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farol n.º 12 - mil novecentos e sessenta e três ♦ sessenta e quatro, pág. 11.

Desilusão... Morte...

Agostinho Vidal de Pinho

 

O astro-rei detinha-se sobre outros continentes e a nossa amiga noite cobria as casas de uma aldeia rústica. Era Janeiro. A escuridão propagava-se às coisas: as árvores eram fantasmas que, movidos pela viração que soprava, pareciam perseguir as trevas e o vento.

Todas as habitações, servidas na encosta, permaneciam tristes e silenciosas, resistindo à força dos elementos: água e ar. Água? Sim. Uma chuva pesada e pertinaz ensopava o seio da povoação. Ar? Sim. Correntes frias de vento levaram para longe as últimas folhas caídas...

Cada alma, recolhida na mão de Deus, descansava despreocupada. A aldeia dormia...

Eis que uma figura rebuçada aparece num dos caminhos enlameados e sinuosos que conduziam a um casal.

Alguém que visse aquela pessoa, homem ou mulher, que diria? Pensaria, talvez, tratar-se de um ladrão, que, aproveitando a rudeza da noite, planeou algum assalto. Não, não era um ladrão; não iria fazer o mal, mas sim ajudar um seu semelhante a atingir o Reino de Deus: era um padre.

Alguma coisa de muito sagrado levava consigo – a hóstia, conforto dos humanos católicos. Onde iria o pobre homem com tempo daqueles e àquela hora?

Caminhou, caminhou e só parou defronte de uma casa, em cujo interior se via luz.

Oscilou sob o peso da capa molhada e dos sapatos enlameados, pesados como chumbo. Sacudiu o vestuário, e bateu. Depressa uma mão correu o fecho e um corpo assumiu no limiar da porta. Surgia um rapaz, que, emocionado, pergunta: – Quem está?

O abade responde, com voz calma e tranquila: – O abade Francisco.

– Entre. Minha mãe está às portas da morte. Venha.

O padre entrou. Lá dentro vozes chorosas murmuravam orações. A fome negra da morte acabava de ceifar uma vida e nada... ao outro dia, alguém que até ai viveu, iria morar noutro mundo; iria para outra vida, não terrena, mas eterna; iria prestar contas da sua conduta na Terra ao Criador.

O tempo parecia associar-se à tristeza dos habitantes daquela aldeia. A mulher que morreu, querida de todos, passou à lista dos mortos: uma pá de terra em cima do seu caixão e nada mais... um ser humano que desapareceu...

 

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08-06-2018