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farol n.º 21 - mil novecentos e sessenta e cinco ♦ sessenta e seis, págs. 14, 15 e 17.

Comunhão Pascal

Teve lugar no dia 24 de Março a Comunhão Pascal no nosso Liceu, sendo a missa celebrada por S. Ex.a Rev.ma o Senhor Bispo de Aveiro. Estiveram presentes o sr. Reitor, alguns Professores e a grande maioria dos alunos, que encheram completamente o ginásio.

Finda a cerimónia, foi servido no refeitório um pequeno lanche, durante o qual usaram da palavra os colegas Carmen Rosa, do 6.º ano e Jorge Abreu, do 7.º, dos quais transcrevemos os seus simples, mas agradáveis discursos.

A nossa colega Carmen Rosa disse:

Ex.mo Senhor Bispo, Sr. Reitor, Sr.s Professores, caros Colegas.

Não podíamos deixar passar estes breves momentos de convívio sem dizer do nosso muito obrigado a todos.

Ao Ex.mo Sr. Bispo, pela sua presença, já absolutamente indispensável na nossa Comunhão Pascal e que tão querida é de todos nós.

Ao Ex.mo Sr. Reitor, sempre tão solícito nos problemas que nos dizem respeito, e que tão simpaticamente pôs à disposição a Cantina, ofereceu este lanche, e nos proporcionou, enfim, tudo, para que mais uma vez a Páscoa se festejasse condignamente entre nós.

Os nossos agradecimentos vão também para todos os nossos Professores, tão amigos e dedicados, prontos a ajudar-nos sempre e a desculparem tantas faltas, por vezes cometidas inconscientemente.

E não poderíamos esquecer os Colegas, amigos no dia a dia, camaradas a todas as horas, companheiros de alegrias e folguedos e também igualmente camaradas nas horas tristes.

Estas breves palavras não pretendem mais do que expressar, talvez não tão condignamente quanto desejaríamos, toda a nossa gratidão por / 15 / tudo o que, em cada dia, no nosso Liceu se faz, para que um dia mais tarde, sejamos, com a Graça de Deus, pessoas felizes, conscientes do dever e do caminho a seguir e do apostolado a realizar.

Por tudo, o nosso muito obrigado!

Por sua vez o finalista Jorge Abreu, em palavras repletas de sensibilidade, falou-nos ao coração:

Excelência Reverendíssima, Excelentíssimo Senhor Reitor, Senhores Professores, caros colegas:

Este arremedo de discurso não é mais do que o grito de um jovem, que sente como todos os jovens, e, talvez por isso mesmo, ele possa ter o valor de se chamar voz geral.

De facto, após uma cerimónia comovente, como foi a missa em que participámos há pouco, nada há que dizer que não seja do conhecimento de todos. E é essa a dificuldade: mostrar por palavras o que nos vai dentro.

Disse alguém que a felicidade é qualquer coisa de inatingível, qualquer coisa que paira acima de nós e temos a sensação de poder agarrar. É inatingível sim, pois que, quando ilusoriamente a tocamos, sentimos um vácuo, ao vermos quão mais alta ela está!

Mas eu ousaria afirmar que alguns de nós a tiveram hoje. Tudo começou, quando, num acto mais que humano, nos arrependemos e reconhecemos os nossos erros. Invadiu-nos uma paz, que eu não sei descrever; sentimo-nos bem, alegres, joviais como nunca. Veio depois a missa e um arrepio estranho, mas muito bom e muito doce tomou-nos inteiramente. Ao entoar aqueles cânticos, ao sentirmo-nos não nós, mas vozes que agradecem ao Senhor, tivemos a impressão de ter atingido a tal utópica felicidade. E ao receber a Hóstia sagrada já não somos aqueles seres estranhos e egoístas, mas somos todos irmãos, todos tão iguais e tão bons, despidos de superfluidades e banalidades. Se nas aulas amuamos com qualquer colega, hoje tudo isso desapareceu; hoje um coro de anjos desceu do céu à terra para nos ajudar. Já não vemos nos outros, colegas ou professores. Vemos irmãos, seres como nós próprios, que têm um ideal e querem cumpri-lo.

Agora mesmo ainda estamos a viver esse ideal. E tenho medo, e quero crer que todos nós o temos, desse mundo que fica para lá do Bem. Se dentro de nós sonhamos com mantermo-nos sempre assim, esse mundo não se contenta com sonhos. Mas só quem tem medo, tem coragem. E já não creio, acredito piamente, que nós a temos e havemos de penetrar no exterior, olhar no céu, mas pés na terra, prontos a ser outros, a caminhar no trilho da Justiça e do Bem. Queremos e havemos de vencer.

Somos jovens e os jovens são os homens de amanhã. Por isso a / 17 / Igreja, que é de todos, nos abriu os braços maternais e nos chamou. E nós, jovens, respondemos que sim, incondicionalmente que sim. Será com o coração palpitando de alegria que nos acolheremos nesse amplexo. E então seremos fortes, porque já não lutamos sozinhos e, assim, a mensagem de Cristo será, cada vez mais, uma realidade.

Essa União está representada na figura eternamente jovem do nosso Bispo. Ele é a Igreja que nos abriu o coração, e a que nós nos acolhemos.

E depois desta fusão, ele e nós já não somos estranhos, somos a Igreja do Senhor.

Por isso mesmo, é de coração nas mãos que dizemos: Muito obrigado, Senhor Bispo!

No final, o Sr. Reitor referiu-se à presença sempre amável do nosso Bispo, que é um Amigo que, embora fora do Liceu, conhece os nossos problemas e se preocupa connosco. Sua Ex.ª Rev.ma teve palavras de agradecimento e de carinho, palavras essas que vieram ao nosso encontro e nos fizeram sentir mais intensamente a sua alegria, a sua juventude. Afinal, ele quer ser um jovem como nós, com o coração sempre jovem!

 

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08-06-2018