CONVIDADO, para colaborar,
no número único da Revista de Homenagem, dedicada à prestante Associação
Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Aveiro, em comemoração das suas
bodas de Oiro, não pude esquivar-me a tão honrosa distinção, por razões
várias e muito especialmente por ser um grande admirador de tão
prestimosas colectividades. Em 27 de Janeiro de 1882, um grupo de
cidadãos aveirenses, dos quais ainda vivem Manuel Homem Cristo, Fernando
Cristo, Anselmo Ferreira, António Marques de Almeida, João Bernardo
Ribeiro, Luís Benjamin e
João Nunes da Maia, deliberou fundar uma
corporação de Bombeiros, à qual foi dada o nome, salvo erro, que ainda
hoje tem: Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Aveiro!
Foi há 50 anos tomada esta resolução, reveladora de grandes sentimentos
de bondade, de interesse e de defesa pelo próximo e não só por si
próprios! Que dizer pois, de tão nobre ideia que foi posta em prática
sob os melhores auspícios?! Que pensar de uma Associação de Bombeiros
Voluntários, que tem a grata ventura de festejar as suas bodas de oiro?!
Há que dizer o que a justiça lhe impõe. Há que pensar sinceramente
alguma coisa de superior a todas as vaidades terrenas e ambições
insofridas! Há que viver um pouco espiritualmente, honrando uma
Associação benemérita e glorificando os seus decididos fundadores; temos
de abandonar por um pouco, também, todos os interesses materiais, que à
vida nos prendem profundamente!
É na verdade
consolador, para aqueles que num momento de bem intencionadas ideias,
tiveram a felicidade de fundar uma Associação tão útil, assistir à
comemoração do seu cinquentenário! Quantas dores têm sido aliviadas
pelos Bombeiros Velhos, (assim mais conhecidos)? Quantas desgraças têm
sido minoradas e até evitadas? Quantos serviços úteis têm sido
prestados? E entretanto que recebem eles? Que têm eles recebido?! —
Acaso têm eles ligado aos seus serviços o interesse material? Não!
Apenas têm recebido a gratidão, o reconhecimento e a admiração! E por
vezes, porque não dizê-lo?! — nem isso!
Mas apesar de tal, o
que felizmente não é vulgar, a alma do Bombeiro é boa, grande e
generosa! No seu coração não se albergam maus sentimentos! Apenas o
domina, nas horas incertas e devastadoras do fogo, com o mais completo
desprezo pela vida... o amor do próximo, a vida do seu semelhante, os
haveres dos seus concidadãos! Belo exemplo de humanidade e inesquecível
prova de abnegação! Porque não olhar com admiração para os Bombeiros,
muito especialmente quando eles são voluntários, pois, como todos os
demais Bombeiros, sacrificam as suas próprias vidas em prol das
alheias... apenas com o desejo
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ardente de praticar uma obra meritória?! Honremos pois, os nossos
Bombeiros Velhos, abraçando-os no dia das suas Bodas de Oiro!
Curvemo-nos respeitosos perante a memória do que foi o seu 1.º
comandante, o distinto oficial de marinha, Francisco Augusto da Fonseca
Regala, e bem assim da daqueles que à sua corporação se dedicaram de
corpo e alma! Felicitemos todos os membros desta gloriosa agremiação, na
pessoa do seu actual 1.º comandante — Sr. Isaías Augusto
de Albuquerque
— espírito bondoso e activo, conhecedor profundo do «métier», carácter
bem formado e disciplinador, assim como o seu decidido colaborador
e 2.º
comandante — Sr. Firmino Fernandes.
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Dr. Joaquim de Melo Freitas
(Antigo Comandante dos Bombeiros |
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João Bernardo Ribeiro Júnior
(Antigo Comandante dos Bombeiros |
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São grandes estes
homens, cujas obras enchem de luz o meio moral em que vivem e constituem
o mais grandioso legado da humanidade.
A cidade de Aveiro,
honrando estes seus dignos filhos e dedicados servidores, paga uma
grande dívida de gratidão e oferece à veneração das gerações os
protótipos das mais belas manifestações da humanidade, salientando esse
sentimento brilhante, sublime, que electriza os corações, que arrebata
as almas, que comove as multidões como um choque mágico, que é o amor do
próximo! Sentimento grande, na verdade, profundo, capaz de feitos
maravilhosos, admirável nas suas múltiplas manifestações, vasto e
compreensivo como o seu próprio objecto e sempre cheio de abnegação e
sacrifício! — Glorifiquemos pois estes elementos valorosos da sociedade
em que vivem, cercando-os, de uma atmosfera de carinho, admiração e
respeito!
Aveiro — Janeiro 1932. |