Os discursos proferidos

  Engº Manuel Bóia
 

PRIMEIROS "CALOIROS" DO LICEU NOVO - um elo muito forte!

Comunicação integrada na efeméride ALUNOS DO LICEU NOVO - 1952-2002

12-10-2002 

 

Éramos cento e cinquenta e cinco,
Mas Deus já levou alguns de nós.
O que há para evocar hoje?
Muito bons tempos, com todos vós!

                                   A COMISSÃO

 

Senhora Presidente da Assembleia da Escola
Senhor Presidente do Conselho Executivo
Senhores Convidados
Senhores Professores
Colegas

 

Nesta significativa hora, temos de agradecer por palavras, que não sabemos exprimir, a alegria da Comissão Organizadora deste encontro, ao ver-se rodeada de amabilidades:

— pelo Conselho Executivo, a quem cumprimentamos com respeito e consideração;
— pelos antigos Srs. Professores, a quem veneramos com infinito carinho;
— pelos Srs. Professores mais novos, que renderam os primeiros e inclusive deram formação aos nossos filhos;
— pelos zelosos Funcionários Administrativos, de quem distinguimos a competência e a prática;
— pelos pacientes Funcionários Auxiliares, a quem os alunos mais buliçosos têm sempre dificuldade em tomar a sério;
— pelo imenso rol de colegas, gente mais velha ou ainda jovem, mas sempre inquieta nestas confraternizações, lembrando outros tempos — julgando os gestos mais característicos dos mestres, evocando algum ressentimento ou protesto, elogiando as sátiras da altura...

Ora, reza a história que nós, os primeiros 155 "caloiros" desta Casa, nos encontrámos pela primeira vez há rigorosamente cinquenta anos.

Entretanto... ouvimos aulas, frequentámos trabalhos práticos, fizemos exames, que produziram inevitáveis cólicas, não deixando, todavia, grandes vestígios.

Aulas e exames que não eram nenhuma cruz para os Srs. Professores, pois os seus sentimentos paternais ou maternais a suavizavam. Constatávamos, sim, que desempenhavam o ofício por vocação, não por honrarias nem por dinheiro, nem mesmo por mero dever. Antes tomavam a peito cumprir a sua função, por amor aos alunos e à escola.

Todos componentes, portanto, de um mesmo e só ambiente de comunhão de interesses, em prol do dignificar da Educação!

Vamos recordar, então, aqueles que, em 1952, ingressaram no ensino liceal e se iniciaram, assim, de forma importante, com a inauguração do Liceu novo. Grande triunfo será, todavia, por Graça de Deus, o estarmos aqui hoje, bem acolhidos neste ginásio, que revivemos como sala-mãe dos nossos sonhos, dos nossos passos.

Cada momento individual será valorizado por uma estimulante encenação, verdadeiramente inédita, por feliz ideia e persistente vontade de um membro desta comissão, o colega Matos dos Santos, a quem felicitamos publicamente.

Veremos, naquele improvisado ecrã, as nossas feições à época — com a vossa tolerância, chamar-lhe-emos de preferência as nossas "carinhas" —, graças ao esforço de uma autêntica "régie", accionada por um único operador-produtor, o Dr. Henrique de Oliveira, professor da Escola, especialista em sistemas digitais e a quem agradecemos o espírito de cooperação.

E, porque é oportuno, destacamos o pesado encargo que a colega Maria Adelaide Borges suportou com a organização cuidada do almoço. Parece só haver pretextos para elogiar a escolha que propôs. Não houve carências e o serviço agradou. Obrigado também.

Impõe-se, igualmente, referir um colega que, não pertencendo à Comissão promotora do arranque, teve forte influência na realização do Convívio, fazendo-o com grande esforço de disponibilidade — o Artur Cunha, ao qual endereçamos o nosso bem haja.

Sucedeu, também, haverem dado grande vigor aos trabalhos preparatórios a ilustre Presidente da Associação dos Antigos Alunos do Liceu de Aveiro, a colega Graciete Peixinho, e os professores da Escola José Estêvão, Dr. Arsélio Martins, Dr.ª Susana Santos e Dr. Manuel Gaspar. Como a sua atenção e empenho foram úteis e de exaltar!

Quanto à missa desta manhã, que tocou bem fundo nas nossas almas, certamente é de consenso comum elogiar a orgânica cerimonial, sob a responsabilidade da antiga aluna, Dr.ª Teresa Correia. No mesmo sentido, sublinha-se a participação de sete dotadas vozes, com um coeficiente de execução muito acima da média, ou não fossem os elementos que escutámos componentes do grupo coral sacro de Aveiro, "Graduale", bastante motivados e na sua melhor forma.

Alguns obstáculos, por vezes bem dispendiosos, foram removidos com o apoio da Câmara Municipal de Aveiro e do Conselho Executivo da Escola. Obtivemos acesso a meios essenciais e facilidades logísticas que atenuaram as nossas tarefas — demonstrando actos e propósitos desinteressados, suficientes para fazermos sentir, a ambas as entidades, como lhes estamos muito gratos.

E passamos agora, sempre animados de forte espírito de AMIZADE, a um dos mais aguardados actos do dia de hoje: a chamada, por turmas, dos 59 "caloiros" inscritos nesta confraternização.

Acrescentamos não poder citar os nomes de outros 52 condiscípulos, porque desconhecemos onde residem, onde trabalham, onde estão ou estiveram inseridos, apesar de tudo, ou quase tudo, havermos feito para os localizar. Nesta lista, infelizmente mais extensa do que imaginávamos, há ainda a integrar três Srs. Professores e um Funcionário Administrativo, de quem igualmente nada sabemos das suas vidas.

Oxalá, mais tristemente, não os tenhamos de incluir no número dos que já cumpriram o seu dever terreno.

A esta grande família, desejamos associar 36 contactados que, apesar de gratos pela mensagem lhes ter chegado, se encontram impedidos, no entanto, de viverem o dia de hoje connosco, por residirem no estrangeiro ou por razões válidas, inadiáveis.

Neste intervalo de tempo, fomos acompanhados pelo prestigioso grupo aveirense de Saxofones, dirigido de forma superior pelo Prof. João Figueiredo, quarteto que se incorporou com muito mérito nesta solenidade.

Como o objectivo é comparar as feições actuais com as "carinhas" da altura, pedimos aos colegas, à medida que vão sendo nomeados... mas pela positiva!, a maçada de se levantarem e darem alguns passos até junto da Comissão Organizadora, de quem receberão um modesto, todavia lapidar, documento de recordação desta hora feliz.

Ora, porque estamos compenetrados de constituir mesmo um elo dos mais fortes, vamos principiar:

Pedimos o auxílio da Chefe de Turma da "A", função que temos o gosto de fazer reviver e a quem damos a honra de chamar as colegas presentes, não com o interesse de lhes marcar falta, mas de premiá-las por terem aqui vindo celebrar este evento.

(Acontece, excepcionalmente, que não a localizámos em tempo oportuno e a Sub-Chefe, mesmo pensando muito em nós, não se inscreveu. Assim, a solução encontrada foi indigitar a colega da mesma turma e membro da comissão organizadora, Maria Adelaide Borges, que vai fazer maravilhas com a promoção, por unanimidade, a Chefe... )

Chamamos, de seguida, a Sub-Chefe da "B", a Maria Manuela Correia Nóbrega da Silva. Esta, sim, não faltou à chamada!

Entrando nas turmas masculinas, vamos agora sobrecarregar com tão pesado trabalho... o incontestado Chefe da "C", Lívio José Salgueiro Carneiro da Silva.

Cabe, naturalmente, neste ritual, identificar os Srs. Professores titulares das disciplinas do 1º ano de 1952/53 e aqui presentes.

A sua posterior deslocação ao palco será uma prova mais de generosidade, senão mesmo de algum sacrifício e a reserva daquelas cadeiras, onde vão fazer o favor de se sentar, significa a retribuição do sentido humanista com que nos trataram. Desde já, pois, o nosso reconhecimento.

Começamos pelo decano dos professores presentes, o Sr. Dr. António Fernando Rocha, que associamos a esta efeméride na qualidade de Vice-Reitor.

Os seus sentimentos eram consonantes com as atitudes de cidadão, as suas convicções mereciam respeito, pertencia a um escol que sabia comandar, apesar de ainda muito novo.

E quando foi necessário substituir o egrégio Reitor, Dr. José Pereira Tavares, recebeu o ceptro com muita fé no futuro, mostrou inabalável firmeza de vontade, usando sempre palavras disciplinadoras, benévolas para quem, a seu ver, não prestasse a contento as funções confiadas.

O Sr. Dr. António Rocha era sóbrio e possuidor de uma extrema fidalguia, ficando ligado a esta cidade na actividade administrativa, pois as suas opiniões prendiam a atenção. Foi um prazer conhecê-lo de perto, e é um momento de felicidade tê-lo de novo entre nós, dez lustros depois!

A palavra seguinte vai para quem sempre vimos enérgica e a correr célere, elementos acentuados de um expressivo e humano temperamento: a Sra. Dr.ª Virgínia de Carvalho Nunes. Como nos foi útil, ao máximo, na fundamental aprendizagem da Língua Pátria, levando-nos a apresentar hoje o seu nome em público com muito orgulho, ao dizer bem alto quem nos preparou, quem teve mérito em dotar-nos de um perfeito ensino do Português!

E como a memória neste dia não pode falhar, recordamos as peculiares exigências em matéria de pontuação, circunstância que leva a divulgar um caso curioso: a quadra-base criada foi previamente vista por gente que também sabe de prosa e verso, não fosse a Sra. Dra. Virgínia, com toda a autoridade, achá-Ia imperfeita, nas vírgulas ou nos pontos-e-vírgulas...

Referimos agora a presença da Sra. Dr.ª Isaura de Oliveira Rocha. Muito nos interessavam as suas aulas, porque tinha a preocupação de inculcar em nós uma revelação importante — a de que o ensino visa algo de muito útil: preparar os novos a vencer as competições da vida, pois só apoiados na solidez e riqueza dos conhecimentos adquiridos se chega às vitórias. Soube, assim, semear boa semente e soube lançá-la em boa ocasião.

Sr.ª Dr.ª Isaura, hoje animosa ilhavense, sentimo-nos muito honrados em ter sido seus alunos e, em tudo o que seja realizações festivas, não a queremos perder de vista!

Cumprimentamos a Sr.ª Dr.ª Marta Soares Campos, que naquele longínquo ano escolar de 52/53 era a docente de Matemática das quatro turmas do 1º ano. Que preocupação não teria, que motivação e concentração não precisaria de usar para que a aprendizagem fosse receptiva e o ensino das matérias não se repetisse! E porque cada turma rondava os trinta e nove alunos, como era pesada cruz corrigir cento e cinquenta e cinco exercícios do mesmo ano, eventualmente produzidos numa semana!

A Sr.ª Dr.ª Marta, porém, nunca teve um estatuto de severidade, daí a humanização das suas aulas, daí o sentimento geral de que não podia faltar aqui hoje, daí a ansiedade, por parte de muitos, em a rever, em a receber com muita alegria!

As meninas-colegas dispunham, para sua formação, de um modelo de aulas, cremos que vivido sempre em desintoxicante grau — o da disciplina de Lavores. Os momentos mais temíveis das cadeiras principais eram, então, substituídos por um trabalho diferente, onde as qualidades femininas tinham uma relação íntima e directa com actos, gestos ou experiências a desenvolver, quase obrigatoriamente melhor, quinze ou vinte anos depois.

Que havia motivação suficiente por parte da Sr.ª Profª. D. Maria Furtado — aqui representada pelo Ex.mo marido, Sr. Dr. Hernâni Ribau, igualmente professor da Escola —, éramos nós os rapazes a ser fiéis testemunhas, pois a exposição anual de trabalhos constituía sempre um cartaz qualificado do modo perfeito e eficiente como tinham decorrido as aulas. E, como a prosápia juvenil já funcionava, louvávamos a originalidade, mas tentávamos descobrir defeitos, que de facto não existiam...

Não acabaremos este agradável encargo sem falar do Sr. Pe. Dr. Agostinho Rebimbas, cuja ausência muito nos contrista, de quem recordamos as famosas Sabatinas porque, vividas com alguma paixão, eram mobilizadoras de um despique cultural entre duas listas, adentro de cada turma. E o maior valor ia para os que, com toda a transparência, sabiam mais, pois o julgamento provinha da adição de pontos, numa aferição fruto do estudo e conhecimento das matérias de Religião e Moral.

E porque somos sensíveis ao facto de, nos dois últimos meses, a saúde do Sr. Pe. Rebimbas lhe ter proporcionado menos conforto, deixamos um voto ardente: praza a Deus que continue activo e por muito tempo!

Entretanto, estão ali oito cadeiras, todavia ainda só foi anunciada a ocupação de seis...

É que torna-se nosso dever convidar para este acto duas pessoas que também fizeram algo de útil por nós, merecendo uma parcela das homenagens.

Ambas as figuras a distinguir cumpriram a sua missão, de forma raramente compreendida pelos alunos, por mais rectas que sejam as orientações. Referimo-nos a dois funcionários, então auxiliares, que saudamos igualmente, pois o seu trabalho honrado mostrava o seu amor à profissão — a D. Mariazinha Estimado e o Sr. João Peixinho.

Oportunamente, irão sentar-se naqueles lugares de honra.

Toda a emoção vivida neste acto vai ter agora, contudo, a expressão da saudade.

Oito professores, dois técnicos de saúde escolar, dois empregados administrativos e oito funcionários auxiliares que, através de mil dificuldades, se entregaram ao Ensino naquele nosso primeiro ano, consagrando o máximo das suas disponibilidades aos que recebiam as bases liceais, deram, entretanto, as suas vidas ao Criador. Merecem, certamente, uma justa paz.

Quanto aos oito colegas cujo convívio também perdemos, o nosso sentimento de saudade é, porventura, mais profundo. Com comoção, estamos certos, ao lembrarmo-nos das suas feições, recordamos as suas personalidades, evocamos algumas acções conjuntas, de assinalado interesse pessoal ou colectivo.

A falta das suas presenças físicas aqui não constitui motivo, pois, para deixar de testemunhar, em breve silêncio, um enternecedor respeito pelas suas figuras, como docentes, não docentes ou companheiros, enfim, AMIGOS cuja perda deploramos.

Para finalizar, garante-se que nenhum dos 155 caloiros de 52/53 foi preterido.

Nada mais educativo do que socorrermo-nos da aritmética, tirando a prova real:
 

Assim, de  

155

 
Desconhecemos as moradas de   - 52  
Ficam, portanto,   103  
Deixaram-nos precocemente   - 8  
Sobram   95  
Apesar de contactados, estiveram ausentes   - 36  
Restam, então,   59  
Registamos já a presença de   - 55  
Para repor a totalidade, faltam   4  

     

São estes quatro vossos condiscípulos, que aqui se mantêm em vigília e quiseram partilhar, sob uma motivação diferente, o espírito dos "muito bons tempos", numa missão que nos deu um raro prazer.

Gastámos algum tempo a preparar este encontro, mas ninguém tem que nos agradecer. Como impusemos a nós próprios, na dignidade e exactidão, residiriam os traços mais gerais do convívio. Se não cumprimos a total contento, escutaremos as vossas críticas com humildade.

Fixando-nos nas ultimas imagens, apresentamos:

- O Menino Artur Manuel da Graça e Cunha
- A Menina Maria Adelaide Cerqueira, hoje Borges
- O Menino António Luís Matos dos Santos
- Do Menino Manuel da Silva Pereira Bóia, assinalamos simplesmente ser um dos três benjamins de todos os "caloiros", com nove anos.

Logo, hoje, na frescura dos 59, prezam-se de ainda não serem sexagenários!...

Só mais uma palavra: o caminho que nos comprometemos a trilhar não está totalmente cumprido.

É de justiça debruçarmo-nos, por momentos, sobre os Srs. Professores que, não nos tendo ensinado no 1° ano, nos ajudaram a percorrer — na grande maioria até ao sétimo —, a carreira liceal.

Alguns, já bastante amadurecidos pelos anos, vieram conviver connosco, pelo já referido interesse por esta Escola, pela motivação constante de rever antigos colegas e alunos, pela humana alegria de se sentirem realizados como Mestres.

Saudemo-los com um não menor carinho, louvor e gratidão, recordando a clareza e qualidade didáctica com que nos formaram.

E porque não exaltar também as centenas de colegas mais velhos ou mais novos que, no decurso dos 50 anos, passaram neste edifício, em especial o jardim da família feminina, sempre relevante, porque era encantador e atraente?

Alguns exercem missões públicas ou empresariais de proeminência, recaindo sobre si enorme responsabilidade. Sentir-se-ão, porventura, remoçados com esta iniciativa, fazendo nós votos de que a reunião, com raízes de vivência cultural, se tenha convertido num importante estímulo e conforto, pois preocupações, angústias e desgostos não lhes faltarão!

Como acentuaram, nas suas análises e de forma análoga, os distintos Presidentes da Assembleia da Escola e do Conselho Executivo, respectivamente Dr.ª Maria da Céu Cruz e Dr. Alcino Carvalho, aos membros que integram a Escola Secundária José Estêvão hoje ou aos que integraram o Liceu Novo ontem, tal património moral pertence-lhes duradouramente.

Almejando, então, as maiores venturas para os que nos deram o prazer de participar, separamo-nos, porque vamos mudar de sitio... Iremos fazer companhia aos nossos, que estão impacientes por subir àquele palco — talvez com a mesma satisfação de há 50 anos! —, para uma foto de família mais restrita, quiçá histórica, pois há-de constituir, ao longo dos tempos, um perfeito memorial!

Enfim, louvando Deus por este espírito de comunhão de afectos, a todos expressamos a nossa gratidão sem limites, um muito obrigado.

Tenho dito!

Manuel Bóia


Página anterior Página inicial Página seguinte