Mensário do 7º D

  Sal de Aveiro  ▲

Maio 93

Nº 3


 

ANA TEIA, BIÓLOGA DO CRIP / INIP

     

A Aquacultura na reconversão do salgado

 
     

 

Ana Teia. Clicar para ampliar.

O tipo de trabalho do Centro Regional / INIP (Instituto Nacional de Investigação Piscícola) consiste em investigar o máximo da vida costeira e lagunar e servir de apoio no desenvolvimento regional.

Trabalho fundamental na área-problema do Salgado.

S.A. – Que tipo de flora cresce nas salinas?

A.T. – Muito poucas são as espécies que aguentam salinidades tão elevadas. Só no viveiro, onde entra a água directamente dos esteiros, se encontram a flora e a fauna transportadas do mar.

A única alga que aguenta a forte salinidade dos cristalizadores é uma micro-alga, a Dunaliella, responsável pelas manchas avermelhadas que se observam, por vezes, no sal.

S.A. – O INIP estuda o tipo de peixes que existem nas salinas?

A.T. – Sim, uma vez que as salinas começam a ser abandonadas por falta de rendibilidade económica da produção do sal. E então, partindo da experiência do marnoto, que já utilizava o peixe do viveiro, pensou-se transformar toda a salina num viveiro.

S.A. – E que peixes é que se iriam criar?

A.T. – Aqueles que naturalmente já lá existiam: enguias, linguados, tainhas, robalos; e daí o interesse do INIP em começar a estudá-los. E são as espécies referidas que, por mais habituadas e adaptadas ao meio, devem ser criadas.

S.A. – Que informações mais detalhadas nos pode dar sobre esses estudos?

A.T. – O problema do sal, em si mesmo, não é connosco, e sim com a Cooperativa do Sal, marnotos e outros organismos. O nosso trabalho no salgado é mais de apoio a particulares que querem fazer aquacultura, cultura de peixes e bivalves, nas salinas que já não estão a sal.

Nós não vamos lá oficialmente colocar os peixes e estudar o seu crescimento, mas, a pedido de particulares, damos apoio no sentido de lhes indicar as espécies a criar e como devem ser tratadas, conhecimentos que temos vindo a obter do estudo dos ecossistemas lagunar e costeiro.

S.A. – Que tipo de peixe está adaptado a ambientes tão salgados?

A.T. – Só existe peixe nos viveiros, isto é, onde a salinidade é igual à dos esteiros; nos restantes compartimentos, não existe peixe. No entanto, do viveiro ao cristalizador, encontra-se um crustáceo, Artemia Salina, espécie eurialina, que tem uma particularidade: quando o meio se torna desfavorável, cria uma membrana, enquista-se protegendo os ovos. Estes quistos são, posteriormente, por nós tratados e utilizados na alimentação dos peixes em aquários.

Como vêem, a criação da artemia constitui o alimento natural de algumas espécies de peixes criados, aqui, em aquacultura.

S.A. – Que acontece às salinas que deixam de produzir sal?

A. T. – Ou são puramente abandonadas, acabando por serem destruídas, ou são transformadas em áreas de aquacultura onde se criam espécies piscícolas que hoje já escasseiam nas águas do mar.

S.A. – Como se tratassem de reservas naturais?

A.T. – Sim, porque a estas espécies tratadas "em cativeiro" é-lhes fornecido o alimento natural que entra com as marés, podendo dar-se-lhes um pouco de alimento artificial, o que nem sempre é conveniente.

No estrangeiro, mas aqui é proibido, em ambientes semelhantes, é costume aumentar artificialmente a quantidade de fosfatos e nitratos das águas que, sendo, necessários à fotossíntese, provocam um maior desenvolvimento da flora. Só que este processo provoca a contaminação da água dos esteiros que passa para os canais maiores, Isto é, aumenta o nível de poluição química das águas da laguna.

S.A. – Condena, portanto, nesta situação, a prática da cultura / pág. 7 / intensiva?
A.T. – Sim, a opção deve ser a policultura extensiva em concordância com o meio. Sabem que um dos alimentos dos peixes dos viveiros é a "cabra", uma espécie de mini-camarão, frequente na área do salgado e é apanhada nas salinas activas e lançada nas áreas de aquacultura.

No apoio que damos aos particulares, esclarecemos que não podem colocar espécies que se comam umas às outras ou a mesma espécie de tamanhos extremos e que tem de haver uma determinada proporção entre espécies herbívoras e carnívoras de modo a assegurar-se o equilíbrio do sistema.

Opinião do grupo:
 

1 – Nem todo o salgado actual pode produzir sal.

2 – A aquacultura é uma alternativa na reconversão de algumas salinas.

3 – A reconversão não pode ser feita sem a cooperação de técnicos e a sabedoria dos marnotos.

4 - É possível conciliar o desenvolvimento económico com o equilíbrio ecológico.

Artemia Salina

Sandra, Luís, Samuel

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15-12-2013