalho – por o julgar o maior entre todos, não tanto pelo rendimento, mas pela violência do trabalho que executa – desejo não só saudar como chefe, mas também agradecer a amizade, a confiança e o respeito com que /
16 e 17 / sempre distingue os que com V. Ex.ª colaboram.

   

Nesta hora de felicidade para todos nós, é com grande prazer que reconhecemos que o mais feliz dos presentes é precisamente V. Ex.ª, Senhor Egas Salgueiro, por sentir que não tem sido em vão que na vida tem lutado contra a dureza dos obstáculos e a violência das invejas e incompreensões e finalmente reconhecer que tudo quanto o rodeia é exclusivo exclusivo e digno fruto do seu trabalho.

Pediu depois para que o acompanhassem num brinde pela saúde e felicidade do sr. Gerente Delegado, no que foi imediatamente secundado por todos os presentes.

Passado algum tempo, depois de uns momentos de expectativa, levantou-se o sr. Egas Salgueiro que, num feliz improviso, começou por recordar com palavras de saudade os pais dos srs. D. Diogo e D. Luís Passanha, que muito contribuíram para o engrandecimento da E. P. A., merecendo sem dúvida, que se lhes prestasse homenagem por meio duma prolongada salva de palmas. Depois de extintos os aplausos calorosos que se seguiram, o sr. Gerente-Delegado saudou os colegas dos Conselhos de Gerência e Fiscal e os seus colaboradores presentes e agradeceu a presença das senhoras de D. Diogo e D. Luís Passanha, que tiveram a gentileza de se deslocarem de tão longe, na companhia de seus maridos, para nos darem a honra da sua presença.

Teceu então algumas considerações sobre a melhoria verificada na afluência de convivas a este jantar, em comparação com o anterior, especialmente no que se refere à presença de mais senhoras, esposas e filhas de funcionários da E. P. A, o que muito o satisfazia.

Este jantar – disse – é absolutamente necessário para que nos conheçamos melhor, fora da nossa actividade profissional e para que se proporcione uma confraternização que crie e estreite laços de amizade entre todos.

Dirigiu-se depois a todos os empregados para manifestar o seu contentamento pela boa colaboração de todos, quer nos que labutam no mar, quer dos que trabalham em terra.

Só merecem louvores – continuou – esses homens de mar competentíssimos que nos trazem a mercadoria tão necessária ao futuro e ao progresso da E.P.A., nunca regateando o seu esforço e o seu apego ao trabalho para o conseguirem. Dá gosto ter ao nosso lado homens desta têmpera. Bem hajam os empregados de mar. Os seus colegas de terra sempre têm procurado, também, trabalhar para o progresso e contínuo desenvolvimento da E. P. A., e por isso lhes apresento os meus cumprimentos.

Referiu-se depois à sua maneira de ser para com os empregados, esclarecendo que, se por vezes é um pouco ríspido no seu contacto com eles, não tem qualquer intuito de ferir seja quem for, mas o faz apenas por amizade, para apontar os erros e os pontos fracos de cada colaborador. Pede, por isso, que o desculpem desse tratamento, mas está convicto que mais tarde, com a idade, reconhecerão que essas recomendações eram justificadas e foram úteis.

A seguir e antes de terminar, reafirmou o seu desejo de que estes jantares prossigam cada vez melhores e com mais convivas, para que nos conheçamos melhor, pois a família da E. P. A. deve ser cada vez mais numerosa.

Por último, ergueu a sua taça num brinde para repetir aos seus colegas dos Conselhos de Administração e a todos os seus colaboradores a sua enorme confiança no futuro da E. P. A, sendo acompanhado entusiasticamente por todos.

Encerrados os discursos e com o jantar praticamente terminado, começaram a ouvir-se os acordes duma conhecida valsa de Strauss, início dum completo programa / 18 / de música gravada para dançar. E depois de pedida autorização ao sr. Gerente-DeIegado para se dançar um pouco, foi precisamente o sr. Egas Salgueiro quem abriu o baile, acompanhado da Senhora de D. Diogo Passanha, e ao som do famoso Danúbio Azul.

Entrou-se, verdadeiramente, na fase de maior animação da noite, especialmente a partir do momento em que a música gravada foi substituída pelo acordeão que o nosso colega Manuel Reis tocava aprimoradamente, visto que as músicas que então surgiram, por mais conhecidas, fizeram subir o entusiasmo.

Assim se continuou folgando e dançando até cerca da meia noite. Nessa altura, o adiantado da hora levou-nos a interromper o baile, terminando assim o segundo jantar de confraternização do pessoal da Empresa de Pesca de Aveiro.

Não queremos terminar estes apontamentos sem voltar a pôr em relevo a cativante amabilidade da Gerência das Fábricas Aleluia, colocando à nossa disposição o Salão de Festas e instalações necessárias para a realização do jantar. Aqui deixamos o nosso sincero reconhecimento.
 

 

 

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