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farol n.º 11 - mil novecentos e sessenta e três ♦ sessenta e quatro, págs. 15 a17.

Falando sobre o petróleo...

Alípio Baptista

O petróleo é uma mistura complexa, formada principalmente por hidrocarbonetos diversos, líquidos e sólidos. Contém igualmente impurezas várias como, por exemplo, o colesterol. A composição da mistura varia, no entanto, de região para região.

O petróleo bruto é um líquido amarelo-esverdeado, acastanhado ou negro, menos denso que a água e com um grau de viscosidade muito variável. Tem um cheiro característico, desagradável e arde com chame iluminante e quente.

O petróleo foi a princípio considerado como produto de origem mineral resultante de reacções químicas realizados no seio da litosfera.

Actualmente, porém, pensa-se que resultou de decomposição, ao abrigo do ar, e sob a acção de microorganismos anacrólios, dos constituintes gordos do sapropel, vasa acumulada no fundo do mar e de certas lagunas. A esta decomposição dá-se o nome de betuminização, pois dela resultem não só o petróleo, mas também todas as outras rochas hidrocarbonetadas.

De um modo geral o petróleo não se forma nos locais onde se vem a concentrar mas sim a uma distância maior ou menor em rochas-mães e destas emigra, em seguida, através de rochas permeáveis, até às rochas-armazéns. Para que o petróleo possa conservar, em jazigo, as suas propriedades é indispensável que as rochas-armazéns estejam recobertas por terrenos impermeáveis – rochas-cobertas – que o isolem do ar exterior, pois o petróleo é facilmente oxidável, transformando-se em asfalto, substância
viscosa com aspecto idêntico ao do pez.

O petróleo encontra-se a maior ou menor profundidade, impregnando camadas de areia ou formando bolsas subterrâneas entre camadas impermeáveis. Na parte inferior há geralmente uma camada de água salgada; sobre ela o petróleo que é menos / 16 / denso; acima deste acumulam-se gases comprimidos. constituindo uma mistura gasosa a que se dá o nome de gás natural.

Para se explorar um jazigo de petróleo perfuram-se os terrenos suprajacentes por meio de brocas até atingir o jazigo. Estes furos (furos de sonda) podem ser de umas dezenas de metros ou de alguns quilómetros de profundidade, conforme o petróleo se encontre a pequena ou grande profundidade. Se a tensão a que se encontram os gases acumulados for elevada, estes obrigam o líquido a subir no canal aberto saindo em repuxo. Não sendo a tensão suficiente, a extracção faz-se por meio de bombas.

O petróleo é, depois, conduzido por meio de canos (pipe-lines) até às oficinas de refinação, instaladas à beira-mar, percorrendo um trajecto, muitas vezes, de centenas de quilómetros de extensão.

O petróleo natural, tal como se extrai dos poços, não é utilizável; tem de ser submetido a operações de refinação que têm por fim a extracção de vários produtos mais ou menos voláteis, que serão depois utilizados pelas várias indústrias. Esta extracção faz-se por destilação fraccionada. Os diferentes produtos obtidos são ainda misturas de vários componentes.

A fracção mais volátil recolhe-se entre 40.º C e 70.º C e constitui os éteres de petróleo, que se empregam como dissolventes e na limpeza; de 70.º C e 150.º C destilam-se a gasolina e a benzina; de 150.º C a 300.º C o petróleo iluminante (o petróleo vulgar); de 300.º C a 400.º C os óleos pesados ou gasóleo utilizados nos motores Diesel; a seguir destilam-se os óleos lubrificantes mais viscosos que aqueles. A vaselina e a parafina são ainda derivados do petróleo que se obtêm por resfriamento dos óleos pesados e lubrificante, seguido de tratamentos especiais. O gás natural é utilizado como combustível.

A indústria emprega hoje técnicas que diferem bastante dos processos utilizados pelos pioneiros: todas as actividades petrolíferas sofreram notáveis transformações com o correr dos tempos.

Nascida a indústria petrolífera com a finalidade de produzir petróleo para substituir o óleo de baleia na iluminação, brevemente o petróleo se revelou material desdobrável em milhares de produtos com enormes aplicações como combustíveis ou lubrificantes, nos produtos farmacêuticos, nas perfumarias, nos plásticos, nas tintas, nos detergentes, na pavimentação de estradas (caso do asfalto), ou ainda no fabrico de borracha que hoje tem, quase completamente, a sua origem em derivados do petróleo.

O petróleo criou e fez expandir as mais diversas e vastas indústrias como os refinarias, os oleodutos, os transportes e a Petroquímica.

A indústria petrolífera é hoje uma das mais importantes indústrias / 17 / mundiais. Todos os países dependem, em certa medida, dos fornecimentos de petróleo e a economia de alguns está-lhe totalmente subordinada.

Actualmente os maiores produtores mundiais de petróleo são os Estados Unidos, a Venezuela, a Rússia, o Iraque, a Arábia e o México. Na Europa a Roménia é, depois da Rússia, o maior produtor.

Os Estados Unidos têm produzido mais de metade do petróleo consumido em todo o mundo, mas são também os maiores consumidores, ao ponto de ainda importarem petróleo.

(Conclui no próximo número)

 

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08-06-2018