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farol n.º 14 - mil novecentos e sessenta e quatro ♦ sessenta e cinco, pág. 21.

Um Fim

Maria Manuela Casimiro
(4.º ano)

 

O BLUSÃO NEGRO, a saia também muito escura e os «soquettes» davam-lhe ainda um ar de colegial tão doce que nenhuma outra poderia adquirir. Com a pasta quase esquecida, pendente só de alguns dedos, ela mostrava o que lhe ia na alma, quando passava e me olhava tão profundamente que as suas pupilas me pareciam um lago sem fundo onde ninguém ousaria penetrar.

Todos os dias ela passava, sozinha, triste, inexplicável! Tentei saber quem era, donde vinha aquele olhar tão acessível como distante. Ninguém... e todos a conheciam. Todos admiravam o seu olhar... ninguém sabia quem o dominava, quem poderia quebrar o gelo dos seus olhos castanhos!

Passou mais um dia... ela hoje vinha mais triste, mais absorta ainda... os seus olhos vinham mais emocionados, mais belos, mas cada vez mais longe...

Deixei-a passar mais uma vez sem sequer lhe perguntar o nome!

Tudo passou num momento... num momento...

Para ela o mundo acabou naquele dia... tudo passou... porque tudo passa para o pobre ser que vagueia na terra...

Nada ficou, porque nada deve ficar... porque tudo deve ter um fim... mesmo uns inofensivos olhos castanhos.

 

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08-06-2018