Os Milagres de Santo António
Os milagres de Santo António tiveram lugar já durante a sua
vida, dão-se quando ele morre, continuam até hoje, e hão-de
perpetuar-se pelos tempos fora. Iremos apenas narrar alguns
dos actos milagrosos mais conhecidos atribuídos ao Santo.
(Nota)
A par dos milagres, apresentaremos também lendas tecidas à
volta da sua aura e relataremos algumas vivências autênticas,
fruto da nossa fé e devoção a Santo António.
O incrível acontece
Próximo de Brive, em França, Santo António fundou uma pequena
comunidade, cuja pobreza era extrema: faltava-lhes tudo
excepto a coragem e o amor de Deus. Num momento de grande
penúria, António pediu a uma senhora sua amiga que auxiliasse
aquela sua pequena família, enviando-lhe algumas provisões.
Ela acedeu de boa vontade e, apesar da chuva abundante e
persistente que caía, disse à criada que levasse imediatamente
a esmola ao ermitério. A criada obedeceu e, quando voltou,
contou à patroa, com grande admiração que, apesar de chover a
cântaros, não tinha caído em cima dela uma só gota de água,
nem à ida nem à vinda.
Quebram-se os grilhões
Pelos meados do século treze a Itália tremia só ao ouvir o
nome de Ezzelino, que deixava morrer de fome as suas vítimas
nas prisões para onde as mandava lançar. Pádua tinha toda a
razão para temer a mesma sorte, porque quando o tirano se
apoderou, por violência, de Caste-Fonte, às portas daquela
cidade, levou para o cativeiro reféns, entre eles um rapaz
conhecido pela sua vida exemplar e inocente, neto do Senhor de
Castel-Fonte e de Campo San Piero. Semelhantes desacatos
aumentavam naturalmente o terror do povo.
Pediram a Frei António pelo jovem e o santo apressou-se a ir a
Verona e, entrando no palácio do opressor, dirigiu-se-lhe
ousadamente: – "Por quanto tempo, ó cruel tirano, tencionas
derramar o sangue inocente? A espada do Senhor está suspensa
sobre a tua cabeça e terrível será o seu
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juízo quando cair sobre ti".
Os soldados de Ezzelino, escandalizados ao ouvir uma tão
insólita linguagem dirigida ao seu amo, esperavam apenas um
sinal dele para cair sobre o frade. Mas o sinal não foi dado.
Antes pelo contrário, Ezzelino lançou-se aos pés do Santo e
prometeu-lhe emendar-se.
– Parecia-me – dizia depois aos seus soldados – que os olhos
daquele frade dardejavam raios de luz e que eu estava a ponto
de ser precipitado no abismo do inferno".
António não deixou de aproveitar o poder que Deus lhe confiara
sobre o espírito de Ezzelino para pedir, como reparação, a
libertação de todos os reféns. Consta que Ezzelino, a pedido
de António, restituiu a liberdade a Castel-Fonte e a todos os
detidos.
Este tirano prometeu emendar-se mas, como veremos mais
adiante, o mal estava tão arreigado em seu coração que, após o
susto voltou à sua tirania.
Arrependem-se os pecadores
Um penitente do Santo chamado Leonardo de Pádua confessou-se
de ter batido brutalmente em sua mãe e de lhe ter dado um
pontapé depois de a atirar ao chão.
–
"O pé que bateu numa mãe merece ser cortado."
–
foi o comentário do confessor. Comentário imprudente, como se
verá, porque Leonardo, sendo homem rude e ignorante e tomando
à letra aquelas palavras, quando voltou para casa pegou num
machado e cortou o pé culpado, diante de sua mãe horrorizada,
a qual, ao saber o motivo do procedimento do filho, correu
pressurosa a censurar amargamente António.
O Santo aceitou as suas recriminações com humildade e
acompanhou-a até sua casa. Chegando ali, pegou no pé cortado,
adaptou-o à perna, fazendo o sinal da cruz; os ossos
soldaram-se imediatamente, a carne sarou e o rapaz levantou-se
perfeitamente são, dando graças a Deus e ao Taumaturgo
franciscano.
Fogem os perigos
Os hereges de Rímini resolveram libertar-se do Santo.
Convidaram António para um banquete e colocaram na sua frente
comidas envenenadas. O Santo viu imediatamente o ardil que lhe
haviam armado e censurou-lhes a perfídia. Os seus inimigos
acrescentaram o insulto
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ao agravo, apresentando-lhe um dilema ao qual julgavam que ele
não poderia fugir. – "Ou acreditas nas palavras do Evangelho
ou não acreditas. Se acreditas, por que hesitas em comer?
Fia-te nas promessas de Mestre: em seu nome expulsarão os
demónios; tomarão nas suas mãos serpentes e, se beberem
qualquer veneno, ele não os prejudicará. Se não acreditas no
Evangelho, por que o pregas? Portanto, toma e come; se nada te
acontecer, juramos abraçar a fé Católica".
– "Pegar-vos-ei na palavra," – replicou o valente frade, –
"não para tentar Deus, mas para vos provar quanto são para mim
valiosas as vossas almas imortais e o triunfo do Evangelho".
Depois, fazendo o sinal da cruz sobre as iguarias colocadas à
sua frente, comeu-as, sem que nenhum mal lhe acontecesse. Os
seus inimigos cumpriram o seu juramento e voltaram-se para a
religião católica, com todo o fervor.
Em São Juniano Frei António anunciou antecipadamente que o
estrado que lhe tinham preparado ruiria, mas que não
aconteceria mal a ninguém. O estrado abateu no momento em que
o Santo principiava o seu sermão, não havendo contudo vítima
alguma.
Até as bestas dão testemunho
Havia em Burgos um judeu chamado Guillard, que era dos mais
ferozes inimigos do Catolicismo. Os eloquentes sermões de
Santo António tinham-no impressionado, mas sem o convencer
completamente. Uma vez teve uma longa discussão com Frei
António sobre a presença real de Nosso Senhor na Eucaristia,
dogma que, em seu entender, era absolutamente inadmissível.
– Irmão António, – disse o judeu – tenho uma mula, vou
encerrá-la e conservá-la durante três dias sem comer. Ao fim
desse tempo levo-a a uma das praças maiores da cidade, e ali,
na presença do povo, ofereço-lhe uma ração de aveia. O irmão,
por seu lado, aparecerá trazendo a Hóstia que, segundo a sua
opinião, é o verdadeiro corpo do Homem Deus. Se a mula recusar
a comida que eu lhe oferecer, para se prostrar diante da
custódia, far-me-ei católico.
Era um solene desafio e o Franciscano aceitou-o. Enquanto não
chegava a data aprazada, o apóstolo entregou-se completamente
ao jejum e à oração. No dia combinado, Guillard apareceu na
praça acompanhado pelos seus numerosos partidários. Do lado
oposto veio Santo António
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com a custódia que continha o Cordeiro de Deus. No meio da
praça o Santo parou e dirigiu à mula estas palavras:
– Em nome do teu Criador que eu, embora indigno, tenho nas
minhas mãos, ordeno e mando, ó ser privado de razão, que
venhais imediatamente prostrar-te diante do teu Deus, para
que, perante este milagre, os incrédulos fiquem sabendo que
toda a criação está submetida ao Cordeiro que se imola sobre
os nossos altares.
Ao mesmo tempo um dos do partido oposto oferecia aveia ao
animal esfomeado. A mula, sem fazer o menor caso da comida que
lhe ofereciam, obediente à voz do Taumaturgo, foi direita a
ele, dobrou os joelhos ante a Hóstia Sagrada e ficou nessa
atitude de adoração.
Ao presenciarem este evidente milagre, os Católicos atroavam o
ar com os seus aplausos. O dono da mula confessou-se, vencido
e, com toda a lealdade fiel à sua promessa, abjurou os seus
erros. Muitos dos seus correligionários ali presentes, que
sinceramente procuravam encontrar a Verdade, foram também
recebidos na Igreja Católica.
... ... ...
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Os incrédulos tornam-se crentes
Um pobre leproso pediu que o levassem ao Santuário de Santo
António em Pádua. No caminho encontrou um soldado que lhe
disse brutalmente:
– Aonde vais, miserável? Caia a tua lepra sobre mim, se Santo
António conseguir curar-te.
O leproso continuou o seu caminho sem fazer caso dessas
palavras insultuosas, que não tornaram as suas preces menos
fervorosas nem lhe diminuíram a fé. Santo António apareceu-lhe
e disse-lhe:
– Levanta-te, estás curado. Mas procura aquele soldado que
zombou de ti, porque a lepra já começou a devorá-lo.
O homem obedeceu imediatamente e encontrou o soldado a
debater-se com o mesmo mal de que se livrara. Caiu em si o
militar. Arrependeu-se, invocou o auxílio do Santo, de quem
zombara, e ficou também curado.
Por todo o mundo aparecem as coisas perdidas
Toda a história de Frei António está repleta de maravilhosos
favores concedidos aos que invocam a sua intercessão. Os
tristes e os aflitos nunca se cansam de implorar o seu
auxílio; e o Santo nunca se cansa de atender os pedidos que
lhe fazem, como o atestam os inúmeros milagres que há cinco
séculos Ele vem operando em todas as nações. O mais universal
e o que mais irrefutavelmente autenticado está, até ao
presente, é o dom que recebeu do céu, de fazer aparecer os
objectos perdidos.
O facto foi severamente examinado pelos exigentes Bolandistas
que acabaram por admiti-lo devidamente como verdadeiro; e tão
constantes e diárias são as provas desse dom e tantas pessoas
têm tido experiência pessoal deste poder de Santo António, que
todos os dias se vêm juntar novos factos aos já conhecidos,
confirmando assim a crença antiga e constante de que Santo
António nada perdeu do seu poder.
... ... ...
China - Aeroporto de Pequim
No ano de mil novecentos e noventa, estando nós de visita à
China incorporados num grupo de gente de Aveiro, após termos
permanecido alguns dias em Pequim visitando a lendária cidade,
voltámos ao aeroporto, já nessa altura imenso e com um tráfego
enorme. Fomos com bastante antecedência pois as pessoas
estavam à pinha por todo o lado o que dificultava o trânsito
do grupo que precisava, como é óbvio, de se manter unido. Lá
fomos avançando lentamente atrás do guia que nos reuniu num
ponto por ele escolhido, para nos fazer as últimas
recomendações antes do embarque para Xiam. Uma das regras
elementares ao seguirmos para qualquer viagem é ter os
documentos à mão, para podermos apresentar, na polícia de
fronteiras; muitas vezes os bilhetes são entregues ali mesmo
pelo responsável do grupo.
A dada altura a pergunta habitual: – Todos têm o passaporte
consigo?
Após uma resposta afirmativa quase unânime, surge uma voz
aflita: – Não encontro o meu.
Ouviram-se conselhos de todo o lado. Buscas exaustivas por
bolsos, carteiras, telefonemas para o hotel. Tudo em vão.
O que mais nos recomendara o guia local fora que tivéssemos
cuidado com o passaporte; roubos de objectos pessoais eram
muito raros, pois quem se atreve a cometer tal acto na China é
severamente punido, podendo mesmo ficar sem uma mão. Agora no
que tocava a passaportes... arriscavam tudo, mesmo o castigo
mais severo. O povo chinês começava a ver a emigração, para
qualquer parte do mundo, como a salvação e um passaporte era a
chave do problema. Facilmente o falsificavam e tinham ali o
salvo-conduto que lhes poderia permitir a longo prazo, levarem
toda a família dali para fora, após o chefe se ter instalado
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no estrangeiro. – Todo o cuidado é pouco. – dizia o guia. –
Sem passaporte ninguém sai deste país.
Mas o passaporte do nosso companheiro não apareceu em lugar
nenhum. O guia revelou-nos, nesse momento, uma outra realidade
que nos deixou apavorados. Ali ainda ele conseguiria que
alguém viajasse sem documentos pois a viagem era interna.
Porém, quando tivéssemos de regressar, não ficaria retida
apenas a pessoa que não tinha passaporte, mas todo o grupo que
com ele viajava, sem apelo nem agravo.
Foi nesse preciso momento que me voltei para a janela com o
fim de ter um pouco de privacidade e recolhimento. Saquei da
pagela de Santo António que sempre me acompanha e benzi-me,
para começar a rezar o Responso. Curiosamente, bem juntinho a
mim, uma outra senhora tivera a mesma ideia; tínhamo-nos
conhecido uns dias antes e ficámos amigas para sempre. Rezámos
juntas, ambas cheias de devoção e ao terminar, fomos alegres,
dizer ao implicado, ao guia e ao responsável que poderiam
ficar tranquilos pois o passaporte iria aparecer. Não fizeram
fé em nós, embora lhes explicássemos a razão da nossa certeza.
Embarcámos, depois de várias diligências do guia local que ali
tinha conhecimentos. Fizemos uma viagem normal e ao chegarmos
a Xiam, para nosso grande desconforto, o guia e o nosso colega
foram directos à polícia, onde passaram o resto do dia,
ficando o homem assim privado da visita que ali fizemos. Nós
bem insistimos que não era necessário, mas quem não tem fé não
acredita.
Já à noitita, estávamos na recepção do hotel, eu e a minha
amiga sentadas em amena cavaqueira, aguardando a volta dos
dois que demoravam a chegar da polícia, quando os vimos entrar
totalmente abatidos. Estar quase um dia inteiro, numa esquadra
chinesa, é dose para leão!
Tentámos sem êxito animar o coitado, procurando transmitir-lhe
a certeza da nossa fé. O homem subiu ao quarto enquanto nós
ali relaxávamos, tranquilas. Não eram passados vinte minutos
quando vimos surgir do lado dos elevadores o nosso amigo, com
o ar mais radiante do mundo. Ao ir mudar de roupa,
casualmente, pegou numas calças pelo fundo, voltando os bolsos
para baixo e algo caiu ao chão. Olhou a ver o que era e lá
estava o passaporte, a rir-se para ele...
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