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Antiga
Rua Larga e Cais do Côjo |
José Estêvão recusou uma tentativa de suborno de 100 mil escudos para
que a linha férrea que ligava Lisboa ao Porto não passasse por Aveiro.
Este foi apenas mais um gesto de dignidade, de uma figura insigne cujo
destino se cruzou várias vezes com a vida da cidade, que o viu nascer a
26 de Dezembro de 1809.
Com o intuito de prestigiar uma figura tão ilustre e tão acarinhada pela
população aveirense como José Estêvão Coelho de Magalhães, a cidade de
Aveiro baptizou uma das suas principais artérias com o seu nome.
A toponímia de Aveiro, cujos assentos de baptismo foram iniciados a 15
de Julho de 1594, alterou-se quase por completo.
A Rua de José Estêvão faz parte deste vasto conjunto que se tem
modificado de acordo com a época e ao sabor dos acontecimentos.
A rua já teve diferentes designações, algumas bastante curiosas: Rua dos
Burros, por ali existirem as cavalariças dos comerciantes que vendiam na
Rua dos Mercadores; Rua de Trás dos Mercadores, pelo facto de estar
situada nas traseiras das lojas dos comerciantes; Rua da Ponte Nova, por
se situar no enfiamento da antiga Ponte das Almas ou do Côjo (século
XVIII) e ainda Rua Larga.
Na freguesia da Vera-Cruz, a Rua José de Estêvão fez parte da zona
central da cidade, durante os séculos XVIII e XIX e, ainda, na primeira
metade do século XX.
É nesta época que vamos iniciar o nosso passeio pela histórica rua…
A fazer esquina com o Hotel Arcada ficava uma casa comercial bastante
importante e muito procurada pela população de Aveiro e arredores,
pertença do Sr. Domingos Leite. Era um estabelecimento de ferragens,
drogaria e mercearia com clientela habitual. As mulheres que vinham das
Gafanhas vender ao mercado, ao domingo, aproveitavam a ocasião para
comprar naquela loja as mercearias, tintas e ferragens, de que
necessitavam. Não havia casa igual!
Do outro lado da rua, onde se encontra a ourivesaria Vieira, havia a
livraria do Sr. Couceiro, de pequenas dimensões mas muito bem
afreguesada.
O actual edifício da Biblioteca Municipal foi, em tempos, propriedade da
Caixa Económica de Aveiro. Muita gente apelidava-a de "casa das
aflições" pela facilidade com que emprestava dinheiro ou penhorava
objectos de valor, resolvendo desta forma situações inesperadas. A Caixa
foi fundada pelo governador civil, Nicolau Bettencourt, com o intuito de
incentivar o aforro de pequenas importâncias e, também, para resolver as
necessidades ocasionais dos comerciantes − regulava o juro e livrava-os
das garras da usura.
A Caixa Económica funcionava no rés-do-chão do edifício, ao lado da
Conservatória do Registo Predial. O primeiro andar era todo ocupado pela
agência do Banco de Portugal. Nestas instalações, funcionou, anos mais
tarde, o Magistério Primário.
Onde está instalada a "Origem" (pronto-a-vestir de senhora), houve em
tempos a "Elegante", antiga casa de tecidos e fazendas, de Pompeu da
Costa Pereira. Ao lado deste estabelecimento e a fazer esquina com a Rua
Mendes Leite, havia a ourivesaria Vilar, actual ourivesaria Certa.
Na Rua de José Estêvão, podemos também apreciar uma das mais requintadas
casas da cidade, cuja construção é dos princípios do último terço do
século XIX − o Palacete do Visconde de Valdemouro. A porta tem ainda as
siglas VM coroadas (Visconde de Valdemouro). Este espaço foi doado à
Diocese de Aveiro por testamento de Alfredo Pereira da Luz em 1969.
Serviu para acolher alguns dos ilustres visitantes da cidade, como foi o
caso do marechal Carmona, presidente da República, e de Manuel Gonçalves
Cerejeira, cardeal de Lisboa.
Hoje...
alguns problemas
A Rua de José Estêvão faz parte do centro histórico da cidade e, como
tal, a opinião dos moradores e dos comerciantes aponta para a
preservação e dinamização deste espaço, tornando-o mais atractivo.
Gostariam que a rua não fosse apenas uma passagem para quem vive na
beira-mar, mas sim um espaço de convívio. Sugerem, por isso, o
encerramento da rua ao trânsito (tal como aconteceu na zona da Praça do
Peixe), o que iria facilitar a circulação dos transeuntes, condicionada
pela largura dos passeios. Isso estimularia a modernização e o
embelezamento das montras, passando a constituir um novo atractivo.
Existem também muitas dificuldades de estacionamento que, segundo alguns
comerciantes, poderão ser eliminadas com a abertura do novo Centro
Comercial no Côjo − Fórum Aveiro – cuja capacidade é de cerca de 1200
lugares. |