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roma

santuário de recordações

incomparáveis

 

crónica de carlos grangeon

 

COM um surdo sibilar, o enorme Superjet da TWA, depois de atravessar a Córsega a 8.000 metros de altitude e a 850 quilómetros por hora, vai perdendo altura em direcção à costa italiana. Há um movimento de curiosidade entre os passageiros quando o litoral se divisa, cada vez mais próximo e mais nítido.

Vê-se já perfeitamente Óstia e as suas praias, o Lido de Roma e a foz do Tibre que corre do interior, em curvas caprichosas através da campina romana, como se viesse ao nosso encontro.

Voamos cada vez mais baixo, já sobre o aeroporto de Ciampino e, ou por necessidade de manobra ou por gentileza do comandante, continuamos em direcção a Roma que, passados escassos minutos, surge em baixo, desbobinando ante os nossos olhos ávidos as maravilhas dos seus monumentos, das suas ruínas e dos seus palácios.

O Vaticano e São Pedro, o Coliseu, o Fórum, o monumento a Victor Manuel, a cidade olímpica, vão surgindo sob os nossos olhos, numa visão de conjunto impressionante.

Foi uma volta breve mas inesquecível que eu, aliás, já tinha feito em viagens anteriores, mas que sempre me tem causado uma estranha e forte impressão.

Descemos mais, agora para aterrar em Ciampino, aeroporto de Roma, que é um dos mais concorridos da Europa.

Por uma auto estrada de grande movimento percorremos os 20 quilómetros que nos separam da Cidade Eterna e vamos tomando contacto com a paisagem levemente ondulada da velha / 5 / Lácio. Ruínas de aquedutos e de monumentos funerários assinalam a Via Áppia que vai correndo paralelamente a nós e era a grande estrada que ligava a Roma dos Césares ao sul da Itália pelo litoral.

Entrámos em Roma pela Porta Maior, aberta nas velhas muralhas romanas, junto à grandiosa basílica de São João de Latrão e na marcha para o centro da cidade vão-se-nos deparando edifícios e locais cujos nomes famosos vêm celebrados na História da Arte e do Ocidente, constituindo cartazes brilhantes do grande turismo Internacional.

Roma é uma cidade extraordinária. Em perto de três mil anos de história apaixonante, ora dominando o mundo pelo poder das suas legiões ora pela força espiritual da fé cristã, foi acumulando dentro dos seus muros um número Infindável de monumentos e obras de arte que marcam, a bem dizer, todos os passos da sua longa e agitada evolução.

Da época romana, os velhos muros com perto de 2.000 anos que ainda hoje contornam a cidade, as ruínas veneráveis dos Forums, das termas de Diocleciano e de Caracalla, da Basílica de Maxêncio, do Teatro de Marcelo, dos arcos de Constantino e de Tito, do Panteão de Agrippa, do Circo Máximo, do Palácio dos Césares ou do Coliseu, levam-nos, com um pouco de imaginação, à Roma Imperial, com todas as suas grandezas e misérias, a pompa dos seus triunfos e a sádica / 6 / histeria dos seus espectáculos de circo. As sinistras catacumbas recordam-nos os sacrifícios dos primitivos cristãos, alvos de implacáveis perseguições dos imperadores receosos da propagação das suas ideias pacificamente revolucionárias.

Da idade média ficaram velhas Igrejas, notáveis pela pureza da sua traça e as grandiosas basílicas de São Paulo extra-muros e Santa Maria Maior. Pela suas enormes proporções e pela beleza austera e harmoniosa da sua arquitectura, estas duas basílicas causam em quem as visita uma ideia de grandeza e equilíbrio difícil de ultrapassar. À basílica de São João de Latrão, da mesma época, pouco resta da sua traça primitiva.

A Renascença, com todo o seu esplendor reflectido nas artes, nas letras e nas ciências, deixou em Roma, então capital poderosa da cristandade, um repositório de maravilhas artísticas que os nossos olhos não se cansam de admirar. A basílica de São Pedro, a maior catedral do mundo, obra prima de Bramante e Miguel Ângelo, esmaga-nos com a sua grandeza e encanta-nos pela harmonia das suas proporções.

Na verdade, é tão extraordinário o equilíbrio de todas as linhas e volumes que não se tem a ideia das suas descomunais dimensões. É admirável a riqueza artística do seu interior, onde, a par do célebre baldaquino de Bernini e da maravilhosa Pietá de Miguel Ângelo, se admira uma série enorme de grandiosos monumentos funerários.

O Vaticano, cabeça da cristandade católica, é um conjunto enorme de enormes palácios, austeros e pesados, alguns obra de Bramante, que ladeiam a Basílica de São Pedro e constituem, dentro de Roma, o mais pequeno estado soberano do mundo.

São de valor incalculável as obras de arte que estes palácios encerram e que, na sua maior parte, estão patentes ao público nas magestosas salas e galerias do Museu do Vaticano. Algumas destas salas e galerias constituem, por si só, um extraordinário museu de pintura pelos frescos maravilhosos que cobrem as suas paredes e tectos.

Esculturas e pinturas dos maiores mestres de todas as épocas, papiros de valor incalculável, preciosas colecções lapidares e de numismática, tapeçarias e mil outras preciosidades, constituem o recheio deste repositório riquíssimo das mais elevadas manifestações de arte plástica em mais de três mil anos de civilização ocidental.

Artistas geniais como Bramante, Miguel Ângelo, Rafael e Bernini deixaram no colossal conjunto Vaticano-Basílica de São Pedro, espectaculares manifestações do seu extraordinário talento.

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A Cidade Eterna assenta sobre doze colinas de suave pendor e a sua área actual é pouco maior do que a Roma dos Césares. O tom dominante das suas construções é de ocre ou tijolo claro, no qual se destacam, em contraste agradável, os velhos edifícios em «travertino», pedra clara dos arredores de Tivoli, ou a alvura imaculada dos mármores do fantástico monumento a Victor Manuel II.

Grandes palácios das nobres famílias italianas do renascimento enriquecem as ruas e praças da grande urbe, imprimindo-lhe uma grandiosidade condizente com os sonoros apelidos dos seus possuidores: Médicis, Borghese, Chigi, Torlónia, Barberini, Dória, Orsini e tantos outros.

Cidade cheia de carácter e pródiga em múltiplas evocações, Roma encanta os seus visitantes não só pela grandiosidade e riqueza dos seus monumentos, mas também pela graça das suas famosas fontes que à noite são um festival de luz, pelas suas belas praças tão características, pelo pitoresco dos seus mercados, pelo encanto dos seus restaurantes típicos ou pela beleza dos seus miradouros.

O belo Estádio dos Mármores e a Via da Conciliação, construídos por Mussolini, a Estação Central dos Caminhos de Ferro, formidável construção em cimento e vidro, onde nada falta para comodidade dos viajantes, a cidade Olímpica em que os jornais, o cinema, a rádio e a televisão tanto falaram em 1960, são aspectos notáveis da Roma moderna, que não adormece embalada pela sua passada grandeza.

«Roma é um mundo; é o museu de todas as idades; a pátria das artes; o santuário de recordações incomparáveis».

Estas palavras que não são minhas sintetizam bem o que é esta cidade extraordinária sobre a qual tão pouco disse.

Terminado o encanto da minha visita de alguns dias, eis-me novamente a caminho de Ciampino, já saudoso da bela cidade dos Césares e dos Papas.

 

a história da e. p. a.

No próximo número, esperamos poder iniciar a publicação de uma série de artigos historiando a existência da Empresa de Pesca de Aveiro, pois trata-se de uma matéria de inegável interesse que muitos desconhecem.

 

Legenda da imagem - Cidade Eterna - foto de Pedro Grangeon

 

 

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