Aida Viegas, O Tempo das Delícias (poesia), Cucujães, 1999, p. 9.

Tempo das Delícias

Tempo das delícias era aquele
Em que no meu rosto brilhavam sóis.
Floriam rosas no meu colo
Amadureciam frutos no meu seio

Meu corpo emergia em banhos de luar

Minha alma era tão cristalina
Como o mais puro dos cristais.
Pela alvorada bebia a água das nascentes.
Todas as fontes eram virgens.
Todo o ser humano inocente.
Um halo de candura me cercava.

Eu seguia no rasto das estrelas.
O amor era a benção suprema.
Todos os frutos tinham o gosto do mel da floresta
E o pão tinha um sabor a terra.
O Sol doirava os trigais.
O prado era mais verde, o céu mais azul
O mar sorvia cor ora de um ora de outro
E bordava as suas ondas com laivos de prata.
Era o tempo onde reinava apenas o sonho e a quimera
O tempo da esperança e da espera.
Tempo de ansiar o desejado
Era o dia jamais terminado.

Tempo das delícias é hoje o tempo da degustação da vida
Os sabores são mais fortes, o gosto mais apurado.

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