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Largo
do Governo Civil. Clicar na imagem. |
Após a instauração da
República foi dado o nome do Marquês de Pombal à praça que ainda hoje se
chama assim. Reconhecimento da edilidade ao grande estadista, benfeitor
e incentivador da vila de Aveiro que elevou à categoria de cidade em
1759.
Na primeira década do século XX, Aveiro sofreu uma das suas maiores
transformações urbanísticas e iniciou uma das obras que mais celeuma
desencadeou.
A Praça do Marquês de Pombal, que há cerca de dois séculos era um
emaranhado de pequenas ruas e vielas, tornou-se um espaço amplo e
airoso: o Largo do Governo Civil, como vulgarmente é denominado.
Em 1759, no local do velho Terreiro das Carmelitas e quase encostada às
muralhas, foi iniciada a construção do palácio do visconde de Almeidinha,
onde se realizavam memoráveis e caritativas festas de grande
concorrência e elegância. Em 1852, quando a rainha D. Maria II visitou
Aveiro, o palácio serviu-lhe de residência.
Em 1888, o Dr. José Maria Barbosa de Magalhães, presidente da comissão
executiva delegada da Junta Distrital, propôs que nas ruínas do palácio
do visconde de Almeidinha – destruído por um incêndio na noite de S.
João de 1871 – se erguesse um amplo edifício para a instalação das
principais repartições de feição distrital. A elaboração do projecto foi
confiada ao Eng.º José Maria de Melo de Matos, que deu o seu trabalho
por concluído a 15 de Setembro do mesmo ano. O novo edifício, de 42
metros de comprimento por 16 de largura, foi inaugurado em 1901. Ali
funcionaram, além do Governo Civil e da Junta Geral do Distrito, várias
repartições públicas.
Ao pretender alargar a rua em frente ao novo edifício do Governo Civil,
a Câmara Municipal de Aveiro provocou, em 1905, uma das mais apaixonadas
polémicas locais e até com carácter nacional. Isto porque o alargamento
iria mexer com as dimensões do Terreiro e, principalmente, com o próprio
convento das Carmelitas.
O convento, da invocação de S. João Evangelista, foi mandado construir,
a partir de 1610, por D. Brites Lara, destinando-se à Ordem dos
Carmelitas Descalços. Manteve-se intacto até 1905, após o que toda a ala
norte do claustro foi cortada e desventrada. A igreja permaneceu, talvez
por milagre! Numa das alçadas do templo e na antiga Rua das Carmelita
(local de concentração de judeus) foi colocada uma placa toponímica com
o nome de Joaquim de António de Aguiar, vulgarmente conhecido por "mata-frades".
Com sinais visíveis de violenta amputação, no que restou do convento
carmelitano, estão agora as instalações da Polícia de Segurança Pública.
Em frente ao edifício do Governo Civil, do outro lado da praça, pode-se
apreciar uma obra da segunda metade do século XIX – Casa de Santa Zita,
desde 20 de Janeiro de 1957. Foi propriedade do visconde da Granja, a
quem coube a remodelação do palacete, valorizando-o com uma das melhores
obras de azulejaria da conceituada fábrica Fonte Nova. Esta iniciativa
evitou que a casa fosse demolida, dando passagem à projectada avenida
que ligaria o Governo Civil à Estação de Caminhos-de-Ferro.
Na década de 1940, o Eng.º Duarte Pacheco mandou construir o edifício
dos Correios, destinado a substituir a velhinha estação que funcionava
num dos antigos edifícios fronteiros à Câmara Municipal de Aveiro.
Do outro lado da praça, o Colégio do Sagrado Coração de Maria deu lugar
ao Palácio da Justiça, construído, na década de 1960, por uma vasta
equipa de presos, e inaugurado a 8 de Julho de 1962.
Ao lado, uma bela vivenda do século XVII, pertença do Dr. Armando de
Azevedo, foi demolida e, no mesmo local, levantaram um prédio onde hoje
se encontra um café e diferentes estabelecimentos comerciais. Nos andares
de cima, moradias, escritórios de advocacia e consultórios médicos
completam o conjunto.
O quiosque da Sr.ª Cândida Raposo foi o primeiro comércio a aparecer na
Praça de Marquês de Pombal, em meados do século XX.
Embora mais despida de árvores e canteiros, a famosa Praça do Marquês de
Pombal é um dos principais logradouros aveirenses.
Muito mais se poderia dizer sobre este espaço, mas, desculpem os
leitores, outras oportunidades surgirão.
Hoje… Alguns problemas
Localizada numa zona estratégica e alvo de intenso movimento é para a
Praça do Marquês de Pombal que confluem algumas das importantes artérias
da cidade. É um espaço onde se aglomeram vários edifícios e repartições
públicas, de grande procura por parte de toda a população do distrito.
As principais queixas dos comerciantes são a falta de estacionamento, a
pouca iluminação e um deficiente escoamento de águas. Alguns consideram
que o parque automóvel, ao lado da PSP, está pouco aproveitado e que os
parcómetros não resolvem o problema de quem ali vive ou está
estabelecido. Talvez a implementação de um cartão de utente atenuasse
essa constante dificuldade.
Com a aproximação do Natal, as ruas de Aveiro adquirem nova luminosidade
e alegria. A Praça do Marquês de Pombal não será excepção.
Sabia que...
O projecto da construção da actual Praça do Marquês de Pombal –
iniciativa do então presidente da Câmara, Gustavo Ferreira Pinto Basto –
originou, em 1905, uma forte polémica sobre a destruição de uma parte do
extinto convento das Carmelitas. Mobilizaram-se opiniões contra e a
favor, discutiu-se o caso nos jornais, publicaram-se folhas soltas e
estudos históricos. Os que eram contra o corte do edifício recorreram a
Ramalho Ortigão, grande escritor e crítico de arte, para lhes dar o seu
parecer relativamente à obra projectada. A 3 de Maio do mesmo ano,
Ramalho Ortigão emitiu uma opinião favorável à manutenção integra do
edifício. De nada valeu! A pouca sensibilidade a questões ligadas à
preservação do património arquitectónico, histórico e cultural da
cidade, permanece. |