Eunice Barreto Malaquias
(6.º ano)
UMA meiga claridade irradiada da
lareira dispersava-se por aquele modesto aposento.
Sentado à beira do lume
com uma orfãzinha ao
colo e o olhar fixo naquelas chamas débeis, a avó tinha um aspecto de
compenetrada meditação.
Pairava um profundo silêncio. A neta,
aquele corpinho tenro que a infelicidade bafejara, absorta nos seus pensamentos infantis,
sorria para as brasas que não tardariam a extinguir-se. No entanto,
aquela aparente apatia era quebrada pela vozita doce do criança,
que perguntava:
«... e Jesus não tinha medo das ovelhinhas, Vovó?»
A sua curiosidade não
tinha sido satisfeita. Ela estava preocupada com a história que a
bondosa senhora lhe contara sobre
Natal.
Esquecendo um pouco a mágoa que
era forçada a suportar
completamente só e afagando os cabelos daquela cabecita dourada, a
avó repetia a história do nascimento de Jesus Cristo.
...E tantas vezes a contou, que
a neta, vencida pelo sono, adormeceu a sorrir.
A luz afrouxava ainda mais. A neve não cessava de cair.
O vento soprava cada vez mais fortemente...
E enquanto noutras casas,
as avós riem junto dos netos que, de
contentes, batiam palmas à volta dos presépios ou das árvores de Natal,
aquela, chorando beijava a que considerava filha...
Como presente, oferecia-lhe
as pérolas mais preciosas que existem – as lágrimas dum coração despedaçado. |