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farol n.º 28 - mil novecentos e sessenta e oito ♦ sessenta e nove, págs. 19 e 20.

DESPORTOS

DESPORTO,

ESCOLA
DE

VIRTUDES

José Henrique Leal Costa
(6.º F1)
 

COM o começo de um novo ano escolar, vai aparecer a primeira tiragem de «O Farol» desta época. Neste primeiro artigo sobre desporto, vou tecer algumas considerações sobre o desporto em geral, baseando-me em alguma experiência, e também em alguma coisa que me tem sido dado observar e ler. Acho que é a altura propícia para o fazer, pois o desporto mundial esteve em festa com a realização da 19.ª Olimpíada da Era Moderna, que se disputou no México, a uma altitude de 2000 e tantos metros.

Como à primeira vista parece, «desporto» não quer somente dizer, jogar, vencer, ser derrotado. É preciso saber competir e aceitar a derrota como se de uma vitória se tratasse. É preciso que haja desportistas conscientes, disciplinados e dignos. Para se ser bom desportista, é preciso antes de mais ser «homem». Para que o homem seja perfeito tem que atender às suas condições físicas, à formação da sua vontade, à dignidade das suas atitudes e, acima de tudo, à modelação do seu carácter. O desportista que o queira ser de verdade e não apenas de nome, há-de ser um homem, sob pena de falhar ingloriamente no campo do desporto e da vida.

Para não cair neste erro, tem que ter um são optimismo, que o faça confiar sem exageros nos seus próprios recursos e nas possibilidades que tem; que apreciar com justiça o valor do adversário, respeitando-o devidamente, para merecer que o respeitem a si também; que ser corajoso e forte nos momentos da derrota, aceitando-a com a dignidade e o aprumo que devem fazer parte da bagagem do autêntico desportista; / 20 / tem de ser igualmente comedido no triunfo, recebendo-o com alegria como é justo, mas sempre com a devida modéstia; tem de aprender a respeitar o público e o adversário, pois o respeito e a educação não devem desertar dos campos de jogos...

Aquele que assim o fizer, será não só um desportista como um verdadeiro homem. Se um jogo não tiver, nos seus participantes, verdadeiros desportistas, o campo em que ele se estiver a disputar transformar-se-á numa luta selvagem que é a negação de todo o desporto.

Caros colegas:

Se por acaso já tivestes oportunidade de ver alguma reportagem sobre os Jogos Olímpicos que a televisão diariamente manda para nossas casas, já vistes com certeza o espírito desportista dos atletas presentes, que no fim das provas se apressam a felicitar os vencedores, apesar de algumas vezes serem povos inimigos. Isto, sim. é verdadeiro e salutar desporto.

E, para acabar, vou-vos contar um pequeno episódio que justifica da melhor maneira o título do meu artigo.

Dois corredores italianos «Gino» e «Bartalli», grandes campeões do mundo do ciclismo de alguns anos atrás, seguiam no «Giro de Itália», na frente da classificação. Quando se disputou a última e mais dura etapa da volta através dos Alpes, sob um calor escaldante, houve uma fuga destes ciclistas que se distanciaram grandemente de todos os outros. Entretanto seguiam os dois juntos e, quando a meta se aproximava, Bartalli começou a perder forças, porque a água tinha acabado e não tinha com que se dessedentar. Mas dá-se o inesperado, que por si só mostra um desportista.

Gino, podendo aproveitar a fraqueza do seu eterno rival e vencer à vontade a tirada, dá-lhe o seu «boyon». Bartalli dessendenta-se e recupera forças. A meta estava à vista e numa verdadeira luta de gigantes os dois disputam o sprint, acabando com a vitória de Bartalli. Gino, descendo da bicicleta e com as lágrimas nos olhos, foi o primeiro a felicitar o adversário.

Não será isto verdadeiro desporto?

Tirem, amigos, as conclusões que quiserem e mandem sugestões que eu cá fico à espera delas até ao próximo número de «O Farol».

 

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09-06-2018