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farol n.º 17 - mil novecentos e sessenta e quatro ♦ sessenta e cinco, pág. 14

INTERVALO POÉTICO

ESCRAVO

Agostinho Vidal de Pinho

Sinto uma mão
Na consciência.
Uma mão pesada;
Mais dura que a pedra...


Os meus sonhos lindos
Esmagam-se,
Desintegram-se,
Comprimidos por essa mão,
Que me faz dizer: não... e não.
Sufoco um acusador ai,
Que a todo o custo
Queria escapar.
E sofro.
Mas resisto.
Acredito na justiça
Daquela mão pesada
Que me oprime...
E não sonho mais.
Sonhar é sofrer...
Sonhar é morrer...

DESESPERADA

Licínia Maria Senos

Quero chorar, chorar perdidamente.
Chorar para esquecer toda esta dor
Que trago em mim, bem dentro do meu ser
Que me enlouquece, que me causa horror.

Quero fugir. Fugir nem sei p'ra onde
Que ninguém possa ler no meu olhar
A dor atroz, enorme, tão pungente
Que não cansa de me fazer chorar.

Quero sentir, em meu olhar desdém,
Ser egoísta até na minha dor,
Sofrer, sofrer sozinha, sem ninguém.

Ter sempre os olhos húmidos de pranto
Correr sozinha entre toda a gente
Ser da tristeza e mágoa o próprio manto.

 

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08-06-2018