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farol n.º 21 - mil novecentos e sessenta e cinco ♦ sessenta e seis, pág. 18 a 20.

Curiosidades

A vida de Alfred Nobel

Quando pronunciamos o nome de Alfred Nobel acende-se em nós um sentimento de admiração e de gratidão pelo homem que teve este nome. Símbolo de perseverança, este grande homem da ciência foi o inventor da dinamite, explosivo que, sem ser perigoso, se revela bastante útil; a sua fortuna legou-a aos homens ou mulheres que se distingam em ciência, literatura ou obras em favor da paz.

Alfred Nobel teve um nascimento atormentado: nasceu débil, causando as maiores apreensões e angústias, mas sua mãe tudo fez para que o filho vingasse; felizmente, assim aconteceu, embora ele ficasse, para sempre, franzino, frágil e de aspecto doentia. Foi o mais fraco dos quatro irmãos, de que foi o terceiro, mas intelectualmente em nada ficou diminuído.

Seu pai, Emanuel Nobel, lidava, havia bastantes anos, com altos explosivos e construíra uma mina naval de que a Rússia se servira eficientemente na guerra da Crimeia.

Desde novo Alfred manifestara interesse pela actividade do pai. Em certa altura fez uma viagem pela Europa e pela América. Conheceu, em Paris, uma rapariga, de quem ficou desesperadamente apaixonado; porém, ela morreu e, amargurado, compenetrou-se de que o trabalho seria o seu quinhão de vida.

Emanuel Nobel estava convencido de que a nitroglicerina, que até então se usava, sobretudo, como estimulante contra doenças do coração, tinha grandes possibilidades como explosivo; decerto explodiria em algumas condições, mas quais? Umas vezes, caía uma porção de nitroglicerina contida num vaso e nada sucedia; outras vezes, um pequeno choque originava uma tremenda explosão. Emanuel Nobel e seu filho Alfred propuseram-se desvendar esse mistério.

Pouco a pouco, foi Alfred tomando a direcção das experiências, que o levaram à teoria de que o meio mais seguro de fazer o líquido era provocar nele uma explosão primária, retendo-o convenientemente num sólido receptáculo; passando da teoria à prática concebeu a cápsula detonante, ainda hoje a base da indústria da dinamite e da nitroglicerina.

Estava determinado o rumo a dar às averiguações; porém, era necessária um apoio financeiro. Foi assim que, em 1861, se apresentou em Paris a um grupo de banqueiros aquele rapaz franzina, nervoso, de aspecto doentio a solicitar o financiamento das experiências que ele e seu pai faziam com um óleo «capaz de fazer voar o globo terrestre». Nada conseguiu dos banqueiros. No entanto, a história do jovem sueco chegou aos ouvidos de Napoleão III e a verdade é que, ao regressar a Estocolmo, Alfred já dispunha do crédito de um milhão de francos. Logo este crédito foi aplicado em construções, compras, pagamento de dívidas.

/ 19 / Em Maio de 1864 morriam, numa explosão, Emil, o mais novo dos Nobel e quatro empregados. O velho Emanuel baqueou, para não mais recobrar forças. Os Nobel não tinham licença para trabalhar com explosivos, pelo que, verificado que foi o desastre, logo se fez sentir a acção das autoridades. Alfred, então, mudou a fábrica para uma barcaça, ancorada num lago, e prosseguiu as actividades, pois não largava o propósito que o movia, embora estivesse arruinando a saúde.

Dentro de um ano tinha lançado quatro companhias produtoras do explosivo, em quatro países, e a Suécia aplicava o seu «caldo» nas obras de abertura de um túnel, em Estocolmo.

Mas o reinado que se augurava para a nitroglicerina estava seriamente comprometido, pois os desastres sucediam-se assustadoramente. Numa manhã de 1865 a fábrica Nobel da Noruega voava, desfeita. Poucas semanas depois, um ferroviário da Silésia pretendeu utilizar o novo explosivo para quebrar blocos de gelo; as suas pernas foram encontradas a um quilómetro de distância. Em Abril de 1866 explodiram setenta caixas de nitroglicerina a bordo dum navio atracado no Panamá, causando sessenta mortes, destruindo aquele e outro navio e danificando o próprio cais. O prejuízo foi de um milhão de dólares. Duas semanas depois, uma explosão num vagão expresso, em S. Francisco, causou quinze mortes e o desmoronamento de um quarteirão de edifícios.

Quando Alfred Nobel chegou a Nova Iorque, com o seu produto, ainda eram bem vivas as recordações destas e doutras tragédias, pelo que foi recebido com hostilidade. Todos o evitavam, a começar pelos hotéis. A uma demonstração que ele fez numa pedreira só compareceram vinte homens e, mesmo esses, guardando grande distância. Nobel começou por derramar sobre uma placa de aço um pouco do terrível óleo. Em seguida provocou um grande choque com o líquido, por meio dum martelo – os espectadores estavam todos a coberto, mas, apesar do estrondo, nada sucedeu. Explicou ele que se dera a explosão do óleo, mas este nunca se expandiria, se não estivesse preso ou confinado. Acendeu um fósforo e inflamou o líquido. Este ardeu, mas não explodiu. Durante duas horas apresentou o novo gigante, sob os diversos aspectos e terminou efectuando algumas explosões, a fim de demonstrar as aplicações práticas da nitroglicerina.

Ao escritório de Nobel começaram o afluir encomendas, pondo já ao seu alcance uma pequena fortuna, mas tudo esteve quase a fracassar. Muitos países adoptaram leis proibindo o novo explosivo; os navios e os comboios recusavam-se a transportá-lo; ninguém queria tê-lo perto de si. Havia, pois, que descobrir o processo de eliminar os perigos do manejo da nitroglicerina. Nobel conseguiu-o, se bem que ocasionalmente, segundo parece. Existe, no norte da Alemanha, uma terra leve e absorvente, denominada «Kieselguler»; aconteceu, um dia, que, vazando o conteúdo de uma lata de nitroglicerina, Nobel notou que essa terra a absorvia, como o mata-borrão chupa a tinta. Então, misturou três partes do seu caldo com uma de «Kieselguler», conseguindo, assim, anular todo o carácter perigoso da nitroglicerina e evitar os riscos do seu transporte. À nova mercadoria deu o nome de «dinamite». Ao fim de dez anos, quinze fábricas garantiam uma produção média anual de três milhões de quilogramas.

Aos quarenta anos Nobel era rico, mos nem sequer tinha um lar. Era solitário, melancólico, tinha na sua actividade industrial o porquê de viver; chamaram-lhe «o mais rico vagabundo da Europa».
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A sua correspondência era escrita em seis idiomas e, por isso, precisava de um secretário ou uma secretária. Ao seu anúncio – foi em 1876 – respondeu uma condessa boémia, Berta Kinsky, 30 anos de idade, simpática, bem educada; bem parecida, que dominava bem os seis idiomas necessários. Ela impressionou-o vivamente e também se sentiu atraída pela figura do misantropo da dinamite, mas veio  a casar com um jovem barão, Von Suttner, pelo que não chegou a tomar conta do emprego. No entanto, entre ela e Nobel firmou-se uma boa amizade.

Os Von Suttner trabalharam para a Cruz Vermelha no conflito russo-turco. Deste conflito ficaram-lhes as mais horríveis impressões sobre a guerra, o que levou Berta a escrever uma novela de condenação da guerra. Em breve assumiria uma posição de chefia num movimento a favor da paz.

Nestas condições apelou para Nobel, para que ele desse o seu apoio à campanha; com os explosivos conseguia bem mais que ela, com assembleias: quanto mais destruidoras fossem as armas, mais depressa os povos renunciariam à guerra. A princípio, levou o apelo em pilhéria, mas o entusiasmo de Berta feriu a sua sensibilidade e deu a sua adesão ao movimento. Quanto possuía, orçava em cerca de um milhão de dólares, legou-o ao movimento, para a fundação dum prémio que galardoasse quem se distinguisse na campanha em prol da paz. Posteriormente, incluiu, também, prémios de ciência e literatura. Estes prémios não eram, propriamente, louros para os trabalhadores mentais, mas um meio de os preservar das privações que lhes atormentam a vida e comprometem a actividade. As guerras, hoje, são ainda mais terríveis, mas ainda não se conseguiu a paz...

R. B.

 

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08-06-2018