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farol n.º 11 - mil novecentos e sessenta e três ♦ sessenta e quatro, pág. 13.

Amarga desilusão

Maria João Montenegro
(4.º ano)


DESPERTA O dia a sorrir! Quem lhe deu tanta beleza? Canta o doce ribeirinho, as flores, os passarinhos... a Primavera chegara. Margarida abre os olhos e, encantada, olha para a janela. Como ela gostaria de correr pelos campos! Mas tal não pode ser. Margarida é paralítica de uma perna e há dois anos padece desse mal. Para todos a vida tem um sentido, mas tal não acontece com ela.

Ao acordar, sentiu dentro si, qualquer coisa de inexplicável. Como todos os dias, a primeira coisa que fez ao acordar, foi experimentar andar. Coisa estranha! Ao pôr-se de pé, Margarida não sentiu vergar-se a perna, como habitualmente acontecia. A medo, deu um passo, e conseguiu: deu outro... mais outro e ainda outro e quase sem poder acreditar em tanta felicidade, gritou pela mãe. Vieram os pais e os irmãos, todos a correr, se precipitaram pelo quarto da enferma. Quantas lágrimas, quantos risos de alegria e beijos A sua querida filha estava curada. Bendito milagre! Margarida agarrada à parede, começou a percorrer o corredor que há tantos anos o não via. Mas... sentiu-se mal, uma grande dor de cabeça parecia rebentar-lhe. As pernas que a enferma há pouco havia bendito, vergaram-se e acabou por cair no chão com grande estrondo. Margarida dá um pulo da cama. A cara está a escorrer de suor e com grande tristeza recorda o sonho que acaba de ter. Ó que amarga desilusão! Tudo não passara de um sonho, um sonho maravilhoso demais para ser realidade. Ao seu grito acode a mãe. E as duas abraçadas, choram em silêncio: – Ó vida, que mal te fiz para seres tão cruel para mim? Porque me deste uma esperança para em seguida ma tirares? Ó Mamã, que infeliz eu sou!

E os dias continuam, ora lindos, ora tristes, mas para Margarida eles são sempre iguais, assim como também é a sua vida.

 

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08-06-2018