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farol n.º 7 - mil novecentos e sessenta e um ♦ sessenta e dois, págs. 14 a 17.

Pátria em perigo

José T. Barreto
(7.° ano)

«...E porque a Nação é antes de mais uma herança moral, é aos portugueses como pais que compete mobilizar a juventude para que aceite e continue o património que desejamos transmitir-lhe...»

Adriano Moreira


A mártir província de Angola, parcela do nosso Ultramar, tem sido nos últimos meses palco ensanguentado onde mãos sujas jogam (ou pretendem jogar) as suas obscuras ambições.

Bandos de criminosos orientados por estrangeiros  que se intitulam «libertadores do oprimido povo angolano» e «patriotas de Angola» e que provas irrefutáveis mostram que nada mais são do que capatazes de Moscovo, financiados por países comunistas ou sob tutela do comunismo internacional, dão largas aos seus instintos e acompanham os seus crimes – violação, trucidação, torturas de toda a espécie, destruição de populações – das mais inconcebíveis manifestações de primitivismo cruento e grosseiro; isto para não falar nos incêndios, devastações de aldeias indígenas, destruição de pontes, obstrução de estradas e outras formas de acção terrorista.

Em face destas brutais realidades, tem de considerar-se verdadeiramente notável a acção das Forças Armadas Portuguesas. O Exército Português não se tem restringido, aliás, ao campo militar; desenvolve também uma notável e extremamente delicada acção psico-social. Consiste esta em, / 16 / mediante o contacto com as populações indígenas, estabelecer com elas laços de amizade, captando a sua confiança abalada por uma propaganda dissolvente, garantindo-lhes condições de segurança e apresentando-lhes a verdade dos factos distorcida por astutos feiticeiros cuja influência é notável. Com o Exército colaboram a Marinha e a Força Aérea e ainda grande número de colonos experimentados no mato bem como a grande maioria da população negra, sobretudo bailundos, que os criminosos em vão têm tentado aliciar.

É este o aspecto que tem tomado a luta em Angola. Não obstante dominado em grande parte o flagelo e refreado o ímpeto dos assaltantes, excitados por promessas fictícias, o perigo não passou ainda e a situação não está totalmente saneada. E Angola, a martirizada mas heróica Angola, continua a ocupar o primeiro plano das atenções de todos os Portugueses.

Descoberta por Diogo Cão em 1482, Angola foi urna entre tantas terras que os Portugueses, em benefício de toda a Humanidade, arrancaram à ignorância e à vida selvagem. Nesta acção, a gloriosa e inspirada acção dos Descobrimentos quinhentistas, os nossos objectivos transcenderam sempre os meros interesses materiais. A par dos contactos comerciais estabelecidos, travámos contacto pacífico com as populações nativas, através do qual foi possível a difusão do ideal cristão de igualdade perante Deus, sem distinções de raça ou cor. A nossa acção traduz-se ainda noutras realidades: a criação de laços de solidariedade desinteressada, a formação de sociedades multirraciais, com penetração mútua de culturas, factos que tornaram possível uma unificação espiritual. Como consequência natural, e finalmente, resultou a integração económica, social e política de todas as populações na mesma entidade política unitária.

Estes os frutos desse extraordinário empreendimento encetado há quase cinco séculos, e que grande parte do Mundo teima em não querer ver ou finge ignorar.

Aliás, numa época em que tudo se mede em potenciais técnicos e económicos e em que a nota dominante nas relações entre as Nações – mesmo entre as que têm um património cultural comum a defender – é um feroz materialismo, é realmente difícil de conceber, de alcançar em toda a sua amplitude, a realidade da acção civilizadora ultramarina de Portugal. Nesta empresa os nossos horizontes foram sempre muito / 16 / vastos e ultrapassámos largamente o aspecto terreno, palpável e material. A par deste esteve sempre – ocupando muitas vezes o primeiro lugar – um outro mais elevado e particularmente difícil: a acção missionária, espiritual e cultural.

A nossa acção não pode, pela disparidade de princípios orientadores, ser confundida com a acção ultramarina realizada três séculos mais tarde, por alturas da revolução industrial e resultante da necessidade criada às potências industrializadas de recorrer ao local-origem das matérias primas. Aí exerceram, pois, a sua acção, com a preocupação primeira (ou única?) de obter vantagens económicas.

Não poderemos, pois, situar-nos no mesmo plano dessas Nações. O nosso génio missionário deu à nossa colonização um carácter sui generis – esta, a verdade que uma visita honestamente feita ao Ultramar Português torna evidente.

Conscientes dela, continuemos a responder com um não categórico e bem firme a todo esse Mundo cego, que pretende levar-nos a um entreguismo fácil, indigno da nossa tradição ultramarina, indigno da nossa História.

Nunca na nossa longa e gloriosa vida de Nação Independente nos faltou a coragem para enfrentar vitoriosamente as mais graves situações criadas por um destino exigente; pelo contrário, esses momentos decisivos fizeram brilhar verdadeiros heróis, um escol que escreveu as mais belas páginas duma História, e que soube imprimir no seu povo um sentimento forte e indomável: o orgulho de ser Português.

Saibamos, pois, nesta hora decisiva, responder com a coragem e sacrifício que o momento nos impõe; assumir a responsabilidade que o nosso dever de Portugueses nos exige, tomando a parte que nos cabe na salvaguarda da Pátria-Mãe em perigo, e mantendo heróica e sem mácula a nossa História.

Temos sobre os ombros o peso dum milénio de cultura e civilização e a responsabilidade das nossas heróicas tradições.

A nossa luta, a da juventude de menos de vinte anos, não se trava por enquanto no campo de batalha, nem é esse o único meio de lutar. Por isso mesmo, não nos podemos ficar na cómoda situação de indiferença e passividade. A nossa acção é bem cá dentro, onde a salvaguarda da causa nacional é uma necessidade não menos premente que na frente / 17 / de batalha. Lutemos, pois, pela conservação dos tradicionais valores morais e espirituais do Portugal que amanhã nos será entregue, derrubando com veemência o cepticismo orgulhoso, a indiferença e a vergonhosa campanha de boatos e infundadas mentiras, enfim, todo esse sistema de subversão interna que tem vindo a ser desenvolvido não sabemos por quem, pretendendo desmoralizar a opinião pública, infelizmente pouco preparada para esses ataques, e actuando muito especialmente junto dos jovens. A nossa missão é, portanto, bem árdua, exigindo um espírito convenientemente esclarecido e sem dúvidas. Assim, o nosso dever será cumprido totalmente, com absoluta consciência e noção das responsabilidades, e com o acréscimo de energias que um Ideal bem vincado nos fornece. E se porventura nos falta o desejado apoio moral de grande parte da Humanidade, confiemos na comprovada solidariedade do Povo Português, esse Povo enorme e esforçado, espalhado pelo vasto e querido Mundo Português; um Povo pobre e pequeno em número, mas grande pela sua alma e pelo seu arreigado patriotismo, que tantas lições tem dado ao Mundo!...

Tenhamos fé em Deus que, pela sua omnisciência e omnipotência, julgará a nossa causa com toda a verdade que ela contém, e peçamos-Lhe êxito total para a luta em que, pela Pátria em perigo, nos empenhámos.

Linóleo de José T. Barreto

 

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06-06-2018