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farol n.º 8 - mil novecentos e sessenta e dois ♦ sessenta e três, pág. 10.

A Órfã

Carlos Pinheiro
(5.º a)

INVERNO...

Ao longe ouve-se o ribombar dos trovões perdidos na noite. Relâmpagos cortando o Céu em todas as direcções e rasgando as trevas. As árvores, sem folhas, são açoitadas pela forte ventania que ulula pelas fendas do telhado. Os caminhos são inundados pelas enxurradas, que engrossam de instante para instante.

À janela, apreciava a bela horrível paisagem, quando um forte ribombar de trovões se fez ouvir, logo seguido de um gemido.

– Drama?! – Desci as escadas, abri a porta... Não era drama – era miséria sem nome; completamente encharcada, encostada à ombreira da porta, uma criança...

Depois de agasalhada, perguntei-lhe:

– Para onde ias?
– Não sei, senhor! – respondeu.
– Quem são os teus pais? Onde moras?
– ...Não tenho nem pais nem casa...

*

Tão nova e já sem pais, sem caminho, sem lar...

Durante a refeição ninguém falou. Quando fomos para a lareira, era ver a infeliz ajoelhada e a dar graças a Deus...

 

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06-06-2018