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Nas BODAS DE
DIAMANTE
da Associação Humanitária
dos Bombeiros Voluntários de Aveiro
75 anos
de altruísmo
pelo Dr. HUMBERTO LEITÃO
NOS tempos idos, e por mercê de
Deus, poucas vezes Aveiro sentiu a tragédia do fogo, o terror dos
grandes incêndios. Podem contar-se: em 1628, no Paiol, na antiga
Capela de S. João, no Rossio, havendo mortes; em 1712, na sacristia
do Convento de Santo António; em Outubro de 1843, no Convento de N.
S. da Misericórdia; em 20 de Julho de 1864, no antigo Palácio dos
Tavares, senhores de Mira, construído em 1500, que fora o Paço dos
prelados do Bispado de Aveiro, na rua dos Tavares, e onde, desde
1849, se achavam instaladas as repartições do Governo Civil; e em 19
de Novembro de 1865, na estação do caminho-de-ferro, inaugurada no
ano anterior. |
Admiração pelo sacrifício e pela coragem
Há muitos anos já, desde que
pisei terras de Aveiro, que nutro profunda simpatia e admiração
pela Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários, que agora
festeja o 75.º aniversário da sua fundação. Esta admiração é-lhe
devida não só por mim, mas também por parte de todos os
aveirenses que saibam avaliar o sacrifício alheio, que
reconheçam a abnegação de um punhado de homens que, com risco da
sua própria vida, acorrem pressurosos a salvar a vida e os
haveres dos seus semelhantes não importa quem nem onde. Uma tal
benemérita instituição, cujos servidores levam tão longe o
espírito de sacrifício e o sincero desinteresse material, não
pode deixar de ser acarinhada, auxiliada e admirada por todos,
seja qual for a sua índole ou condição. Estou seguro de que
ninguém regateia louvores a esse sacrifício e deixa de prestar
homenagem ao valor, abnegação e coragem dos nossos Bombeiros.
Setenta e cinco anos de
incansável actividade, impregnada de humanitarismo, é a maior
folha de serviços que uma instituição desta natureza pode
apresentar. Daqui a saúdo por esta feliz data e presto sincero
culto aos seus fundadores e continuadores.
Paços do Concelho, 3 de Janeiro
de 1957
ÁLVARO
SAMPAIO |
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Talvez por isso mesmo, por essa feliz
raridade, apenas em meados do século passado apareceram aqui os
primeiros apetrechos para combater o fogo, rudimentares, pequenas bombas
braçais de escasso rendimento, propriedade municipal — no momento
próprio postas à disposição do público que, generosa e voluntariamente,
acorresse ao local do sinistro.
Desse público, benemérito anónimo,
disposto ao sacrifício máximo nos momentos de perigo, suprindo
largamente com o coração e com os músculos o que lhe faltava em
preparação técnica, encontramos fiel retrato na magnífica e viva
descrição, dada por um jornal aveirense da época, do pavoroso incêndio
que, na noite de S. João do ano de 1871, destruiu completamente um dos
melhores edifícios de Aveiro, o Palácio dos Viscondes de Almeidinha:
«.... Eram 2 horas e meia da madrugada.
A noite, até ali ventosa, estava serena, girando apenas uma tépida
bafagem. Aqueles que se tinham entregado aos divertimentos próprios da
ocasião, haviam-se recolhido. Tudo jazia em silêncio. Neste momento, um
sinal sinistro e que, felizmente, poucas vezes se ouve entre nós,
despertou os habitantes, de improviso: — eram toques acelerados de
incêndio, dados não só nas torres dos diferentes templos e conventos da
cidade, mas também na dos Paços do Município.
O palacete do Sr. João
Carlos
/ 6 / do
Amaral Osório, Visconde d'AImeidinha, situado no Terreiro, ardia de uma
maneira que dificilmente se tornava salvá-lo.
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«O incêndio manifestou-se a um canto da
casa do segundo andar, do lado de sudoeste, e as rubras chamas, lambendo
com incrível rapidez quanto encontravam, aproximaram-se do cume do
edifício em pouco minutos. Houve, então, uma dessas cenas medonhas que
aterram quem as presencia: o ígneo elemento assumia proporções
terríveis, e as línguas de fogo, flutuando envoltas em espesso fumo,
subiam a grande altura. Dir-se-ia o Etna, vomitando, de seu seio,
ardentes lavas. Após isto, uma detonação longa e medonha, e baqueia o
tecto daquela bela casa, seguindo-se-lhe um estrépito rouco e pavoroso.
Daí a pouco brilhava a flama ardente por
entre as vidraças, e estas, não podendo suportar o fogo, estalavam umas
após outras. Viam-se, então, as chamas, como farpadas línguas de
serpentes, a saírem pelas diferentes janelas, parecendo quererem
devorar, naquela precipitação assoladora, quanto lhes obstava a
passagem. |
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Dr. Humberto Leitão
Presidente da Direcção |
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«Era um espectáculo sublime de horror e
desolação!
Ao local do incêndio logo afluiu gente
de toda a parte. Ali se viam as pessoas mais gradas da cidade, e entre
elas os Srs. Governador Civil, Administrador do concelho, e seu
secretário, e o destacamento aqui estacionado, com toda a
oficialidade, que compareceu logo no Terreiro.
«Apareceram também bombas, que prestaram
serviço, mas no estado em que o fogo se achava, impossível era salvar o
edifício. Obraram-se ali prodígios, e muitos indivíduos arrostaram com a
morte para salvarem o que podiam.
«É nestas ocasiões críticas que se
revela o génio prestante dos habitantes desta cidade. Mancebos ali
apareceram, e homens já de idade, tão corajosos que entravam e saíam na
casa a salvar móveis e o que encontravam, com tal denodo, que nem os
intimidava o fogo a crepitar por sobre suas cabeças. Era o heroísmo e a
vontade inabalável de ser útil à humanidade.
«Daquele belo edifício — onde tantas
festas beneficentes se realizaram, e onde o luxo, o fausto e a
sumptuosidade rivalizavam com as riquezas assombrosas do Conde do
Farrobo, — apenas restam as paredes desmanteladas e em ruínas, com as
janelas sem portas, e enegrecidas pelo fumo. Assemelha-se aquele
palácio, que era um dos formosos ornamentos de Aveiro, a um esqueleto,
com as fauces escancaradas, despertando a mais séria reflexão nos que o
contemplam!
(De “O Campeão das Províncias”)
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Este impressionante incêndio ficou, por
muito tempo, na lembrança da nossa gente, e ainda a sua trágica
recordação se não havia desvanecido quando, na madrugada do dia 12 de
Janeiro de 1882, um novo e gravíssimo sinistro — então no Convento de Sá
— alarmou a cidade, a ponto do Presidente da Câmara Municipal,
Manuel
Firmino de Almeida Maia, em sessão nesse dia efectuada, e atentas as
precárias circunstâncias em que o Município se encontrava em relação ao
material de extinção de fogos, que possuía, que não satisfazia as
necessidades, propor a aquisição urgente de «uma bomba nas condições
precisas para bem servir, e também dos mais aprestes que são
indispensáveis em casos tais, como escadas, machados, baldes, escadas de
salvação, etc., tudo, finalmente, o que a ciência aconselha no que
respeita ao serviço de extinção de incêndios». Esta proposta foi
aplaudida, com entusiasmo, por toda a Câmara, que sugeriu ainda a
urgente formação de «um corpo de bombeiros voluntários, capaz de
desempenhar-se satisfatoriamente do encargo que tão nobre e elevada
missão impõe».
Assim nasceu, naquele dia, a primeira
corporação de bombeiros de Aveiro. Tomou, de início, o nome de Companhia
de Bombeiros Voluntários, para mais tarde se designar por Associação
Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Aveiro.
Da sua fundação legal dá conta a acta
seguinte:
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/ 7 /
«Às doze horas da manhã do dia 28 de Novembro de 1882, na sala das
sessões da Câmara Municipal, achando-se reunidos os indivíduos que
assinam, tomou a palavra o cidadão
Francisco Augusto da Fonseca
Regala, e disse que tendo sido procurado, em nome dos indivíduos
presentes, por uma comissão composta dos cidadãos
José Maria de
Carvalho Branco,
Manuel Homem de Carvalho e Christo,
José Vieira da Costa,
Fernando Homem de Christo e
José de
Azevedo Leite, a fim de o convidarem a acompanhá-los na organização
de uma Companhia de Bombeiros Voluntários — que eles, a pedido da Câmara
Municipal deste concelho, desejavam constituir, para se exercitarem no
manejo das máquinas e demais material que o Município possui, destinado
à extinção de incêndios, e dele se servirem quando alguma destas
calamidades se manifestem no concelho, concorrendo com os seus esforços
e trabalho para a debelação dessas calamidades, — estava pronto, não só
a fazer parte dessa Companhia, mas para, com o seu auxílio e
boa-vontade, concorrer para que tão generosa ideia fosse por diante. |
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Disse mais que a mesma comissão o
encarregara de redigir um projecto de Estatutos, que fossem depois
competentemente aprovados, a lei da mesma Companhia; e que desse encargo
se desempenhara o melhor que poderá, e vinha apresentar o seu trabalho à
aprovação da assembleia presente nesta sala.
Em seguida propôs que eu,
Francisco de Pinho Guedes Pinto fizesse nesta reunião, e
desempenhasse as vezes de secretário, o que, sendo aprovado pela
assembleia, procedeu o mesmo cidadão, Francisco Regala, à leitura do
projecto de Estatutos, o qual, sendo posto à discussão, foi unanimemente
aprovado pela assembleia, e em seguida assinados três exemplares deles
para serem remetidos à Câmara Municipal, a fim de por ela serem aceites,
na parte que lhe dizem respeito, e depois enviados à autoridade
administrativa para a aprovação legal.
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Augusto Pinho Varela
Secretário da Direcção |
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Dr. João Lapa de Oliveira
Tesoureiro da Associação |
Deste modo deu-se a Companhia como
provisoriamente constituída, devendo-se regular pelas disposições dos
mesmos Estatutos deste dia em diante, e declarando-se logo que, desde
que o projecto agora aprovado não sofra alteração alguma da parte da
Câmara Municipal ou da autoridade administrativa, se considerem como
definitivas as resoluções nesta sessão tomadas.
Depois disto propôs o mesmo cidadão,
Francisco Regala, que vista esta resolução da assembleia, julgara
conveniente que imediatamente se procedesse à eleição dos cargos da
Companhia, o que, sendo aprovado pela assembleia, logo se efectuou por
aclamação, com o seguinte resultado:
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Comandante
— Francisco Augusto da Fonseca Regala
Na 1.ª secção:
Primeiro Patrão
— José Maria de Carvalho Branco
Segundo dito — José Vieira da
Costa
Bomba n.º 1:
Primeiro agulheta
— João de Oliveira Christovam
Segundo dito —
Manuel Tavares
da Graça
Primeiro ajudante —
Rufino de
Sousa Lopes
Segundo dito —
Manuel da Rosa
Bombas n.º 2 e 3:
Primeiro agulheta
— João Augusto de Sousa
Segundo dito —
José Bernardes
da Cruz
Na 2.ª secção:
Primeiro Patrão
— Manuel Homem de Carvalho e Christo
Segundo dito — Fernando Homem
de Christo
Aspirante —
Manuel da Rocha
Director de ambulância —
João
Bernardo Ribeiro Júnior
Fiscal de material — Francisco Pinho Guedes Pinto
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/ 8 /
Em seguida, cada um dos eleitos agradeceu à Assembleia a confiança
neles depositada, acrescentando o Comandante que, nas atribuições do
cargo que lhe tinha sido conferido, desde já determinava que
começassem os exercícios da Companhia, aproveitando assim o auxílio
que a Câmara Municipal ofereceu, influindo para que viesse a esta
cidade o segundo patrão da Companhia dos Bombeiros Voluntários do
Porto, Sr. José Rodrigues Barrote, expressamente para instruir a
Companhia no serviço a que se destinava, e que, estando já entre nós
o mesmo senhor, era necessário aproveitar as suas lições, — e propôs
que, nesta acta, se mencionasse a gratidão com que a Companhia
recebia mais este auxílio da Câmara Municipal, bem como os serviços
que o sr. Barrote, generosa e dedicadamente ia prestar à mesma
Companhia. |
José Rodrigues Vieira
Vogal da Direcção |
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E não havendo mais que resolver se
encerrou a presente sessão preparatória, de que se lavrou a presente
acta, que vai ser assinada por todas as pessoas presentes, depois de
lida por mim Francisco de Pinho Guedes Pinto, servindo de
secretário da Companhia, que a escrevi e também assino.
aa) Francisco Augusto da Fonseca
Regala, Manuel Homem de Carvalho e Christo, José Maria de Carvalho
Branco, José Vieira da Costa, Júlio da Rocha,
Manuel Ferreira, José d'Azevedo Leite, Fernando Homem Christo,
José Marques d' Almeida, José
Bernardes da Cruz, João Augusto de Sousa, Manuel da Rosa, Manuel Tavares
da Graça, Rufino de Sousa Lopes, João de Nunes da Maia,
Miguel dos
Santos Gamelas, João de Oliveira Chrisostomo,
João António da Graça,
Sertório Maria Afonso,
João da Silva J.or,
Francisco
Ferreira, António Marques d' Almeida
J.or, João Bernardo
Ribeiro J.or, Anselmo Ferreira,
António Duarte dos Santos
Gamelas, António de Sousa Marques, Júlio da Rocha,
Jerónimo Marques d'Oliveira,
Luís Benjamim, Manuel da Rocha, e Francisco de Pinho Guedes
Pinto.
Um mês depois, exactamente, em 28 de
Dezembro, com a aprovação oficial dos estatutos, ficou a Companhia
legalmente constituída; e, no dia imediato, pelas 11 horas da manhã, na
«casa que serve de estação das bombas e máchinas», com a presença do
Presidente da Câmara, Manuel Firmino de Almeida Maia, procedeu-se
à entrega do material de incêndios que a Câmara possuía. (Cabe referir
aqui que foi com a Câmara de
Dr. Bento
Rodrigues Xavier de Magalhães que, em 1858, vieram
para Aveiro as duas primeiras bombas de
incêndio).
João Soares
Vogal da Direcção |
Começou, então, uma fase de preparação
intensa levada a cabo com indescritível entusiasmo. O público, chamado a
colaborar nesta obra de interesse colectivo, animou, com a sua presença,
o «Grande Bazar», levado a efeito, no Jardim Público, em 3 de Maio de
1884, por iniciativa dos Srs.
Duarte Ferreira Pinto Basto J.or, Carlos Faria e Melo,
António Ferreira de Araújo e Silva, João da Silva
Melo Guimarães, António Augusto Duarte e Silva, João Augusto Marques
Gomes e Francisco Vitorino Barbosa de Magalhães. As filarmónicas
Amizade, Aveirense e da Vista Alegre, participaram
graciosamente; o Montepio emprestou os seus pavilhões; e a
população contribuiu com prendas para esta festa, que rendeu a
importante quantia de 361$220 réis. |
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O esforço daquele punhado de homens que,
voluntariamente, se comprometera a velar pela vida e
/ 9 / pelos bens do
semelhante, por todos era compreendido e animado. Assim...
«...O Governo Civil, tendo conhecimento
do modo brioso com que a Companhia se portara no terrível incêndio que,
na noite de 15 de Novembro de 1884, tivera lugar nas casas de habitação
de José António de Resende, à Costeira, e dos relevantes serviços ali
prestados pela mesma Companhia que, com grave risco e perigo de algumas
das suas praças, conseguira, a muito custo, evitar que o fogo se
propagasse às casas vizinhas, por isso e por julgar um dever da sua
parte, desejava saber quais as praças que o Comandante entendia deverem
ser condecoradas, pois que não podia pedir ao Governo condecoração para
todas elas, como de toda a vontade faria, se fosse possível».
Pelo mesmo motivo, igualmente a Câmara
Municipal, pelo seu presidente, felicitou a Companhia, agradecendo-lhe
em nome da Cidade, os serviços que tão honrosa e arriscadamente lhe
prestou.
Em resposta, a Companhia absteve-se de
indicar os nomes das praças a condecorar, porque essas distinções
poderiam produzir rivalidades e promover a desarmonia entre os sócios.
Para seu prémio lhe bastava a satisfação de terem cumprido, cada um na
medida das suas forças, como um dever que, voluntariamente e da melhor
vontade, se impuseram. Além disso, seria difícil distinguir os que mais
serviços prestaram, pois todos se portaram denodadamente.
Em Janeiro de 1887 — sendo de 40 homens
o efectivo da Companhia — a Câmara da presidência do Dr. Elias Fernandes
Pereira resolveu conceder uma pensão pecuniária aos bombeiros, alistados
há mais de um ano, que se inutilizassem no serviço de extinção de
incêndios, ou às suas viúvas, entregando a Câmara à Companhia os juros
de 2 inscrições de 100$000 réis.
Em Fevereiro de 1888, o
Dr. Joaquim
de Melo Freitas foi nomeado Comandante, cargo que foi posteriormente
ocupado pelo Sr. Carvalho Branco, em 1893, pelo Sr. João
Bernardo Ribeiro Júnior, em 1895, e pelo Sr.
Manuel Gonçalves
Moreira, em 1897.
Conveniências da vida interna da
Companhia levaram-na à dissolução, em Dezembro de 1898, transformando-a
na ASSOCIAÇÃO HUMANITÁRIA DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE AVEIRO. A mesma
gente, o mesmo material, iguais fins altruístas, — com novos moldes
orgânicos, nova estrutura estatuária, e nova designação, — numa palavra,
independência da tutela municipal, embora a Câmara, como era de justiça,
auxiliasse com um subsídio anual.
Nos documentos da época aparecem como
renovadores, os nomes de Manuel Gonçalves Moreira,
João de
Morais Machado, Manuel da Rocha, Luís Benjamim,
João da Silva J.or, Teodorico
Augusto da Silva,
Firmino Fernandes, Manuel Ferreira,
Manuel de Matos
Bandarra, Pedro Soares,
Joaquim dos Santos Gamelas,
José Maria Pereira,
Jerónimo Marcos de Carvalho,
Lourenço
de Oliveira Brandão, Isaías de Albuquerque, Abel Ferreira,
João do Amaral
Fartura, Ângelo Augusto Sérgio,
João
Pinto de Miranda, José Pereira Carvalho,
Domingos Vieira
Guimarães, Gaspar Augusto da Cunha e João Augusto
de
Mendonça Barreto.
A nova Direcção reuniu pela primeira vez
no dia 25 de Janeiro de 1899, sob a presidência do Sr.
Dr. Joaquim
Simões Peixinho.
A Câmara Municipal, do
Dr. Álvaro Moura
Coutinho de Almeida d'Eça, deu facilidades e permitiu que o Quartel
ficasse instalado numa antiga arrecadação camarária, na Rua de Santa
Catarina, junto do Teatro Aveirense, com a condição da Associação
alugar, por sua conta e por 12$000 réis semestrais, um armazém onde se
fizesse arrecadação. Então, pela primeira vez, contratou-se um contínuo
ou chaveiro, mediante concurso e fiança de 50$000 réis, o qual vencia o
ordenado mensal de 9$000 réis.
/ 10 / Nesse ano,
sob um certo desafogo económico, efectuaram-se as seguintes aquisições:
— 150 metros de mangueira de lona, a 450
réis o metro;
— 1 bomba de chaminé, por 16$820 réis;
— 5 lanços de escada Portuense, por 60$000 réis;
— Bonés, por 1$000 réis;
— e uma mobília para a Sala das Sessões, por 25$000 réis;
Em 1909, graves desinteligências
perturbaram a vida da Associação, e delas resultou a fundação, pelos
elementos dissidentes, de uma nova corporação de bombeiros: — a
Companhia de Salvação Pública «Guilherme Gomes Fernandes». Mas este
incidente, longe de quebrar ânimos, mais ainda os acicatou.
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Dr. António Peixinho
Médico do Corpo Activo |
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Em Novembro de 1908, a Associação
comparticipou nas grandes festas de recepção ao Rei D. Manuel II; e, em
19 de Dezembro de 1909, assistiu à inauguração do obelisco da Praça do
Comércio.
Francisco Ferreira
da Encarnação
era o Comandante em 1911.
Em 1913, inteiramente debelada a crise
por que se passara, logo se pensou em melhoramentos. Em reunião de 10 de
Setembro foi resolvido comprar um carro de escadas «Magyrus», de modelo
pequeno e barato visto as condições das ruas da cidade não darem largura
suficiente para modelo maior; e à Câmara foi pedida, entretanto, a
construção de um novo quartel, visto o actual não se encontrar em
condições e, além disso, não ter o espaço suficiente para arrecadar a
escada «Magyrus» que se ia adquirir. A escada chegou em Março de 1914,
mas, como não havia onde arrecadá-la, foi levada para as ruínas da
igreja da Vera-Cruz. Erradamente supunham tê-Ia, ali, em bom abrigo,
pois que, uma noite, forte ventania a fez voltar, partindo-a. Talvez por
este acidente, a construção do novo quartel não demorou.
Em 1915 era Comandante o Sr.
Júlio
Cabral, que, abandonando o cargo dois anos depois, deixou a
substituí-lo o 2.° Comandante Sr. Firmino Fernandes. Este cargo,
efectivo, foi ocupado, em 1921, após algumas tentativas de fusão de
ambas as Corporações, pelo Sr. Isaías de Albuquerque.
Em 1925, tomou posse a Direcção da
presidência do Sr. Ricardo Mendes da Costa, que, no ano seguinte,
adquiriu a primeira moto-bomba, para substituição da antiquada e pouco
rendosa bomba braçal. Os gestos de generosidade tornaram-se frequentes;
de resto, as necessidades crescentes duma cidade em franco aumento
impunham a urgente modernização de todo o material existente. As
viaturas eram braçais: — os próprios bombeiros, auxiliados pelo garotio,
que sempre acorria, eram quem puxava, até o local do sinistro, os carros
que conduziam o material, donde resultava, além de tão abnegado
ridículo, um cansaço antecipado dos que iam trabalhar com grande
responsabilidades. Três aveirenses dedicados, grandes amigos da
Associação, contribuíram, na altura, para a almejada renovação: — o Sr.
Egas Salgueiro, oferecendo, em Setembro de 1927, um automóvel «Humber»,
para ser adaptado a pronto-socorro; — o Sr.
Dr. José Maria da Silva,
fazendo, em Abril de 1928, idêntica oferta;
—
e o Sr. Dr. António Nascimento Leitão, em
/ 11 / Fevereiro de
1938,
dotando a corporação com uma auto-ambulância, para o transporte de
feridos.
Padre Manuel C. Fidalgo
Capelão |
O Governo da Nação, reconhecendo os
valiosos serviços prestados pela Associação, distinguiu-a, em 16 de
Março de 1929, com a comenda da ORDEM DA BENEMERÊNCIA; e, em 10 de
Agosto de 1932, considerou-a INSTITUIÇÃO DE UTILIDADE PÚBLICA.
Nova viatura pronto-socorro foi
adquirida em Outubro de 1932.
Em 1934, o comando foi entregue ao Sr.
Tenente Alberto Daniel Machado, lugar que ocupou até 1936, para
ceder a vez ao Sr. Firmino Fernandes, elemento valiosíssimo, a
quem, em 1944, pouco antes da sua morte, foi prestada pública e solene
homenagem, a quando do cinquentenário da sua vida de bombeiro.
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Marino Sousa Moreira
foi o comandante seguinte. Tomou posse em 14 de Março de 1945; graças a
ele, adquiriu-se em Londres a magnífica sereia de alarme que está a
funcionar desde 6 de Setembro de 1946, graciosamente instalada, pelos
Serviços Municipalizados de Electricidade, no telhado do Quartel, —
acabando-se, assim, com o anacrónico sistema do toque do sino da torre
dos Paços do Concelho.
Entretanto, a nova Direcção, empossada
em 1 de Fevereiro de 1943, e ainda em exercício (aparte ligeira mudança
de estrutura), substituiu toda a mangueira inutilizada no grande
incêndio do Governo Civil, em 16 de Outubro de 1942, — exactamente no
mesmo local onde ardera o Palácio dos Viscondes de Almeidinha, atrás
referido —; reorganizou a esquecida CAIXA DE SOCORROS, de auxílio
pecuniário ao bombeiro, garantindo-lhe ainda assistência médica e
medicamentosa em doenças adquiridas fora do serviço; conseguiu da Câmara
Municipal o seguro contra acidentes, para todo o pessoal do Corpo
Activo; adquiriu uma agulheta de espuma, e respectivas cargas, para
incêndios de gasolina, óleos e aguarrás; modernizou os pronto-socorros,
blindando um deles; comprou uma moderníssima e potente moto-bomba Escol;
renovou todos os fardamentos; criou uma escola de aspirantes; e, não
esquecendo a função social que lhe é devida, organizou, em 1952, a
ÁRVORE DO NATAL DA CRIANÇA POBRE, que foi um êxito.
Ao Sr. António Folhadela de Melo,
técnico distintíssimo, que comandou a Corporação a partir de 15 de Julho
de 1947, se ficaram a dever muitas inovações, ainda mantidas e muito
apreciadas.
Em Março de 1949, alguns pequenos
subsídios, e os donativos de uma subscrição de que se encarregaram as
telefonistas desta cidade, por iniciativa da sua chefe, Sra. D.
Alcina dos Santos Gil, e que rendeu esc. 12.500$00, permitiu com os
bons ofícios do Governador Civil de então, Sr. Coronel Dias Leite,
e um importante subsídio do Governo — adquirir uma nova ambulância, de 2
macas e assaz confortável, que útil e copioso serviço tem prestado a
toda a população.
Por afastamento do Comandante Folhadela,
e por parecer do digno Inspector da Zona Norte, foi nomeado para o
exercício daquele cargo, em 21 de Agosto de 1950, o Sr. Albano
Henriques Pereira, dedicadíssimo elemento, que, há muitos anos já, e
em vários cargos directivos, vinha servindo a Associação.
É já longa a vida desta ASSOCIAÇÃO
HUMANITÁRIA, se a compararmos com os limites acanhados da vida humana;
mas da vida humana só ela tem as consequentes dificuldades materiais de
sobrevivência — porque a sua duração, função do auxílio no perigo, será
infinita, como infinita é, no coração do Homem, essa magnífica virtude
que se chama ALTRUÍSMO.
Janeiro de 1957
HUMBERTO LEITÃO
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