Ana Maria da Silva
Valente
(6.º ano)
– «Marchar! Em frente! e podem sair...».
Até que enfim acabou a aula de ginástica!... Estou morta de
fadiga. Marchar, saltitar, pular, subir aos espaldares, suspender,
flectir... Oh, meu Deus, não ouvi outra coisa durante uma hora. Uf!
É demasiado para quem, como eu, não se classifica uma apreciadora
deste género de exercícios físicos. Bem, não é que não goste de
ginástica. Não, até aprecio bastante essa aula, que ajuda a descontrair, a esquecer as preocupações que nos atormentam o espírito,
em
tempo de aulas. Porém, o pior vem um dia depois, quando, logo
pela manhã, ao levantar, se sente o corpo toda partido, dores horríveis nos músculos, dores que estão nas pernas, nos braços,
nas costas,
em toda a parte ao mesmo tempo. Que martírio subir escadas, estender
um braço, virar o pescoço!... É então que eu maldigo a ginástica e
todos os exercícios físicos que me põem o corpo neste estado
deplorável.
É verdade, maldigo-os; mas que poderia eu fazer, ao sentir-me
partida
e sem ver possibilidades de me recompor?
Contudo, três dias passados, como por milagre, sinto-me liberta de
todas as dores que me atormentavam.
É então que eu esqueço todas as maldições e que me vêm à memória os
belos dias de férias grandes, quando pegava na minha bicicleta e
corria, voava pelos campos, sentindo o perfume das flores,
pedalando velozmente. Por vezes, ia até à praia e então dava voltas
e
mais voltas duma extremidade à outra da avenida. A bicicleta
fazia-me sentir tão rápida, que me alheava de tudo em volta e me
parecia que tinha
o poder de voar. A brisa fresca do mar chegava até mim, enchia-me
os pulmões, dava-me como que uma vida nova. Os movimentos das
minhas pernas eram cada vez mais rápidos e eu sabia que esses
movimentos me davam saúde e que a brisa do mar varria todos os
projectos de doença que pudessem existir em mim. E tinha a mesma
sensação,
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quando mergulhava nas águas do mar ou da Ria e nadava, nadava sem
nunca me cansar, sempre pronta a afastar-me cada vez mais da costa.
Estava certa de ter forças necessárias para regressar, porque me
sentia animada de vida e vida é sinónimo de força. Nunca me senti
tão saudável, tão forte, como quando me entregava aos meus desportos
preferidos.
Sim,
gosto da ginástica deste género e não da que me parte o corpo e me
faz doer os músculos. Logo que se trata de passar uma hora saltando,
correndo, subindo espaldares, flectindo, já sei que dias depois
maldirei todos os exercícios físicos, esquecendo todo o proveito que
possam ter para a saúde e a juventude do corpo. |