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farol n.º 14 - mil novecentos e sessenta e quatro ♦ sessenta e cinco, págs. 4 a 6.

O Liceu Nacional de Aveiro

e o Ultramar

É com grande prazer que aproveitamos esta oportunidade para prestar a nossa homenagem à Ex.ma Sr.ª D. Maria João Penha, que deixou este Liceu por razões da sua vida profissional. Embora se encontre longe de nós, sentimo-la ao nosso lado, como autora da louvável iniciativa: O Liceu e o Ultramar, que continua a ser divulgada nas páginas do nosso jornal.

A redacção do "Farol" deseja-lhe felicidades e aqui deixa expresso um sincero muito obrigado pela preciosa colaboração que lhe dispensou e, estamos certos, continuará a dispensar.

A Redacção

Em Alerta

Já alguém afirmou que a batalha no nosso Ultramar só se perderia depois de se ter perdido no Metrópole.

Unidos, porém, num mesmo ideal procuremos cerrar fileiras – os do retaguarda com os do vanguarda – e, confiados no orientação dos nossos governantes e na ajuda de Deus, esperamos que a vitória será nossa.

O heroísmo dos nossos bravos soldados – alguns antigos alunos do nosso Liceu – que defendem o nosso soberania no Ultramar / 5 / é um apelo e um estimulo a que nós, os da retaguarda, nos mantenhamos bem alerta.

Já aqui foram apresentados alguns testemunhos bem eloquentes do valor e eficácia do nosso apoio moral aos nossos heróicos soldados. Quanto ânimo e coragem revelam quando se sentem apoiados por nós!

Temos, porém, notado que a bravura, o espírito de sacrifício e abnegação deles, vai despertando em nós, como por contágio, idênticos sentimentos e qualidades que estavam adormecidas.

Quisemos verificar até que ponto a nossa impressão correspondia a uma realidade e procurámos ouvir a opinião de vários colegas.

Os testemunhos dados são bem elucidativos daquilo que pressentíamos: o bem que temos recebido dos nossos soldados é muito maior do que aquilo que temos dado.

O altruísmo vai ocupando o lugar do egoísmo e saí do torpor em que há muito andava mergulhado. Eu, que até aqui, só pensava em mim, aprendi a estimar e a ajudar o meu próximo e a não ser tão egoísta, declarava-nos uma.

«Somos levados a esquecermo-nos dos nossos problemas para vivermos os deles como se fossem nossos», dizia-nos outro. É bem certo que as dificuldades vividas em comum levam-nos a aproximarmo-nos e a interessarmo-nos mais uns pelos outros.

Uma outra colega dizia-nos com a alegria estampada no rosto: «tenho aprendido a conhecer e a praticar o que dantes, infelizmente, mal conhecia e praticava: o Amor ao próximo e o entusiasmo e felicidade que se sente em ajudar alguém que tão longe precisa do nosso auxílio espiritual e, às vezes, material.»

O amor ao cumprimento do dever vai-se contagiando: «comecei a estudar com mais vontade, para poder oferecer o meu trabalho a Deus por aqueles que lá fora defendem aquilo que nos pertence», assim nos testemunhava outra.

Convencidos de que as armas humanas pouco ou nada poderão sem o auxilio de Deus temos procurado usar a arma poderosa da nossa oração junto do Senhor para que supra com o Seu poder aquilo que a nossa força não consegue e que faça com que os homens vivam como irmãos: «rezo todos os dias para que Deus os proteja e os traga sãos e salvos aos seus lares»; «nunca mais me esqueci de rezar por eles e pelas suas famílias.»

«Ao saber que em várias zonas eles rezam todos os dias o terço e que para muitos este é o seu companheiro inseparável nas horas boas ou nas horas más (eles lembram-se mais de Deus do que nós aqui que temos tudo o que queremos e felizmente até a paz) prometo redobrar as minhas orações de hoje / 6 / em diante...». Foram estes alguns dos muitos depoimentos que ouvimos neste sentido.

Ao sabermos como cada dia dos soldados é ocupado num trabalho constante, por vezes difícil e árduo, por influência desses heróis que chegam a manifestar alegria e gosto pelo perigo, o cuidado no cumprimento do dever, a alegria nas dificuldades da vida, a confiança no futuro vai destruindo em nós a apatia na vida: «aprendi a aproveitar melhor o tempo livre, a ser alegre quando me sinto triste, a pensar mais nos outros, a sacrificar-me mais, a gostar das coisas que não gosto e a sentir-me mais feliz. Quando dou aos outros aquilo que possuo e que lhes pode ser útil, comecei também a estudar mais para oferecer a Deus por eles as horas de estudo e os sacrifícios.»

Quisemos apresentar aqui estes depoimentos para testemunhar aos nossos soldados a nossa gratidão pelo bem que deles temos recebido, sentindo-nos sobejamente recompensados de tudo o que por eles temos feito. Estamos decididos a continuar a apoiar, com todos os meios ao nosso alcance, os que lutam na frente da batalha pela defesa da integridade da nossa Pátria.

Os da retaguarda continuarão unidos aos da vanguarda.

 

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08-06-2018