Ainda Viegas, Santo António. A Freguesia e o Padroeiro, 1ª ed., Aveiro, Maio de 2011, 160 pp.



Prólogo

O INSTINTO gregário do Ser Humano levou-o desde os tempos mais remotos pelos factores mais díspares, a juntar-se em comunidades distintas, consoante a época, o local e muitas outras causas de vária ordem.

A nossa sociedade, tal qual uma árvore, necessita de ter raízes fortes, não podendo prescindir delas para se manter erecta e se apresentar pujante de vida, com bons frutos. O Homem tem absoluta necessidade de conhecer o historial daqueles de quem descende para se sentir alguém no meio da multidão, ter a sua identidade, a sua vida própria, o seu lugar único numa sociedade que é de todos, e de cada um, e onde todos devem estar empenhados.

Saber de onde viemos dá-nos personalidade e segurança. Conhecer a evolução que teve, ao longo dos anos, a comunidade onde a nossa vida se desenvolve, estimula-nos a podermos fazer a escolha do caminho que pretendemos seguir e a recolher experiências dos que nos precederam, de modo a usufruir delas no presente, com vista a melhorar o futuro.

É nosso objectivo falar de Santo António, lembrar um pouco da sua edificante história de vida, dos seus feitos miraculosos e da devoção que lhe têm tantos milhões de pessoas por esse mundo além, desde que ele se começou a manifestar como intercessor poderoso junto de Deus: Santo António, um Santo Português que pelo seu exemplo de vida se tornou universal. Esse Homem / 6 / sabedor, que se dedicou a estudar e a ajudar todos os que dele necessitavam, abdicando dos bens terrenos e dos títulos de nobreza, é um belo exemplo para todos nós que, obcecados num mundo de consumismo, dedicamos pouco do nosso tempo a assuntos bem mais importantes que o Ter: os assuntos do espírito que nos reportam ao Ser.

Foi esse grande Português que os habitantes da freguesia de Santo António de Vagos elegeram como protector e Padroeiro, desde longa data. Não obstante noutros tempos ter sido aqui festejado S. Tomé, cuja imagem ainda existe na igreja local (sendo antes a festa em sua honra a 25 de Julho), Santo António foi desde sempre o Santo de maior devoção deste povo. A última festa a S. Tomé teve lugar no ano de 1967. Num processo de evolução natural, foi decidido pelo povo que Santo António passaria a ser seu Padroeiro oficial e festejá-lo-iam, em lugar de S. Tomé, no fim-de-semana mais próximo do dia 13 de Junho. Também foi acordado dar o nome de Santo António à paróquia então já existente e à futura freguesia.

Evocando marcos remotos da história da freguesia de Santo António e seu Padroeiro, apresentamos dados que compilámos com prazer e dos quais deixamos registo para conhecimento dos presentes e vindouros.

No quadro a preto e branco da memória colectiva de um povo, estes dados serão umas simples pinceladas de cor contra o rodar inexorável do tempo que, de outra forma, insistiria em dispersá-la e esbatê-la, extinguindo-a a pouco e pouco.

A experiência mostra-nos que a vida, olhada à distância, tem outro colorido e dá a quem se detiver a ponderar um valor real dos esforços dispendidos, dos obstáculos vencidos e de quanto o Homem é e será sempre capaz de nos surpreender com a sua força criativa e inovadora.

Aida Viegas


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