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Descemos a encosta, transpomos o Antuã e entramos em Estarreja que nos faz uma bela recepção. Povo e tropa fraternisam no bivaque. Ha uma grande animação sugestiva por toda a parte. As aldeias em roda despovoam-se, tudo se concentra ali.

Trago de Estarreja a recordação de extremos de delicadezas e nelas associo nomes amigos de antigas e novas relações, o dr. Ruela, pae, Matos Tavares, dr. Tavares Afonso e ainda outros que hão de soar bem ao meu ouvido, como o do dr. Temudo. O digno administrador do concelho é merecedor de todos os louvores.

Despedimo-nos do 3.º batalhão que deve regressar ao seu quartel em Ovar.

Dia 22 – Rompe o toque da alvorada ás 3 e meia: noite, muito de noite ainda.

Fazem-se as ultimas despedidas, O Brandão sente tentações de vir comnosco.

– Coluna de marcha!

E a coluna marcha. Já se perde o clarão das ultimas fogueiras do bivaque. A estrada até Salreu está medonha; a escuridão torna-a pavorosa. Em todo o caso já vinhamos acostumados. Não tinham sido melhores os 16 kilometros da etape anterior, e de Estarreja a Aveiro são pouco mais de 20… e é para casa.

A proposito do estado das estradas, o Simões diz duas coisas ásperas de censura para quem sejam: mas justas. Não as repetirei aqui porque ele as fará ouvir onde convem que se oiçam.

Cantam-se canções de guerra. O tempo vai-se passando sem se sentir. Quando menos o cuidavamos passavamos a Fermelã, logo a seguir Angeja, Cacia ...

Que belo ia o Vouga!

 

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O dia amanhecera com um belo sol. Temos um descanço para o rancho frio, e, pouco depois atravessavamos Esgueira e entravamos em Aveiro.

Viva Aveiro!

O Elisio e o Mariano tinham-nos advinhado. Lá estavam á janela a saudar-nos.

E aqui está o que foi a primeira escola de repetição do meu regimento.

Aveiro, 24-10-1912.

José Peres.