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farol n.º 4 - mil novecentos e cinquenta e nove ♦ sessenta, págs. 19 e 20.

Fragmentos duma carta para o Infinito

Paulo C. Martins
2.° prémio (3.º ciclo)

                     I

As águas gritam sonoramente,
violentadas pela força das rochas
sonoramente sedutoras...

seres perdidos nas profundezas
azuis e verdes do mar...

As águas gritam
como a donzela intocada e pura
estrangulada nas mãos dum selvagem...

                     II
E os navios perdidos,
partidos pelo meio
e afundados no Verde
ficam verdes...


É o verde da Esperança!...
Esperança de não mais
serem incomodados,
empurrados pelo vento
e metidos no fundo
pelas mãos do vento,
pelas mãos das ondas...


                     III
Embora na praia haja areia leve,
embora na praia haja areia grossa,
os pés do anjo continuam intocados.

 

Mas as cordas das redes
roem as mãos dos pescadores
em sangue a cair na areia leve ou grossa...


                     IV
Carta para o Infinito é uma aventura
que custa caro como ouro...

Mas deixa a carta para o Infinito
e vem viver a poesia dos vagabundos
dos gatos vadios
ou dos garotos esfarrapados dos bairros das latas...

A Vida é um Universo inteiro de Amor por tudo isto...

                                       Serra Verde

 

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05-06-2018