Quando
pronunciamos o nome de Alfred Nobel acende-se em nós um sentimento
de admiração e de gratidão pelo homem
que teve este nome. Símbolo de perseverança, este grande homem
da ciência foi o inventor da dinamite, explosivo que, sem ser
perigoso, se revela bastante útil; a sua fortuna legou-a aos homens
ou mulheres que se distingam em
ciência, literatura ou obras em
favor da paz.
Alfred Nobel teve um nascimento atormentado: nasceu débil,
causando
as maiores apreensões e angústias, mas sua mãe tudo fez para
que o filho vingasse; felizmente, assim aconteceu, embora ele ficasse, para sempre,
franzino,
frágil e de aspecto doentia. Foi o
mais fraco dos quatro irmãos, de que foi o terceiro, mas intelectualmente em nada ficou diminuído.
Seu pai, Emanuel Nobel, lidava, havia bastantes anos, com altos explosivos e construíra uma mina naval de que a Rússia se servira
eficientemente na guerra da Crimeia.
Desde novo Alfred manifestara interesse pela actividade do pai. Em
certa altura fez uma viagem pela Europa e pela América. Conheceu,
em Paris, uma rapariga, de quem ficou desesperadamente apaixonado;
porém, ela morreu e, amargurado, compenetrou-se de que o trabalho
seria o seu quinhão de vida.
Emanuel Nobel estava convencido de que a nitroglicerina, que até
então se usava, sobretudo,
como estimulante contra doenças do coração, tinha grandes
possibilidades como explosivo; decerto explodiria em algumas
condições,
mas quais? Umas vezes, caía uma
porção de nitroglicerina contida
num vaso e nada sucedia; outras vezes, um pequeno choque originava uma tremenda explosão. Emanuel Nobel
e seu filho Alfred
propuseram-se desvendar esse mistério.
Pouco a pouco, foi Alfred
tomando a direcção das experiências, que o levaram à teoria de que o meio mais seguro de fazer
o líquido era provocar nele uma
explosão primária, retendo-o convenientemente num sólido
receptáculo; passando da teoria à prática concebeu a cápsula detonante, ainda hoje a base da
indústria da dinamite e da nitroglicerina.
Estava determinado o rumo a
dar às averiguações; porém, era necessária um apoio financeiro. Foi
assim que, em 1861, se apresentou em Paris a um grupo de banqueiros
aquele rapaz franzina, nervoso, de aspecto doentio a solicitar o
financiamento das experiências que ele e seu pai faziam
com um óleo «capaz de fazer voar o globo terrestre». Nada conseguiu
dos banqueiros. No entanto, a história do jovem sueco chegou aos ouvidos de Napoleão
III e
a verdade é que, ao regressar a
Estocolmo, Alfred já dispunha do crédito de um milhão de francos.
Logo este crédito foi aplicado em construções, compras, pagamento de
dívidas.
/
19 /
Em Maio de 1864 morriam, numa explosão, Emil, o mais novo dos
Nobel e quatro empregados. O velho Emanuel baqueou, para não mais
recobrar forças. Os Nobel não tinham licença para trabalhar com
explosivos, pelo que, verificado que foi o desastre, logo se fez
sentir a acção das autoridades. Alfred, então, mudou a
fábrica para uma barcaça, ancorada num lago, e prosseguiu as
actividades, pois não largava o propósito que o movia, embora
estivesse arruinando a saúde.
Dentro de um ano tinha lançado quatro companhias produtoras do
explosivo, em quatro países, e a Suécia aplicava o seu «caldo» nas
obras de abertura de um túnel, em Estocolmo.
Mas o reinado que se augurava para a nitroglicerina estava
seriamente comprometido, pois os desastres sucediam-se
assustadoramente. Numa manhã de 1865 a fábrica Nobel da Noruega
voava, desfeita. Poucas semanas depois, um ferroviário da Silésia
pretendeu utilizar o novo explosivo para quebrar blocos de gelo; as
suas pernas foram encontradas a um quilómetro de distância. Em Abril
de 1866 explodiram setenta caixas de nitroglicerina a bordo dum navio atracado no Panamá, causando sessenta mortes, destruindo
aquele e outro navio e danificando o próprio cais. O prejuízo foi de
um milhão de dólares. Duas semanas depois, uma explosão num vagão
expresso, em S. Francisco, causou quinze mortes e o desmoronamento de um quarteirão de edifícios.
Quando Alfred Nobel chegou a Nova
Iorque, com o seu produto, ainda
eram bem vivas as recordações destas e doutras tragédias, pelo que
foi recebido com hostilidade. Todos o evitavam, a começar pelos
hotéis. A uma demonstração que ele fez numa
pedreira só compareceram vinte homens e, mesmo esses, guardando
grande distância. Nobel
começou por derramar sobre uma placa de aço um pouco do terrível
óleo. Em seguida provocou um
grande choque com o líquido, por meio dum martelo – os espectadores
estavam todos a coberto, mas, apesar do estrondo, nada sucedeu.
Explicou ele que se dera a explosão do óleo, mas este nunca se
expandiria, se não estivesse preso ou confinado. Acendeu um
fósforo e inflamou o líquido. Este ardeu, mas não explodiu. Durante
duas horas apresentou o novo gigante, sob os diversos aspectos e
terminou efectuando algumas explosões, a fim de demonstrar as
aplicações práticas da nitroglicerina.
Ao escritório de Nobel
começaram o afluir encomendas, pondo já ao seu alcance uma pequena
fortuna, mas tudo esteve quase a fracassar. Muitos países adoptaram
leis proibindo o novo explosivo; os navios e os comboios
recusavam-se a transportá-lo; ninguém queria tê-lo perto de si.
Havia, pois, que descobrir o processo de eliminar os perigos do
manejo da nitroglicerina. Nobel conseguiu-o, se bem que
ocasionalmente, segundo parece. Existe, no norte da Alemanha, uma
terra leve e absorvente, denominada «Kieselguler»; aconteceu, um
dia, que, vazando o conteúdo de uma lata de nitroglicerina, Nobel
notou que essa terra a absorvia, como o mata-borrão chupa a tinta.
Então, misturou três partes do seu caldo com uma de «Kieselguler»,
conseguindo, assim, anular todo o carácter perigoso da
nitroglicerina e evitar os riscos do seu transporte. À nova
mercadoria deu o nome de «dinamite». Ao fim de dez anos, quinze
fábricas garantiam uma produção média anual de três milhões de
quilogramas.
Aos quarenta anos Nobel era rico, mos nem sequer tinha um lar. Era
solitário, melancólico, tinha na sua actividade industrial o porquê
de viver; chamaram-lhe «o mais rico vagabundo da Europa».
/ 20 /
A sua correspondência era escrita em seis idiomas e, por isso,
precisava de um secretário ou uma secretária. Ao seu anúncio – foi
em 1876 – respondeu uma condessa boémia, Berta Kinsky, 30 anos de
idade, simpática, bem
educada; bem parecida, que dominava bem os seis idiomas
necessários. Ela impressionou-o vivamente e também se sentiu atraída
pela figura do misantropo da
dinamite, mas veio a casar com
um jovem barão, Von Suttner, pelo que não chegou a tomar conta do
emprego. No entanto, entre ela e Nobel firmou-se uma boa amizade.
Os Von Suttner
trabalharam para a Cruz Vermelha no conflito russo-turco. Deste conflito ficaram-lhes as mais horríveis impressões
sobre a guerra, o que levou Berta a escrever uma novela de
condenação da guerra. Em breve assumiria uma posição de chefia num
movimento a favor da paz.
Nestas condições apelou para
Nobel, para que ele desse o seu apoio à campanha; com os
explosivos conseguia bem mais que ela, com assembleias: quanto
mais destruidoras fossem as armas, mais depressa os povos
renunciariam à guerra. A princípio, levou o apelo em pilhéria, mas o entusiasmo de Berta feriu a sua sensibilidade e deu a sua
adesão ao
movimento. Quanto possuía, orçava em cerca de um milhão de dólares, legou-o ao movimento, para a
fundação dum prémio que galardoasse quem se distinguisse na
campanha em prol da paz. Posteriormente, incluiu, também, prémios
de ciência e literatura. Estes prémios não eram, propriamente,
louros para os trabalhadores mentais, mas um meio de os preservar
das privações que lhes atormentam a vida e comprometem a
actividade. As guerras, hoje, são ainda mais terríveis, mas ainda
não se conseguiu a paz...
R. B.
|