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farol n.º 22 - mil novecentos e sessenta e seis ♦ sessenta e sete, págs. 5 e 6.


OS MEUS

PREFERIDOS

Ana Maria da Silva Valente
(6.º ano)
 

– «Marchar! Em frente! e podem sair...».

Até que enfim acabou a aula de ginástica!... Estou morta de fadiga. Marchar, saltitar, pular, subir aos espaldares, suspender, flectir... Oh, meu Deus, não ouvi outra coisa durante uma hora. Uf! É demasiado para quem, como eu, não se classifica uma apreciadora deste género de exercícios físicos. Bem, não é que não goste de ginástica. Não, até aprecio bastante essa aula, que ajuda a descontrair, a esquecer as preocupações que nos atormentam o espírito, em tempo de aulas. Porém, o pior vem um dia depois, quando, logo pela manhã, ao levantar, se sente o corpo toda partido, dores horríveis nos músculos, dores que estão nas pernas, nos braços, nas costas, em toda a parte ao mesmo tempo. Que martírio subir escadas, estender um braço, virar o pescoço!... É então que eu maldigo a ginástica e todos os exercícios físicos que me põem o corpo neste estado deplorável.

É verdade, maldigo-os; mas que poderia eu fazer, ao sentir-me partida e sem ver possibilidades de me recompor?

Contudo, três dias passados, como por milagre, sinto-me liberta de todas as dores que me atormentavam.

É então que eu esqueço todas as maldições e que me vêm à memória os belos dias de férias grandes, quando pegava na minha bicicleta e corria, voava pelos campos, sentindo o perfume das flores, pedalando velozmente. Por vezes, ia até à praia e então dava voltas e mais voltas duma extremidade à outra da avenida. A bicicleta fazia-me sentir tão rápida, que me alheava de tudo em volta e me parecia que tinha o poder de voar. A brisa fresca do mar chegava até mim, enchia-me os pulmões, dava-me como que uma vida nova. Os movimentos das minhas pernas eram cada vez mais rápidos e eu sabia que esses movimentos me davam saúde e que a brisa do mar varria todos os projectos de doença que pudessem existir em mim. E tinha a mesma sensação, / 6 / quando mergulhava nas águas do mar ou da Ria e nadava, nadava sem nunca me cansar, sempre pronta a afastar-me cada vez mais da costa. Estava certa de ter forças necessárias para regressar, porque me sentia animada de vida e vida é sinónimo de força. Nunca me senti tão saudável, tão forte, como quando me entregava aos meus desportos preferidos.
Sim, gosto da ginástica deste género e não da que me parte o corpo e me faz doer os músculos. Logo que se trata de passar uma hora saltando, correndo, subindo espaldares, flectindo, já sei que dias depois maldirei todos os exercícios físicos, esquecendo todo o proveito que possam ter para a saúde e a juventude do corpo.

 

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08-06-2018