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farol n.º 23 - mil novecentos e sessenta e seis ♦ sessenta e sete, págs. 11 a 13.

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Impressões duma Peregrinação

Nas Margens do Nilo

QUANDO deixámos o porto de Pireus, eram cerca das 16 horas. O rumo era Alexandria. Passámos ao largo da ilha de Creta, cuja costa nos acompanhou durante algumas horas. O mar, até aí tão calmo, pareceu zangar-se, pois a ondulação de bombordo para estibordo incomodou bastantes peregrinos.

Passados dois dias em pleno mar, chegámos em frente à Alexandria. O barco foi obrigado a fundear à entrada da barra, em virtude das manobras egípcias.

Cerca das 11 horas pisámos o solo Egípcio. Alexandria nos recebia cheia de luz. Era a primeira vez que contactava com o mundo árabe. É verdadeiramente fascinante! Alguém de turbante garrido, de pele tostada oferece-me um passarinho. Olho espantado para semelhante oferta. Mas mais espantado fiquei, quando vejo o passarinho dividir-se em dois, para em seguida se transformar num só; compreendi que estava diante de um golpe de magia. Achei graça, mas à cautela fui-me afastando, não fosse eu ficar também dividido em dois.

Antes de partirmos para o Cairo, demos uma volta pela cidade. Metemo-nos num táxi. Continuámos a presenciar costumes estranhos, como por exemplo, o motorista beijar o dinheiro.

Alexandria é uma cidade com 1.500.000 habitantes. Além das várias avenidas fomos visitar os vestígios do templo de Serapis e / 11 / a CoIunata de Pompeu. Atravessámos a Praça da Libertação, e dirigimo-nos para o Cairo.

Atravessámos todo o delta. Apesar do calor do estio, é impressionante a fertilidade deste oásis maravilhoso: – algodão, cereais, tâmaras, frutas tropicais, etc.

Passam as primeiras caravanas. Não resisto; fotografo-as.

Como recompensa, recebo um par de beijos desses homens, que vivem em casas feitas de terra amassada.

Quando chegámos à capital, um calor sufocante nos esmagava. Mas nem por isso deixei de contemplar o centro da cidade.

O Nilo, espraiando-se por entre lindas ilhas paradisíacas, dá à cidade um encanto extraordinário.

Ao jantar, fui a um restaurante típico. Soube-me mais todo aquele bulício árabe que a comida a saber a lotus.

No outro dia de manhã fomos visitar o Museu do Cairo. Não tendo tempo de o percorrer com todo o pormenor, fixámos a nossa atenção na galeria reservada às últimas descobertas. Tudo fabuloso, como, por exemplo, a 2.ª cobertura da múmia do imperador Tutankhamon, que pesa 110 kg em ouro maciço.

Ao princípio da tarde fomos à cidade de Gizela, onde se encontram as grandes pirâmides. Embora já conhecesse os dados da arqueologia, quanto à sua grandeza, não há dúvida alguma que, ao vermos à nossa frente uma montanha de pedra, com 146 metros de altura, nos sentimos muito pequeninos.

O guia informou-nos que iríamos visitar com tempo suficiente as pirâmides. Para que esta visita tivesse algo de mais típico, fomos convidados a montar nos camelos. Confessa que não contava apanhar um susto tão grande, ao montar o animal, mas valeu a pena. Penetrámos no interior da pirâmide de Keops, até à altura de 75 metros. Aí se encontra a câmara funerária com o sarcófago aberto. Passámos em frente da Esfinge, que embora mutilada, não deixa de infundir um religioso respeito.

À tarde visitámos as principais mesquitas, pois seria impossível percorrer as 800 existentes na capital. Convidados a calçar uma espécie de pantufas, penetrámos no interior desses templos que são verdadeiros hinos de arte ao Deus uno e verdadeiro.

Não podíamos deixar o solo egípcio sem visitarmos alguns bazares. Foi precisamente nestes lugares de comércio que pudemos apreciar melhor os costumes destes povos. Depois de tomarmos uma bebida em honra do dono da casa, fomos untados nas mãos e nos braços com as essências mais raras. Assim perfumados, estávamos preparados psicologicamente para as compras. Ninguém pode resistir à arte e à sedução destes homens. Quase todos caímos.
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Saboreando a frescura da noite, do terraço do hotel, lancei o último olhar às pirâmides. Inundadas pelas luzes de potentes projectores, pareciam desafiar a força dos séculos.

Foi com verdadeira saudade que deixei o Egipto, rumo ao Líbano – a Suíça do Oriente.

P. Arménio Alves da Costa

 

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08-06-2018