Mensário do 7º D

  Sal de Aveiro  ▲

Junho 93

Nº 5


O SALGADO VISTO PELO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DO AMBIENTE

Reportagem por Paula e Marta

Cristina Bóia, Assistente do Departamento de Ambiente e Ordenamento do Território da Universidade de Aveiro, dá-nos a sua opinião.

S. A. – Quais são os objectivos de Departamento de Ambiente?

C. B. – No Departamento, a principal actividade é gerir dois cursos de licenciatura: um curso de Engenharia de Ambiente e outro de Planeamento Regional e Urbano. A engenharia de Ambiente está mais preocupada com aspectos da poluição, especialmente em medir o seu índice, isto é, em quantificá-la. Simultaneamente, investiga como se processa o transporte e tratamento das águas e do ar poluídos. O curso de planeamento está mais virado para gestão do espaço urbano e rural e para estudar qual é a melhor forma de ocupar o espaço existente, aquilo que é chamado ordenamento do território.

S. A. – O estudo do salgado de Aveiro é abordado no Departamento de Ambiente?

C. B. – Não. Alguns estudos e alguns ensaios de piscicultura nas marinhas têm sido feitos no / pág. 4 / de Biologia e não no de Ambiente. O salgado foi até hoje melhor estudado na delegação de Aveiro do I.N.I.P, que agora se chama Centro Regional de Investigação das Pescas, onde se fez um levantamento das marinhas (as que estavam a produzir e as que estavam a peixe).

S. A. – As salinas estarão mais poluídas?

C. B. – Penso que não, baseando-me em estudos feitos por biólogos. Há espécies que estão mais adaptadas a condições de poluição e outras a viver em águas limpas. Portanto, ao estudar as comunidades de seres vivos existentes, consegue-se determinar se aquele meio está poluído ou não. Houve estudos destes, feitos nas marinhas, que indicaram que a poluição não é grande e que as populações são saudáveis. Também se fizeram determinações de mercúrio em espécies, existentes nas salinas, que mostram haver alguma contaminação; no entanto, não alarmante. Para além desta poluição metálica que é provocada pelos efluentes industriais, há ainda a considerar a poluição orgânica proveniente dos dejectos lançados na ria. Este tipo de poluição não é tão grave como a metálica, porque menos persistente; com o tempo tem tendência a desaparecer, embora tenha indiscutíveis consequências. Na zona do salgado surgem alguns efeitos negativos dessa poluição, mas também positivos, como por exemplo o desenvolvimento das artemias que crescem na ria do que na água do mar, porque precisam de nutrientes, como sejam certas substâncias orgânicas poluentes.

 

OPINIÃO

«O problema do Salgado pertence à Comunidade.»

 

S. A. – Quais as consequências biológicas da degradação das salinas?

C. B. – Existem espécies nesta zona do salgado que vivem com as características que ele tem. Se houver uma degradação, o ecossistema vai mudar, dando origem a zonas de lodo, devido a um maior assoreamento: se tivermos água a passar por uma zona larga, a velocidade será menor do que se passar por canais, havendo então uma maior tendência para a deposição das partículas que ela transporta, fazendo aumentar a quantidade de zonas de lodos. Modificações deste tipo irão, provavelmente, provocar mudanças nas comunidades aí formadas.

S. A. – Estão a trabalhar nalgum projecto para proteger o salgado?

C. B. – Não, porque não faz parte das nossas funções.

S. A. – Qual é a sua opinião sobre o futuro do salgado?

C. B. – Acho que é preciso criar soluções alternativas à salicultura tradicional. A salicultura não tem viabilidade só por si. Se não se encontrarem soluções, como por exemplo a piscicultura, as pessoas não têm interesse em mantê-las e, portanto, haverá uma tendência para o abandono. Julgo que é muito importante pensar noutras soluções e, para mim, a alternativa é, sem dúvida, a piscicultura, embora se devam tomar alguns cuidados, pois é uma actividade que também pode levantar problemas em termos de poluição. O ideal seria coexistirem as duas actividades.

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17-12-2013