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farol n.º 19 - mil novecentos e sessenta e cinco ♦ sessenta e seis, pág. 4.

EU E O INVERNO

Desconhecida
(4.º Bf)
 

Eu e o Inverno somos irmãos. Há dias tristes e dias alegres. Os grossos pingos de chuva são lágrimas que o meu coração choro. A neve branca, pendente do Natureza, é o meu corpo gelado, caindo para a fria sepultura. As nuvens negras e ameaçadoras, são os meus nervos tensos, prontos a explodirem ao menor choque. A tempestade, que ruge no meio da noite escura, ruge ainda com mais violência, em convulsões, dentro do meu ser. Toda a Natureza, despida, parece morta e eu, sem vontade de reagir, deixo-me conduzir como um autómato. Toda a vida buliçosa, no Inverno, deixa praticamente de existir, mas a minha já acabou há muito tempo. Inverno querido, sombrio como a minha vida, como eu gosto de ti! Reflectes toda a minha vida, no meio da amargura e insegurança. Não chores a minha morte e desdita, porque haverá muitas outras irmãs para acompanhares por toda a eternidade.

 

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08-06-2018