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farol n.º 10 - mil novecentos e sessenta e três ♦ sessenta e quatro, págs. 22 e 23.

Aqui sertão Africano

Maria Teresa Silva
(4.° ano)


ANOITECIA! Todos a postos escutavam o menor ruído. As armas eram freneticamente seguras ou por mãos calejadas de rudes moços do campo ou bem tratadas e esguias de rapazes, uns quase médicos outros advogados, que foram obrigados a trocar a capa e a batina pela farda de soldado. Assim, fraternalmente unida, sem preconceitos de raça ou credos, esta juventude cheia de vigor enfrentava com ânimo o perigo. De dentes cerrados, ouvidos à escuta, estes jovens heróis nada temiam. De um momento para o outro podia surgir o inimigo ou mesmo talvez a morte, A tudo estavam expostos e ainda o menor tormento seria, quem sabe, embarcarem para a eternidade.

O vento assobiava raivoso! De quando em quando o pior funesto das aves nocturnas. Por ali perto, um leão, rei daquelas localidades rugia enfurecido. Ouvia-se o estalar dos ramos secos sob as pesadas patas das feras.

Era aterrador!

Eis que de repente atroa os ares o cantar sinistro das balas. Santo Deus! Estavam numa armadilha! Mas não deixariam de lutar. Como poderia o desânimo penetrar nas almas corajosas e decididas como destes jovens heróis?

Não! Custasse o que custasse, mesmo a própria vida, defenderiam a Pátria, com o vivo entusiasmo, próprio da gente moça. Seguindo o exemplo dos nossos nobres antepassados arriscariam tudo em defesa das cores da nossa Bandeira.

Continuava o diabólico zumbir da metralha como se fora uma toada de morte. Da boca  de cada um, subia ao Céu uma prece, implorando a Deus o Seu Divino auxílio. Aninhados e protegidos pelo espesso matagal os nossos homens empenhavam-se em distribuir a morte no campo inimigo. De crenças esquisitas os terroristas não temiam a morte. Mas muito menos os nossos que se atiravam com a fúria dos leões, peito feito às balas, em defesa de um ideal: Pátria. Ouviam-se por vezes gemidos de dor, mas a luta continuava. Antes morrerem do que serem vencidos!

Só mais tarde, quando a escuridão começou a ser substituída pela ténue claridade da manhã, é que deixou de se / 22 / ouvir a terrível sinfonia. Os terroristas desapareceram no emaranhado dos matos, tão misteriosamente como haviam surgido. Os nossos, hirtos, de faces enrugadas, olhavam atónitos o quadro: manchas de sangue na areia, prostrados no chão os feridos contorciam-se de sofrimento. Depois de prestados os possíveis socorros aos feridos, regressaram com a alma enlutada por aqueles que haviam perdido a vida no feroz com bate, mas em paz com as consciências pela satisfação do dever cumprido.

O sol tinha por fim vencido as trevas e iluminava a floresta em toda a sua magnificência. O vento tinha acalmado! O silêncio que envolvia a imensa selva era apenas interrompido pelos pesados passos dos soldados que regressavam após dura peleja.

Primeiro as trevas, a escuridão, a luta, depois o sol radioso. Também para Portugal, depois da hora da luta, virá a Glória do Triunfo.

 

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08-06-2018