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farol n.º 23 - mil novecentos e sessenta e seis ♦ sessenta e sete, págs. 3 e 4.

AS SALINAS DE AVEIRO

espectáculo de sublime beleza

João de Freitas Raposo
(4.º ano)
 

Como é agradável contemplar as salinas da Veneza de Portugal nos belos dias de sol que o Verão frequentemente nos presenteia!

Com efeito9, a estreada que liga a cidade às praias da Barra e Costa Nova é rodeada, até à Gafanha, por um número indefinível de pontos brancos, que se destacam no tom de azul que domina esta paisagem.

Numa observação mais atenta poder-se-á apreciar o trabalho intensivo a que os marnotos se entregam, enriquecendo constantemente com o sal que transportam em cestos de formas apropriadas os montes já começados.

É ver a sua pele bronzeada pelo sol escaldante contrastando vivamente com a alvura das camisolas que vestem, as testas cobertas de suor a realçarem a dureza do trabalho, as pernas musculosas a subirem as pranchas que conduzem à parte mais alta das salinas, os pés nus, calejados pela marcha incessante e monótona a que os submetem.

Quando observo  demorada e atentamente tão sublime espectáculo, alheio-me de tudo o que me rodeia, de todo o movimento que à minha volta se desenrola, de todos aqueles que me cercam e sinto-me leve, leve como as gaivotas que ao longe esvoaçam, abrindo as suas asas mui alvas.

O meu pensamento eleva-se para Quem me proporcionou tal maravilha, dando-lhe graças pelo bem que me concedeu.

/ 4 / E é grande a tristeza que sinto quando tenho de pôr fim a uma contemplação que, pela grande beleza que encerra, se me assemelha mais irreal do que verdadeira.

 

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08-06-2018