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farol n.º 27 - mil novecentos e sessenta e sete ♦ sessenta e oito, págs. 16 e 17.

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 1º Ciclo

A chegada dum barco de pesca

Vasco Afonso da Silva Branco
(2.º ano)
 

NUMA manhã de Verão, o céu céu estava límpido e os raios solares, incidindo sobre o oceano, punham nele reflexos de oiro.

Os pescadores olharam para o horizonte e avistaram o barco majestoso que deslizava com rapidez. As bateiras, que o rodeavam, pareciam suas escravas.

A rede, que já estava em em terra puxada por possantes bois, entrava pela areia deixando no seu rasto pingas de água que caíam dos seus fortes fios.

Acorriam as peixeiras vestidas com saias de cores tristes e blusas de cores vivas que quebravam aquela monotonia.

Quando o saco da rede chegou a terra, foi um delírio, pois a pesca tinha sido substancial.

Logo foi aberto e recolhido o peixe em dezenas de gigos. Por todos os lados se ouvia discutir o preço de tão regateado e saboroso alimento.

As canastras cheias de peixe eram transportadas pelas peixeiras, para as venderem pelo melhor preço.

No fim deste dia de trabalho só restavam nas canastras o sol e as escamas prateadas.

 

"Ó MARIA"

Duarte M. V. Martins Teles
(2.º ano)
 
  Ó Maria! Ó Maria!
Ó Maria com a trança!
Não se fie no seu Zé
E não lhe dê confiança.
Ó Maria! Ó Maria!
Ó Zé, Zé toleirão!
Vire-se para o fogareiro
Tire de lá o caldeirão.

 

Dona truta vai ao médico...

Egas Manuel da Silva Salgueiro
(^2.º ano)
 

A conversa que vou relatar em seguida passa-se num rio da Beira Alta, no consultório do Dr. Salmonete, que dá uma consulta à D. Truta.

− Boa tarde, D. Truta, está boa?

− Se estivesse boa, não vinha cá, sr. Dr..

− Então de queixa?

− Sabe, sr. Dr., respiro mal. As minhas brânquias estão a funcionar cada vez pior.

− Ora deixe ver o que lhe posso fazer. Hum... Pois é, o seu opérculo esquerdo apresenta um ligeiro inchaço e isso dificulta o trabalho da guelra. Este inchaço é natural ou a senhora teve algum acidente?

− Não sr. Dr., foi outro dia, um pescador que prendeu o seu anzol aqui no opérculo e, pumba. Só por sorte é que estou aqui a falar consigo. E esse papo deve vir daí.

− Bem, isso tem pouca importância e se a senhora se friccionar com extracto de alga amarela, vai ver como isso passa.

− Obrigado, sr. Dr.. Ah, lá me esquecia: onde é que o sr. Dr. me aconselha a ir desovar?

− À Sena da Estrela, que é o melhor sitio.

− Não poderei ir antes ao Minho?

− Não aconselho, porque a sanidade na Estrela é melhor.

− O Sr. Dr. não se importa se eu o convidar, a si e à sua esposa, para serem os padrinhos dos meus filhos?

− Oh, mas com todo o gosto.
− Então obrigado, e quanto lhe devo?

− Nada, para a minha futura comadre é de graça.

Meu velho barco

Egas Manuel da Silva Salgueiro
(2.º ano)
 

Num destes dias, enquanto arrumava o sótão, reparei no meu velho barco. Quantas coisas me evocava...

Lembrei-me do dia em que o recebi: foi o meu «folar», num Domingo de Páscoa.

Desde então ansiava por estreá-lo. Esse dia surgiu num Verão. Nunca mais me esqueço da alegria indescritível que se apossou de mim.

− Lá vai ele! Lá vai ele! gritava, vendo o barco que, qual cisne branco, navegava célere pelas mansas águas do lago.

Desde aí, quantas vezes este quadro se repetiu, até à hora em que, substituído por outro nas minhas brincadeiras, interrompeu sua odisseia.

Daí para cá, não mais voltou a sair do seu cantinho no sótão.

Mas, quando outrem o lá for buscar, será para reviver os tempos em que vogava pelo lago, impelido pelo vento.

 

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09-06-2018