16º Festival Nacional de Folclore e 9º Internacional - 8 de Julho de 2000 – pp. 6 a 8

 

Casa Gafanhoa

Um pouco de história


De um dia para o outro, a Gafanha da Nazaré começou a ser invadida pelas construções em altura. O preço elevado dos terrenos para construção nas artérias mais centrais, proporcionava isso mesmo. E foi precisamente aí que a Direcção do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, presidida por Alfredo Ferreira da Silva, sentiu que as velhas construções, algumas de traça típica, estavam ameaçadas pelo camartelo. Estavam a morrer sem dizer ai e sem deixarem vestígios para os vindouros apreciarem o que tinha sido o viver do dia-a-dia dos gafanhões dos princípios deste século, prestes a terminar. Esse sentimento ditou o alerta para a preservação de alguma coisa que ainda restasse de significativo. Iniciou-se a recolha, estudo preservação de móveis e utensílios de casas que desapareceram, tragadas pelo tempo e pela especulação imobiliária que de um dia para o outro invadiu a Gafanha da Nazaré, e sonhou-se com a preservação de uma casa representativa de uma época.

Do sentimento à acção não distou muito tempo. Conversa e mais conversa uns com os outros, do sonho passaram ao desejo de preservar uma casa gafanhoa que reunisse algumas características dignas de nota e até de museu. Recheio não faltava. Impunha-se escolher uma casa, adquiri-la e recheá-la para as gerações mais novas e para as gerações mais novas e para os visitantes poderem contemplar uma casa dos nossos avós.

A escolha recaiu na casa de Vergílio Ribau, como ainda se lê por cima da porta da sala do Senhor, em lugar central da Gafanha da Nazaré, na rua S. Francisco Xavier, bem perto da Igreja e de outras infra-estruturas sociais da vila. Tratava-se de uma vivenda de lavrador rico, que fora também proprietário e gerente de uma empresa de bacalhau, dos anos 1920/30, bem conservada e com possibilidades de restauro a condizer com o sonho alimentado / 7 / pela Direcção e por quantos vivem os problemas histórico-etnográficos com a devoção.

Não seria uma casa de lavrador pobre, que essa já não seria fácil encontrar em razoável estado de conservação, mas uma família que, tendo outras posses, nunca deixou de amanhar a terra e dela tirar algum sustento para o agregado familiar. Além disso, mantinha traços genuínos com a frente com uma porta e duas janelas e o telheiro e o celeiro ao lado, e ainda com um acesso lateral que conduzia à cozinha e ao pátio interior, à volta do qual se situavam os currais dos animais. As divisões eram pequenas e havia sinais evidentes de usos e costumes próprios dos nossos ancestrais.

Da ideia e do sonho partiu-se ao encontro da sua concretização. Em 1991, o Grupo Etnográfico entrega em mão, na Costa Nova, ao então primeiro-ministro Cavaco Silva, uma petição para a aquisição da já desejada Casa Gafanhoa e, no mesmo ano, a Secretaria de Estado da Administração Local e do Ordenamento do Território sugere que deveria ser apresentada uma candidatura aos Programas de Equipamento, junto da Comissão de Coordenação da Região Centro, o que foi feito por intermédio da Junta de Freguesia e da Câmara Municipal de Ílhavo em 1994.

No momento da discussão do Plano Director Municipal (PDM), na altura da presidência da Câmara de Humberto Rocha, o Grupo Etnográfico alertou a autarquia para a necessidade de ser contemplada a Casa Gafanhoa já devidamente identificada. Depois desse alerta, a Câmara de Ílhavo tentou negociar o imóvel com os proprietários, sem que o tenha conseguido. E foi no mandato de Ribau Esteves que o negócio se concretizou, para gáudio de todas as partes, em especial dos que acreditam ser esta a melhor solução para o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré poder mostrar às gerações actuais e futuras o que foi e como foi o viver dos nossos avós.

A Casa Gafanhoa, devidamente restaurada em obediência a todas as regras históricas, etnográficas e arquitectónicas, vai servir de museu vivo, depois de mobilada e revesti da de todos os pormenores / 8 / que definem a sua época, ou seja, as décadas de 1920/30 (ver descrição na brochura de 1998).

Em Agosto poderá proceder-se à inauguração da Casa Gafanhoa, se entretanto as obras forem concluídas e houver tempo para a montar com todo o rigor histórico. A partir daí, passará a ser um museu etnográfico, com muito que contar a quem o visitar.

Fernando Martins

 

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