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farol n.º 10 - mil novecentos e sessenta e três ♦ sessenta e quatro, pág. 13.

contraste de Natal

Eunice Barreto Malaquias
(6.º ano)


UMA meiga claridade irradiada da lareira dispersava-se por aquele modesto aposento.

Sentado à beira do lume com uma orfãzinha ao colo e o olhar fixo naquelas chamas débeis, a avó tinha um aspecto de compenetrada meditação.

Pairava um profundo silêncio. A neta, aquele corpinho tenro que a infelicidade bafejara, absorta nos seus pensamentos infantis, sorria para as brasas que não tardariam a extinguir-se. No entanto, aquela aparente apatia era quebrada pela vozita doce do criança, que perguntava:
«... e Jesus não tinha medo das ovelhinhas, Vovó?»

A sua curiosidade não tinha sido satisfeita. Ela estava preocupada com a história que a bondosa senhora lhe contara sobre Natal.

Esquecendo um pouco a mágoa que era forçada a suportar completamente só e afagando os cabelos daquela cabecita dourada, a avó repetia a história do nascimento de Jesus Cristo.

...E tantas vezes a contou, que a neta, vencida pelo sono, adormeceu a sorrir.

A luz afrouxava ainda mais. A neve não cessava de cair. O vento soprava cada vez mais fortemente...

E enquanto noutras casas, as avós riem junto dos netos que, de contentes, batiam palmas à volta dos presépios ou das árvores de Natal, aquela, chorando beijava a que considerava filha...

Como presente, oferecia-lhe as pérolas mais preciosas que existem – as lágrimas dum coração despedaçado.

 

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08-06-2018