Egas Manuel da Silva
Salgueiro
(^2.º ano)
A
conversa que vou relatar em seguida passa-se num rio da Beira
Alta, no consultório do Dr. Salmonete, que dá uma consulta à D.
Truta.
− Boa tarde, D. Truta, está boa?
− Se estivesse boa, não vinha cá, sr. Dr..
− Então de queixa?
− Sabe, sr. Dr., respiro mal. As minhas brânquias estão a funcionar
cada vez pior.
− Ora deixe ver o que lhe posso fazer. Hum... Pois é, o seu opérculo esquerdo apresenta um ligeiro inchaço e isso dificulta o
trabalho da guelra. Este inchaço é natural ou a senhora teve algum
acidente?
− Não sr. Dr., foi outro dia, um pescador que prendeu o seu anzol
aqui no opérculo e, pumba. Só por sorte é que estou aqui a falar
consigo. E esse papo deve vir daí.
− Bem, isso tem pouca importância e se a senhora se friccionar com extracto de alga amarela, vai ver como isso passa.
− Obrigado, sr. Dr.. Ah, lá me esquecia: onde é
que o sr. Dr. me
aconselha a ir desovar?
− À Sena da Estrela, que
é o melhor sitio.
− Não poderei ir antes ao
Minho?
− Não aconselho, porque a
sanidade na Estrela é melhor.
− O Sr. Dr. não se importa
se eu o convidar, a si e à sua
esposa, para serem os padrinhos dos meus filhos?
− Oh, mas com todo o gosto.
− Então obrigado, e quanto
lhe devo?
− Nada, para a minha futura comadre é de graça. |