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farol n.º 32 - mil novecentos e sessenta e nove ♦ setenta, págs. 3 e 4.

Ano velho, novo ano

Francisco José Piçarra
(7.º e)
 

No mundo de hoje, mais do que nunca, os números desempenham um papel fundamental em quase todos os campos da vida do homem. São necessários números, para contar o dinheiro, para lançar os foguetões, para elaborar complicados projectos e até... para marcar a evolução do tempo, das horas, dos segundos, dos anos. Hoje tudo é sinal de progresso, de avanço constante, pois parar é sinónimo de morrer, de retrocesso. Os anos vão passando uns após outros e, à sombra deles, milhões e milhões de seres humanos procuram viver o melhor possível, cada um procurando atingir a meta que projectou alcançar na estrada da vida. Mais um ano passou, outro, cheio de esperanças, nos envolve!...

Ainda não esquecemos todos a noite da passagem do ano, fosse qual fosse o modo como a tivéssemos passado: ou a dormir, ou sentados confortavelmente a ver televisão, ou dançando, sem parar, ao som de música cheia de ritmo e alegria. Mas, com certeza, exactamente porque somos pessoas conscientes da nossa posição no mundo, tivemos uns momentos de reflexão, tentando fazer o chamado «balanço das contas», examinando cuidadosamente o nosso proceder durante um ano que já passou.

Também eu me dediquei a esta difícil e ingrata tarefa e vi, com mágoa, que o ano velho não foi aquilo que eu idealizara, mas, ao contrário, foi muitas vezes inútil, não só para mim, mas também para aqueles que esperavam o meu contributo pessoal, que de mim esperavam alguma coisa de útil!... O tempo corre veloz, nunca pára e cada minuto que perdemos em coisas vãs e prejudiciais vai-se e nunca mais volta... E assim corremos o perigo de chegar ao último momento da nossa curta vida e sentirmos um vazio imenso e um «nada» dentro da consciência. Para que assim não aconteça, é necessário aproveitarmos cada minuto que passa!... No meu caso pessoal quanto tempo não perdi!... Quantas vezes não faltei aos meus deveres profissionais, prejudicando-me não só a mim, mas também a meus pais, à pátria e ao mundo, que espera o contributo do meu trabalho?! Quantas vezes não me fechei dentro do meu egoísmo, não me abrindo para um colega que necessitava do meu / 4 / auxílio, uma palavra de conforto, um conselho?

E quero eu um mundo melhor!... E queremos todos um mundo de amor, quando dentro de nós só existe amor, sim,... mas amor próprio, de nós mesmos...

Ano velho, novo ano: trocadilho de palavras, mas que são portadoras de uma mensagem!... O ano passou e, com ele, foi-se embora tudo aquilo que em mim e em todos os homens houve de mau, de «parasita» ao progresso, de ódio, de sofrimento.

Ano novo! Sim, ano cheio de novas forças, de novos ideais, de nova vontade, de novo amor. .. Não percamos o tempo, não deixemos passar mais um ano, sem o termos vivido verdadeiramente, sem termos contribuído para o progresso, para o bem entre os homens, para a paz neste mundo cheio de ódio e de guerras homicidas!

Muitos homens houve, para os quais o novo ano nada significou. Os homens sem esperança, os que habitam nos bairros de lata, os que se debatem com problemas de consciência, os inválidos para a vida, os desprezados pela sociedade, os desprovidos de liberdade são aqueles que não tiveram ano novo. Porque hesitamos?... Eles esperam de nós a construção de um mundo melhor. Sim, de nós que somos juventude, que somos alegria e esperança!... Horas tristes virão. Horas em que tudo nos parecerá pesado e escuro... Mas, nessas alturas, não esqueçamos aquele nosso «Irmão», que morrendo pregado numa cruz, nos deu a maior prova de amor pela humanidade até hoje presenciada, e... Prossigamos sem desfalecimentos pela estrada da vida!

«SE AOS PROFESSORES CUMPRE
A HONROSA MISSÃO DE ENSINAR,
É DEVER DO ALUNO DEVOTAR-SE AO ESTUDO.»
Prof. Doutor Veiga Simão

 

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11-06-2018