Situada
na Rua do Conselheiro Queirós, em Verdemilho, é uma casa
que indubitavelmente está ligada à História de Aveiro,
dado o facto de o Conselheiro Joaquim José de Queirós ter
sido o chefe do levantamento de 16 de Maio de 1828 contra o
governo de El-Rei D. Miguel I.
Nesta
casa viveu também, durante parte da sua infância, o grande
escritor Eça de Queirós, neto do referido Conselheiro.
Na
sua primitiva traça, era uma casa de rés-do-chão, pintada
de amarelo, tendo ao centro um portal de granito ao qual
dava acesso uma pequena escadaria do mesmo material. De cada
lado rasgavam-se três janelas. Sobre o portal, numa
platibanda de alvenaria que acompanhava a casa em todo o seu
comprimento, erguia-se uma pedra de armas (1).
Após
ter sido vendida sofreu grandes alterações motivadas pela
adaptação a uma unidade industrial, tendo-lhe sido
acrescentado um andar.
O
brasão foi retirado por iniciativa do poeta Acácio Rosa,
encontrando-se exposto no Museu Regional de Aveiro (2).
Trata-se
de um brasão com escudo partido em duas palas, a primeira
esquartelada, tendo no I e IV quartéis seis crescentes e no
II e III um leão, por Queirós; a segunda, com uma cruz
doble, bordadura e seis besantes, por Almeidas. Como diferença
uma brica com um farpão. Sobre o escudo elmo e paquife.
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Casa
nas Quintãs, onde nasceu o Conselheiro Queirós (já
demolida). |
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O
Conselheiro Queirós nasceu nas Quintãs a 9-1-1774 e foi
baptizado em Eixo a 17-1-1774. Era filho de José Marcelino
Próspero, natural da freguesia de S. Salvador, do
Arcebispado de Braga, e de Dona Joana Leonor, natural das
Quintãs, os quais se casaram em Eixo a 10-2-1771. Eram seus
avós paternos Custódio de Queirós da freguesia de S.
Salvador, e Luísa Maria Teixeira de Vila Meão. E maternos
Gabriel de Sousa, da Ilha de S. Miguel e Dona Josefa
Bernarda, da cidade de Aveiro(3).
Da
actividade política do Conselheiro Queirós não damos notícia
detalhada. Bastará dizer que foi deputado da nação,
desembargador da Baía e depois da Relação do Porto,
ministro com o Marechal Saldanha, mentor como já atrás foi
referido da revolta de 16 de Maio de 1828, organizada pelos
conspiradores da loja maçónica dos Santos Mártires, da
qual Queirós era membro (irmão Rosa-Cruz) (4).
No
Brasil casou com Dona Teodora Joaquina de Almeida, natural
de Fornos de Algodres (5). No Rio de Janeiro nasceram os
seis filhos do casal: o primogénito, Dr. Joaquim Augusto de
Almeida Teixeira de Queirós, sucessor de seu pai no foro de
Fidalgo-Cavaleiro (6); o Conselheiro José Maria de Almeida
Teixeira de Queirós, nascido a 17-7-1820; e mais dois
rapazes e duas raparigas.
O
Conselheiro José Maria de Almeida Teixeira de Queirós
casou em Viana do Castelo, a 3-9-1849, com Dona Carolina
Augusta Pereira de Eça (7), filha do Coronel José António
Pereira de Eça que morreu por ferimentos recebidos nas
linhas do Porto, em 1833.
Desta
senhora tivera já um filho nascido na Póvoa de Varzim, em
25-11-1845, e baptizado na Matriz Colegiada de Vila do
Conde, no 1.º de Dezembro do mesmo ano. Esse filho foi o célebre
escritor José Maria de Eça de Queirós.
Eça
de Queirós veio viver para Verdemilho já depois da morte
do seu avô, ocorrida a 16-4-1850, e aí se manteve até ao
falecimento de Dona Teodora Joaquina, a 3-11-1855.
Em
10-2-1886, casou-se Eça de Queirós, no oratório
particular da Quinta de Santo Ovídio, propriedade da família
da nubente, com Dona Emília de Castro Pamplona, nascida a
9-6-1857, filha de Dom António Benedito de Castro, 4.º Conde
de Resende (13.º Senhor de Penela, 15.º Sr. de Reriz e
Bemviver, Par do Reino, 18.º Almirante (de juro e herdade)
de Portugal, Porteiro-mor da Casa Real, 8.º Capitão Honorário
da Guarda Real dos Archeiros, Capitão graduado de
Infantaria, Sr. do Morgado de Resende e Comendador da Ordem
de Cristo), o qual nasceu a 30-11-1821 e faleceu a
24-4-1865, e de sua esposa Dona Maria Pamplona Carneiro
Rangel Veloso Barreto de Figueiredo, nascida a 20-8-1819,
filha dos 1.ºs Viscondes
de Beire.
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Estado actual da casa de Verdemilho. |
Dona
Emília de Castro Pamplona era irmã do 5.º Conde de
Resende, Dom Luís Manuel Benedito da Natividade de Castro
Pamplona (nascido a 30-8-1844 e falecido a 23-5-1876,
companheiro de Eça de Queirós na viagem ao Suez) e do 6.º
Conde, Dom Manuel Benedito de Castro Pamplona, sucessor por
morte de seu irmão nos títulos da Casa de Resende (8).
Do
casamento nasceram quatro filhos: Dona Maria de Eça de
Queirós, em Janeiro de 1887, autora do livro “Eça de
Queirós Entre os Seus”; José Maria, a 26-2-1888; António,
nascido em Paris a 28-12-1889, diplomata, escritor,
galardoado com diversas condecorações nacionais e
estrangeiras e que, conjuntamente com seu irmão José,
participou nas Incursões Monárquicas de Paiva Couceiro; e
ainda Alberto, nascido a 16-4-1891.
Eça
de Queirós faleceu a 17-8-1900 na sua residência perto do
Havre. Seu pai faleceu a 30-1-1901, em Lisboa, depois de
haver sofrido a morte de todos os filhos. Foi esta a causa
da ruína da casa de Verdemilho.
O
Conselheiro José Maria de Almeida Teixeira de Queirós,
desgostoso com a morte dos seus irmãos e de, na altura,
alguns dos seus filhos, motivada pela tuberculose, tinha-se
refugiado em Lisboa deixando a casa ao abandono.
É
confrangedor o estado actual do edifício. Encontra-se em ruínas
e muito provavelmente seguirá o mesmo caminho que a casa,
nas Quintãs, onde nasceu o Conselheiro Queirós — a
destruição.
É
a todos os títulos lamentável que a memória das gentes
seja curta. Em breve apenas restará da passagem de tão
ilustres varões por esta zona o jazigo armoriado do
Conselheiro Queirós, e este, mesmo assim, se resistir à
sanha destruidora daqueles que querem negar a História (9).
Numa
freguesia tão carenciada de instalações sociais, seria
extremamente útil a recuperação deste imóvel.
ARTUR
JORGE ALMEIDA
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