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farol n.º 13 - mil novecentos e sessenta e três ♦ sessenta e quatro, págs. 19 e 20.

O Liceu e o Ultramar

Maria da Conceição
(5.º ano)
 

Eram 4 horas da tarde, quando chegámos a Tomar. Na estação já se encontravam algumas pessoas e pela agitação que se verificava, qualquer pessoa alheia ao acontecimento do dia chegaria à conclusão de que algo de anormal se iria dar.

Na verdade, daí por 30 minutos chegaria um comboio, que transportava um contingente que honrosamente cumprira a sua missão no Ultramar.

Nós estávamos felizes. Íamos ali a fim de esperar alguns combatentes intitulados os «Falcões», que, quanto mais não seja de nome, o leitor conhecerá.

Os nossos pensamentos entrechocavam-se com emoções. Não sabíamos como nos iríamos conhecer, pois no meio de perto de 700 homens queríamos descobrir um Salgado, um David, um João.

Como tópicos concretos tínhamos apenas algumas fotografias.

Finalmente o comboio chegou. Por entre densas nuvens de fumo viam-se surgir uns rostos ansiosos, tentando descobrir por entre a multidão os que lhes eram mais queridos e com quem não se avistavam há 28 meses.

O momento era chocante.

Agora viam-se mães enlaçadas nos braços dos filhos, enquanto lágrimas de alegria e felicidade lhes inundavam o olhar.

Volvidos cerca de 10 minutos todo o contingente perfilou perante o General da Região que se encontrava junto à porta da estação.

Como nos encontrássemos em missão destacada não nos foi difícil reconhecer os nossos heróis.

Não menos fácil nos avistaram também e depois de sorrisos significativos ficámos com a certeza de que não nos havíamos enganado.

De seguida as tropas percorreram as ruas da cidade em direcção à igreja, onde foi rezada missa em acção de graças pelos benefícios recebidos.

Apesar da agitação que se verificava quer da parte das famílias, quer ainda dos próprios militares, a missa decorreu com bastante solenidade e os seus olhos estavam erguidos para o Alto numa prece de agradecimento.

Finalmente todos se dirigiram para o quartel, onde houve uma homenagem aos mortos daquele mesmo contingente, que haviam dado as suas vidas em defesa duma causa justa.

Conseguimos falar finalmente e então pudemos ver a alegria com que nos acolheram, e o bem que lhes fez ali a nossa presença / 20 / tão simples. Associámo-nos à sua alegria e conversámos durante algum tempo.

Depois da despedida e já de regresso a Aveiro um silêncio se fez sentir, silêncio esse que me fez meditar e chegar a esta conclusão: os «Falcões» voltaram. Fizemos o que pudemos para lhes amenizar aquelas horas difíceis, passadas longe da família e dos amigos.

Realmente as nossas cartas, cantinhos e outros meios de que nos servimos para tal fim e que à primeira vista parecem sem importância, exercem influência e disso tivemos a prova.

No entanto outros lá ficaram e continuam a precisar de nós.

Se já fizemos alguma coisa, muito mais temos a fazer de hoje em diante e sempre mais, sem nunca desfalecer.

O movimento conta com todos aqueles que dele se queiram abeirar com o coração aberto para dar e mais, precisa muito deles.

Para aqueles que nos compreendem e connosco colaboram, o nosso muito obrigado.

 

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08-06-2018