Cristina Bóia, Assistente do Departamento de Ambiente e Ordenamento do Território da Universidade de Aveiro, dá-nos a sua
opinião.
S. A. – Quais são os
objectivos de Departamento de Ambiente?
C. B. – No Departamento, a
principal actividade é gerir dois cursos
de licenciatura: um curso de Engenharia de Ambiente e outro de
Planeamento Regional e Urbano. A engenharia de Ambiente está mais
preocupada com aspectos da poluição, especialmente em medir o
seu índice, isto é, em quantificá-la. Simultaneamente, investiga como
se processa o transporte e tratamento das águas e do ar poluídos. O curso de planeamento está mais
virado para gestão do espaço urbano e rural e para estudar qual é a
melhor forma de ocupar o espaço existente, aquilo que é chamado
ordenamento do território.
S. A. – O estudo do salgado de
Aveiro é abordado no Departamento de Ambiente?
C. B. – Não. Alguns estudos
e
alguns ensaios de piscicultura nas marinhas têm sido feitos no
/ pág. 4 /
de Biologia e não no de Ambiente. O salgado foi até hoje
melhor estudado na delegação de Aveiro do I.N.I.P, que agora se chama Centro Regional de Investigação das Pescas, onde se
fez um levantamento das marinhas (as que estavam a produzir e as que
estavam a peixe).
S. A. – As salinas estarão
mais poluídas?
C. B. – Penso que não,
baseando-me em estudos feitos por biólogos. Há
espécies que estão mais adaptadas a condições de poluição e outras a
viver em águas limpas. Portanto, ao estudar as comunidades de seres vivos existentes, consegue-se determinar
se aquele meio está poluído ou não. Houve estudos destes, feitos nas
marinhas, que indicaram que a poluição não é grande e que as populações
são saudáveis. Também se fizeram determinações de mercúrio em
espécies, existentes
nas salinas, que mostram haver
alguma contaminação; no entanto,
não alarmante. Para além desta poluição metálica que é provocada pelos
efluentes industriais, há ainda a considerar a poluição orgânica
proveniente dos dejectos lançados na ria. Este tipo de poluição não é
tão grave como a metálica, porque menos persistente; com o tempo
tem tendência a desaparecer, embora tenha indiscutíveis consequências.
Na zona do salgado surgem alguns efeitos negativos dessa poluição, mas
também positivos, como por exemplo o desenvolvimento das artemias que
crescem na ria do que na
água do mar, porque precisam de nutrientes, como sejam certas substâncias orgânicas poluentes.
|
|
OPINIÃO
«O problema do Salgado
pertence à Comunidade.» |
|
|
S. A. – Quais as consequências
biológicas da degradação das salinas?
C. B. – Existem espécies nesta zona do salgado que
vivem com as
características que ele tem. Se houver uma degradação, o ecossistema vai mudar, dando
origem a zonas
de lodo, devido a um maior
assoreamento: se tivermos água a
passar por uma zona larga, a velocidade será menor do que se passar
por canais, havendo então uma maior tendência para a deposição das partículas que ela transporta,
fazendo aumentar a quantidade de zonas de lodos. Modificações deste tipo irão, provavelmente, provocar mudanças nas comunidades aí
formadas.
S. A. – Estão a trabalhar nalgum projecto para proteger o salgado?
C. B. – Não, porque não faz parte
das nossas funções.
S. A. – Qual é a sua opinião sobre
o futuro do salgado?
C. B. – Acho que é preciso criar
soluções alternativas à salicultura tradicional. A salicultura não tem
viabilidade só por si. Se não se encontrarem soluções, como por exemplo
a piscicultura, as pessoas
não têm interesse em mantê-las e,
portanto, haverá uma tendência para o abandono.
Julgo que é muito importante
pensar noutras soluções e, para mim, a alternativa é, sem dúvida, a piscicultura, embora se devam
tomar alguns cuidados, pois é uma actividade que também pode levantar
problemas em termos de poluição. O ideal seria coexistirem as duas
actividades.
|