A Federação dos Bombeiros do Distrito de Aveiro (FBDA)
vai homenagear David Christo. Uma iniciativa considerada prioritária na
altura da tomada de posse da actual direcção e que se concretizará no
próximo sábado, integrada nas comemorações dos 90 anos dos Bombeiros
Novos de Aveiro. «Uma grande responsabilidade», reconhece José Valente,
presidente da Federação. Os lançamentos do livro «In Memoriam», de uma
medalha comemorativa e de um prato da Vista Alegre, são apenas alguns
dos pontos altos desta homenagem. Por proposta da FBDA, a autarquia
aveirense decidiu também dar o nome de David Christo à rua até agora
conhecida por Rua da Lota.
Todas as corporações do distrito vão associar-se a esta homenagem
participando num desfile que tem como objectivo «testemunhar a David
Christo toda a consideração e gratidão dos Bombeiros do distrito». Para
levar por diante esta ideia, a comissão responsável pela organização
desta homenagem pediu a colaboração das pessoas que, de uma forma ou de
outra, tiveram a oportunidade e o privilégio de travar conhecimento e
amizade com o advogado aveirense. «Chamámos os homens que estiveram
ligados a David Christo na época de 1960/70» altura em que se
realizou, em Aveiro, o Congresso da Liga dos Bombeiros Portugueses. Uma
reunião «revolucionária para a vida dos Bombeiros, em Portugal», na qual
David Christo desempenhou um papel de fundamental importância. Foi
graças ao «seu amor aos Bombeiros e à sua forma de estar apaziguadora
que se alcançou o espírito de partilha e entreajuda que hoje se vive
entre as corporações». Uma mudança que havia de marcar para sempre a
vida dos Bombeiros portugueses.
Na conferência de imprensa para apresentação desta
homenagem, o ex-comandante dos Bombeiros de Oliveira de Azeméis recordou
os encontros que antecederam o Congresso de 1970 em Aveiro como «umas
reuniões de amigos, uns jantares e uns passeios dos quais nada
resultava». Graças ao empenho de David Christo surgiram teses
previamente preparadas e comissões organizadas. Ainda hoje, realça
Ramiro Alegria, os congressos decorrem nos moldes defendidos por David
Christo, em 1970. Foi também graças a ele «que se lançou a semente para
a criação de uma estrutura de coordenação dos Bombeiros», no fundo, o
pontapé de saída para o actual Serviço Nacional de Bombeiros. Mas a
homenagem organizada pela Federação dos Bombeiros do Distrito de Aveiro
tem ainda como objectivo mostrar aos aveirenses e à comunidade em geral
o trabalho desenvolvido por David Christo nas diversas áreas em que este
se notabilizou. É que para além de exercer advocacia e de ser um
excelente orador, participava activamente na vida dos clubes da cidade,
o Beira Mar e o Galitos, tendo sido também dirigente da Associação de
Futebol de Aveiro; era um amante das obras de arte, que não só
coleccionava, como também produzia: pintava, esculpia, fotografava, e
tudo com invejável mestria. O resultado do seu talento era acessível
apenas a um restrito grupo de amigos.
«Um esbanjador de talento»
Nas palavras de Gaspar Albino, ex-presidente da direcção
dos Bombeiros Novos de Aveiro, David Christo foi «um esbanjador de
talentos». Certo de que esta homenagem vai constituir «uma autêntica
revelação» para muita gente, Gaspar Albino recorda a grande influência
que o advogado exerceu na geração de 1960, em Aveiro. «Era um purista,
um perfeccionista nos seus múltiplos talentos», que passavam pela
pintura, fotografia e escultura. Já para não falar nos seu dotes de
orador, qualidade «a que se ficou a dever muito do sucesso que acabaria
por ter o 19º Congresso dos Bombeiros de Portugal», durante o qual
conseguiu convencer os vários comandantes das vantagens do
estabelecimento de uma efectiva cooperação entre as várias corporações;
tudo por conta da sua enorme capacidade de persuasão. Uma realidade que
acabaria por ser imitada um pouco por todo o país. «Ele usava a palavra
com todo o peso, conta e medida até conseguir transmitir aos outros tudo
aquilo que sentia».
Domingos Cerqueira também deixou o seu testemunho sobre David Christo,
seu familiar e amigo. Para o presidente da direcção dos Bombeiros Velhos
de Aveiro, ele terá sido «um dos dois ou três aveirenses mais talentosos
de sempre». Por isso, Domingos Cerqueira tem dificuldade em perceber o
porquê deste «alheamento da cidade perante esta figura memorável».
«Aveiro tem assistido a tantas homenagens, nos últimos anos, ao baptismo
de tantas ruas com nomes de tanta gente com mérito duvidoso, que até
reconhecia não gostar de Aveiro
−
e não se fala de David Christo». Domingos Cerqueira arrisca uma
explicação. «Ele tinha uma coisa de que os políticos não gostavam
−
dizia-se anarca; por isso, nunca alinhou por nenhuma força partidária,
apesar dos muitos convites». Mas ainda bem, diz, porque «lá onde
estiver, estará com certeza feliz por esta homenagem ter partido dos
Bombeiros».
O programa
O programa desta homenagem a David Christo começa por volta das 9 horas da
manhã com o hastear das bandeiras (nacional, da Federação, da cidade e
da corporação), ao som da fanfarra dos Bombeiros Voluntários de
Estarreja. Segue-se a missa de sufrágio por David Christo, na igreja da
Misericórdia, numa celebração do Reverendo João Gonçalves.
Para as 11 horas está marcada uma romagem à campa do
homenageado, no cemitério central. O programa para a manhã de sábado
termina com uma recepção e um almoço com as entidades convidadas.
A homenagem prossegue a partir das 14 horas com a
concentração das corporações e descerramento da placa toponímica "Av.
Dr. David Christo", (ex-Rua da Lota), na presença de um pelotão dos
Bombeiros do distrito e da Banda Amizade.
Às 16:30 abre portas a exposição de trabalhos do
homenageado, uma mostra que vai ficar patente no salão nobre do Teatro
Aveirense. Ainda antes da sessão solene de homenagem, marcada para as
17h, no Teatro Aveirense, procede-se ao lançamento do livro «In
Memoriam».
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