17º Festival Nacional de Folclore - 7 de Julho de 2001 – pp. 32 a 34

Rancho Etnográfico de Cebolais de Cima

Cebolais de Cima é uma populosa e progressiva freguesia do Concelho de Castelo Branco, da qual dista 10 Kms., de gentes ordeiras, crentes e trabalhadoras, quase paredes meias com o alto Alentejo e Espanha.

O Rancho Etnográfico de Cebolais de Cima é lídimo representante e intérprete das danças e cantares da Beira Baixa, nomeadamente da coreografia e melodias que se volteavam e entoavam nos tempos de antanho, nesta industrializada região.

A freguesia de Cebolais de Cima ficou afamada por ser terra de moças alegres, jeitosas e presumidas e por possuir muitos e belos cantares que os Cebolenses entoavam de improviso, tanto ao som do harmónio, como ao ritmo plangente da guitarra e do bandolim. Nestes cantares, autênticas estrofes de amor, escárnio e mal dizer, ora se invocavam os variados temas de sabor campesino, ora hinos de amor ao trabalho, ora sentidas odes às suas "dulcineias", quase sempre vazados / 33 / em sentidas quadras de redondilha maior, de saborosa frescura popular, fácil espontaneidade e aguçada brejeirice.

Esta terra, que em 1518 mais não era do que um rústico monte, pertença de Gonçalo Pai, tomou primitiva designação de Sabolal, por possuir, no seu termo, terra arável, propícia e predestinada para a plantação de cebolas, topónimo este que veio a dar origem ao actual nome de CEBOLAIS.

Com o transcorrer dos anos, o quase insignificante burgo, começou a espreguiçar-se, a lançar os seus tentaculares objectivos para mais diversificada actividade, acabando por abandonar, quase por completo, a lavoura, para se lançar arrojadamente na senda absorvente da industrialização.

As raparigas vestiam alegre e senhorialmente roupas finas e a alvura da sua pele logo dava a entender que eram moças que não labutavam no campo, mas sim em casa, no fabrico dos tecidos. A saia era normalmente de uma só cor, geralmente azul ferrete, encarnada, amarela ou cor-de-rosa, de tecido bastante fino, larga, quartapisada de escarlate, bastante acima do artelho. Meia de algodão branca, com abertos. Pé com calçado preto de polimento, blusa com farfalhudas rendas e xaile geralmente verde, cor de vinho ou escarlate. Ao pescoço uma gargantilha de grossos bagos ou um cordão ou um grilhão, atado em nó, de cuja extremi8dade pendia um coração, uma pestana ou uma cruz. Das orelhas ficavam suspensos os brincos. Tudo de ouro de lei.

Os homens não sentiam, como as mulheres, necessidades de atavios. Assim eram parcos no vestir. Usavam, como roupa interior, apenas camisas de linho e ceroulas com fitas, para segurarem as peúgas, à altura da meia canela. Exteriormente calças de surrobeco, colete com duas idas de botões e bolsos para a corrente de prata, para o relógio e para o dinheiro. Nas costas uma jaqueta de surrobeco ou de brixe e na\cabeça uma carapuça, feita de lã, ou chapéu de felpo de copa redonda.

Nos pés botas de bezerro atadas com cordões de cabedal, ou sem atacadores, mas com elásticos e a segurar as calças, uma larga cinta franjada, geralmente de cor preta. Para resguardo do frio, os homens usavam os gabões.

Nesta localidade, embora as metamorfoses do desenvolvimento
/ 34 / quase tudo tenham absorvido, na sua voragem avassaladora, o certo é que mesmo assim ainda vão subsistindo alguns artesãos que se dedicam à sempre difícil e laboriosa arte de tecer mantas e mantéus, em toscos e anacrónicos teares manuais, convertendo assim, os fios das diferentes grossuras e contexturas, que saem das vetustas rocas, argadilhos e dobadouras, em artísticos e coloridos cobertores, passadeiras e colchas.

As músicas e cantares que utiliza o "Rancho Etnográfico de Cebolais de Cima", eram entoadas e dançadas tanto nas festas caseiras, como nas matanças dos porcos, nos casamentos, onde não faltava o imprescindível e saboroso "descante" e sempre que havia reuniões populares, bem como quando o povo se deslocava, em rancho, a caminho das romarias da Nossa Senhora dos Remédios, da Nossa Senhora da Guia, da Nossa Senhora de Mércules, de Nossa Senhora da Póvoa, etc..

Parte do reportório musical mereceu-nos uma cuidadosa prospecção, na região que nos serve de berço, bem como junto das pessoas mais idosas desta zona geográfica.

Quase todas as danças são de roda, denominador e elo comum dos bailados da Beira Baixa, e incluem alguns os tão donairosos passos trespassados, soleados trepidantes, marcações em linha, cadeachos, redondilhas, malhões da Beira, sempre dançados com virilidade, elegância e a beleza peculiar das azougadas gentes da Beira Baixa.

 

 

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