Rosa Maria
(5.º ano)
METIDA ainda nos alvos lençóis, com os cabelos loiros, tão loiros que
mais pareciam raios de sol, espalhados pela almofada, uma mocita
esfrega os olhos e espreguiça-se Olha para tudo o que a rodeia,
como que para se certificar de que está no seu quarto, metida entre
os lençóis, no seu fofo leito. Olha novamente e o seu olhar
fixa-se num ponto. Será que descobriu alguma coisa que não lhe dê a
certeza de que está no seu quarto?! Continuei a observá-la. Franziu
o sobrolho, fechou os olhos e olhou novamente. Vi que ficou triste.
Segui a direcção do seu olhar e deparei com a janela entreaberta e
que deixava ver que o sol ainda não aparecera.
De repente levanta-se, abre os portais das janelas e fica como que
hipnotizada por uns instantes. Por fim deixa cair os braços e cai
numa cadeira, pensativa. Está ainda em pijama e descalça. Com a precipitação não reparou nas chinelas que amáveis estavam à espera
das carícias dos seus pés macios.
Na verdade o sol não aparecia e o dia estava triste. E a
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mocita ficou triste também, porque não havia a luz, não havia o
calor que o sol lhe costumava dar todas as manhãs. Os passarinhos não
cantam, não lançam aos ares os seus alegres gorjeios que vão dar
alegria ao coraçãozito da moça. Antes pelo contrário, lançam aos
ares, sim, mas os. pios como que se fossem ais de pessoas
amarguradas pela dor. E por isso que ela está triste!
Não é só ela que está desolada! As árvores também estão! Mas há uma
diferença entre elas: a menina não fica zangada, só fica triste,
enquanto que as árvores gesticulam os seus braços muito zangadas por
o seu amigo não as ter vindo visitar. Abanam
de tal maneira os ramos que as folhas caiem e os frutos se
desprendem da mãe e tombam no chão feridos.
O vento está furioso e arrasta tudo consigo. As águas do rio, que
passam perto da casa da moça de grandes olhos azuis, não têm aquele
cantar alegre dos dias de sol. E um murmurar parecido com os soluços
de uma pessoa, é a voz já quebrada de um velho fadista, é...
qualquer coisa de triste e impressionante.
Mas nem só as árvores estão revoltadas! O céu também
assim está. Perdeu o aspecto claro e azul para se tornar sombrio e
cinzento. As nuvens não conseguem conter-se e choram! Choram por
não receberem o doce beijo acariciado r dos raios do sol. E as suas
lágrimas são a chuva que cai e que molha as terras e as pedras nuas
da calçada. O vento cada vez mais furioso barafusta, arrastando
tudo atrás de si. E... não se calara enquanto o sol não reaparecer,
trazendo calma, alegria, calor, luz à natureza e muita, muita
alegria aos grandes olhos azuis e ao coraçãozito de Giro da menina
das tranças loiras.
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