José Augusto Teixeira da Rocha
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o Zeca
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nasceu em Matosinhos, no dia 26 de Agosto de 1926. Chegou a Aveiro com
16 anos. Gosta muito
da cidade e do Beira Mar, do qual nunca se desligou e,
ainda hoje, aos 72 anos, não perde a oportunidade de ensinar aos mais
pequenos as técnicas da baliza e de dar uns toques... Do que ele
gosta mesmo é de jogar à bola.
Começou a jogar futebol, como todos as crianças: na rua,
e por brincadeira. Na Beira-Mar, o bairro onde vivia e ainda vive
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pertencia à equipa dos "pequenos leões" que jogavam contra uma outra
equipa do mesmo bairro: os "pequenos azuis". Jogavam com bolas de trapos, no paralelo, mas isso pouco
importava pois o que interessava era jogar à bola.
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Mais tarde, integrou o plantel do desaparecido Futebol Clube de Aveiro (FCA) e só aos 22 anos
foi chamado a jogar no Beira Mar. Entretanto, teve que cumprir serviço
militar. Ainda fez dois treinos: um no Senhora da Hora e outro no
Custóias. «Queriam que eu lá ficasse, mas já estava habituado a Aveiro.
Já não quis ficar por lá...» Entretanto, integrou o plantei da equipa de Mamarrosa. «Estive a jogar um ano. Eles davam-me 100$00 para pagar os
serviços e para o bilhete do comboio.» Nesse ano, a equipa de Mamarrosa ganhou o campeonato sem nenhuma derrota:
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Zeca aos 25 anos |
«Fomos a equipa que sofreu menos golos e a que fez mais
pontos.» Terminou o serviço militar e voltou para o FCA. Como este clube devia 15 escudos
ao Beira Mar pelo aluguer do campo, «eu fui para o Beira Mar como forma
de pagamento...»
Deixou de jogar futebol aos 32 anos. No futebol não
ganhava dinheiro e, por isso, tinha que trabalhar para poder comer. Às terças e quintas-feiras fazia os treinos logo de
manhã cedo. Durante o inverno trabalhava na apanha de junco numa bateira
e, durante o verão, nas marinhas de sal. Sem a contrapartida do
dinheiro, o que o fazia jogar era «o gosto pelo futebol.» Um prazer que,
ainda hoje, faz questão de não pôr de lado. Acompanha as Velhas-Guardas do Beira Mar e vai, todos os dias,
para o Estádio Mário Duarte até às 21 horas, ver e ajudar no treino dos
miúdos. «Treino os guarda-redes. Gosto muito dos miúdos e entendo-me bem
com eles. Jogo com eles, ensino-lhes algumas coisas. O treinador não se
importa que eu ajude e eu gosto muito de o fazer. Às vezes jogo com
eles, o que é uma luta, porque todos querem ser da minha equipa.» Não
esconde a alegria que sente quando fala em crianças e naquilo que lhes pode ensinar.
Com as Velhas-Guardas tem percorrido o país. Este ano, já jogaram com o Espinho, Estrela
da Amadora, Benfica, Porto e Almeirim. «Ainda não perdemos nenhum jogo!
Normalmente, não jogo. Fico na reserva, sou roupeiro, massagista e já
tenho sido juiz de linha!» Passa, assim, uns bons bocados.
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Despedida do Beira mar em 1958 |
Admite que o futebol é cada vez mais um negócio de milhões. «Antigamente, jogava-se à bola por
amor à camisola...
Agora, jogam por amor aos milhões de contos que ganham.
Ganham dinheiro a mais, é um exagero! Mas a culpa não é dos jogadores, é
dos clubes. O futebol tornou-se um negócio de milhões!»
Tem muitas saudades daquele tempo, dos bons momentos e da
camaradagem que afirma já não existir nas equipas de hoje. «O espírito
de equipa, a união entre os jogadores é fundamental, para o bom
desempenho do conjunto».
Quando pode, vai ver o Beira Mar. Não fica muito nervoso,
porque diz ter-se habituado aos momentos de grande tensão. Considera que
a actual situação do Beira Mar ainda se pode alterar. «Pode ser que se
safem! É preciso uma grande força de vontade, mas...»
Viveu momentos muito felizes, os quais permanecem na sua memória. Momentos de glória e de
alegria, mas principalmente de união. Foi o desporto que fez dele um
homem feliz.
Aos mais novos deixa um conselho: «Dediquem-se apenas a
uma modalidade, seja ela qual for. Mas façam desporto.» A todos os que
gostam de ir ao futebol pede: «Acudam sempre pelo Beira Mar, quer esteja
a jogar bem quer esteja a jogar mal, porque é muito importante que os jogadores se
sintam apoiados.»
Homem feliz, ainda gosta de praticar desporto, e não
perde a oportunidade de fazer um joguito de futebol.
Ora, bolas!
Zeca conta:
«Sou do Beira Mar, mas também gosto do F. C. do Porto.»
«A defender, o importante é olhar para o pé e para a
bola. Só assim se consegue fazer boas defesas.»
«Sempre disse que o Mateus − o "Ninguém" − ia
subir à primeira. Era um jogador de grande valor.»
«Os treinos eram muitos duros. Uma vez, fingi que estava
a mancar de uma perna para poder ir embora. Já não tinha forças.»
«O Virgílio, num jogo contra Ovar, em que estávamos a
perder por 1-0, fez falta para penalte. Nesse jogo, se ganhássemos,
recebíamos 100$00; era muito dinheiro! Eu defendi e o Virgílio até me deu um abraço!»
«Se eu tivesse 20 anos, estava a ganhar muito
dinheiro...»
«O melhor jogador do Beira Mar é o meu colega Palatsi!»
«O melhor jogador português é o Figo. O João Pinto, do
Benfica, também é muito bom, mas faz-se muito à falta...»
«O melhor jogador de todos os tempos foi o Matateu. Uma
vez, mandou-me um pontapé na testa. Foi tal a força, que fiquei com as
travessas da bota marcadas.» |