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farol n.º 25 - mil novecentos e sessenta e seis ♦ sessenta e sete, pág. 6.

IN  MEMORIAM

O meu testemunho

Sílvio Moreira
(3.º ano)
 

Quando nos foi dada a notícia da morte do sr. Dr. Amadeu, senti um grande choque. É que sempre guardei a melhor recordação desse excelente professor da cadeira de Português do meu 1.º ano.

Recordo que entrava sempre com a maior satisfação para as suas aulas, pois nestas o ambiente era muito agradável.

Além de ensinar muito bem era um grande amigo de todos nós; basta dizer que até os preguiçosos estudavam com tal professor. Nas suas aulas estávamos sempre à vontade, mas dentro do maior respeito.

Lembro-me de que numa aula, por eu ter apontado no quadro os números duns colegas que se tinham portado mal antes da sua chegada, resolveu fazer um tribunal para julgamento dos réus. Este julgamento foi realizado tal e qual como num tribunal vulgar. Assim o juiz foi o Corte Real, o advogado de defesa foi o Guilherme; o de acusação foi o Guimarães, e, como testemunhas, o Pedro Vilarinho e o Anselmo. Eu como era o chefe da turma e tinha portanto feita a acusação, fui o Delegado do Ministério Público.

A ideia deste julgamento nasceu do facto de o trecho para esse dia se chamar a «Sentença». Assim o sr. Dr. Amadeu nos deu uma maneira prática de conhecermos um julgamento.

A mim tratava-me por «engenheiro» e considerou-me sempre um bom aluno. Recordo-me também de que, uma vez, encontrando-me na Avenida, perto do café, me convidou para lanchar com ele. Estivemos os dois sentados à mesa muito tempo, conversando como verdadeiros amigos sobre assuntos referentes às aulas e também sobre futebol.

Senti muito a morte deste meu querido professor...

Já pedi a Deus nas minhas orações para que descanse em paz, no céu onde se encontrará de certo.

A morte de alguém custa sempre muito; mas quando se trata duma pessoa tão inteligente, tão alegre, tão boa e tão nossa amiga como o sr. Dr. Amadeu, o choque é enorme.

Ainda por cima, foi vítima de um acidente causado por pessoas que andam nas estradas como verdadeiros assassinos.

Mas, agora, já ninguém pode dar vida ao sr. Dr. Amadeu...

Paz à sua alma.

 

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12-06-2013